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terça-feira, 22 de março de 2016

O ESTADO ISLÂMICO E USO DE CRIANÇAS PARA FAZER A GUERRA SANTA

Propaganda
Imagens de soldados infantis povoam os vídeos do EI

O artigo abaixo foi escrito por Mark Townsend do jornal britânico The Observer e foi traduzido e publicado em português pelo site da revista Carta Capital.

A doutrina da carnificina do Estado Islâmico
Como o ISIS recruta e treina crianças para a sua jihad
Por Mark Townsend do The Observer

Uma nova geração de recrutas está em treinamento no “califado” do Estado Islâmico, doutrinados com conceitos religiosos desde o nascimento e vistos pelos combatentes como melhores e mais puros do que eles próprios. Eis a conclusão do primeiro estudo sobre a exploração e o abuso de crianças pelo EI.

Pesquisadores do Quilliam, centro de pensadores contra o extremismo em Londres, investigaram o modo como o EI recruta crianças e as treina para a jihad. O relatório, intitulado Crianças do Estado Islâmico, foi endossado pela ONU e compilado em um estudo da propaganda do grupo que mostra menores e ligado a fontes confiáveis no califado. Percebe-se um movimento terrorista ávido para atrair jovens e assim se perpetuar. Muitos são treinados como espiões, pregadores, soldados, “executores” e bombas humanas.

Segundo os autores, “a organização dedica grande parte de seus esforços a doutrinar crianças por meio de um currículo educacional baseado no extremismo e a criá-las para ser futuros terroristas. A geração atual de combatentes as vê como guerreiros melhores e mais letais que eles próprios, pois, em vez de convertidos a ideologias radicais, elas foram doutrinadas nesses valores desde o nascimento ou de uma idade muito precoce”.

Sem terem sido corrompidos pela vida nos padrões seculares, os menores são considerados mais puros do que os combatentes adultos. “Essas crianças são salvas da corrupção”, declara o estudo, tornando-as mais fortes que os atuais mujaheddin pelo fato de terem uma compreensão superior do Islã desde a juventude e pelo currículo escolar, e são lutadores melhores e mais brutais, treinados na violência desde a tenra idade.

Os recrutas estrangeiros representam um reforço potencialmente importante para o grupo de cerca de 80 mil militantes (50 mil na Síria e 30 mil no Iraque). Estima-se que 6 milhões de homens, mulheres e crianças vivam atualmente no autoproclamado Califado. “O objetivo é preparar uma nova geração, mais forte, de mujaheddin, condicionados e ensinados a ser um futuro recurso para o grupo”, acrescenta o relatório.

O enfoque nos jovens tem semelhanças, segundo o estudo, com o recrutamento forçado de crianças-soldados na Libéria nos anos 1990, quando Charles Taylor tomou o poder, em 1997, secundado por um exército rebelde repleto de crianças.

Os autores concluem que o EI também parece ter estudado o regime nazista, que criou a Juventude Hitlerista. A ONU recebeu relatos verossímeis, mas não verificados, sobre uma ala jovem do EI chamada Fityan al-Islam (Meninos do Islã).  Os autores lembram ainda o precedente do regime baathista de Saddam Hussein no Iraque, que no fim dos anos 1970 fundou o movimento Futuwah (Vanguarda Jovem) com as principais unidades de crianças-soldados iraquianas conhecidas como Ashbal Saddam, ou Filhotes de Leão de Saddam, formadas por meninos de 10 a 15 anos.
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Os menores são estimulados a jogar futebol com cabeças decapitadas (Foto: Reprodução)

Os pesquisadores do Quilliam descobriram que menores são usados amplamente na propaganda do EI para dar a impressão de “construção de um Estado”. Entre 1º de agosto de 2015 e 9 de fevereiro passado, eles identificaram ao todo 254 eventos ou declarações que apresentam imagens de crianças.

O EI utiliza os jovens para tentar banalizar a brutalidade. O grupo os incentiva a segurar cabeças decapitadas ou jogar futebol com elas. Nos últimos seis meses, a propaganda do Estado Islâmico mostrou 12 crianças assassinas. Um vídeo macabro recente exibe um menino britânico de 4 anos que aparentemente detona um carro-bomba e mata quatro supostos espiões presos no veículo.

O recrutamento de crianças com frequência envolve coerção, segundo o relatório. O rapto seria o método preferido. A missão de assistência da ONU para o Iraque estima que o EI sequestrou entre 800 e 900 crianças de 9 a 15 anos. De agosto de 2014 a junho de 2015, centenas de meninos, incluídos yazidis e turcomenos, foram arrancados à força de suas famílias em Nínive e mandados para centros de treinamento, onde garotos de apenas 8 anos aprendem o Alcorão, o uso de armas de fogo e táticas de combate.

A organização também recorre ao medo para recrutar. Canais de mídia do Califado emitem declarações que advertem as crianças de que, caso se recusem a obedecer às ordens do EI, serão açoitadas, torturadas ou estupradas.

O grupo extremista rapidamente tomou o controle do sistema educacional na Síria e no Iraque, e a doutrinação começa nas escolas e se intensifica nos campos de treinamento. Nestes, crianças entre 10 e 15 anos são instruídas na sharia, a lei islâmica, expostas à violência e treinadas em técnicas específicas para servir ao Estado e assumir a jihad.

Os meninos aprendem um rígido currículo do EI, do qual foram removidos desenho, filosofia e estudos sociais, descritos como “metodologia do ateísmo”. As crianças decoram versículos do Alcorão e frequentam treinamentos para a jihad, que inclui tiro, manuseio de armas e artes marciais. As meninas, chamadas de “pérolas do califado”, usam véus, são escondidas e confinadas em casa e aprendem a cuidar dos homens.

Os autores do relatório recomendam a criação de uma comissão para proteger as futuras gerações da violência radical e monitorar e reintegrar as crianças que correm risco na União Europeia. Segundo Roméo Dallaire, porta-voz da Iniciativa de Soldados-Crianças que coescreveu o relatório, a vida sob o Estado Islâmico é uma das mais graves situações para menores no planeta. “Espera-se que esse relatório ofereça uma perspectiva crítica sobre a sina desses jovens”, afirma. “Talvez suscite reflexões essenciais para os políticos, órgãos de proteção à infância, governos, organizações multilaterais e os envolvidos em encerrar o conflito no Iraque e na Síria.”

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

*Publicado originalmente na edição 892 de Carta Capital, com o título "A doutrina da carnificina"

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terça-feira, 26 de maio de 2015

PARA AJUDAR VOCÊ A ENTENDER O GRUPO ISIS


 

O artigo abaixo foi publicado pela revista ÉPOCA.

O califa da barbárie

Abu Bakr al-Baghdadi o líder do mais temível grupo fundamentalista do mundo, leva a selvageria e o terror a um novo nível

Por RODRIGO TURRER E FILLIPE MAURO

 ATROCIDADE Baghdadi, num sermão em julho, no Iraque. Seu grupo usa crucificações e estupros como armas de terror (Foto: AP)
ATROCIDADE Baghdadi, num sermão em julho, no Iraque. Seu grupo usa crucificações e estupros como armas de terror (Foto: AP)

Abu Bakr al-Baghdadi é um homem discreto e misterioso. Apenas duas fotos suas são conhecidas: uma de 2005, quando ele ainda era um jovem aspirante a jihadista, detido em uma prisão americana no Iraque. A outra, mais recente, é de uma rara aparição pública, em julho deste ano. Trajando túnica e turbante pretos, com uma longa barba, que invocam o mítico início do islamismo, Baghdadi deu um sermão de meia hora na grande mesquita de Mossul, a maior cidade do Iraque tomada pelo grupo fundamentalista liderado por ele, o Estado Islâmico (IS, na sigla em inglês, anteriormente chamado de Isis, Estado Islâmico do Iraque e Levante). Na ocasião, Baghdadi se autoproclamou “o novo califa Ibrahim, emir dos crentes no Estado Islâmico”. Em voz suave e monocórdia, conclamou os muçulmanos a obedecer-lhe enquanto ele “obedecer a Deus” e convidou “médicos, engenheiros, juízes e especialistas em jurisprudência islâmica” a se juntar a ele.

Unir-se a Baghdadi significa dar um passo além da usual selvageria dos extremistas. Em fevereiro, à medida que o Isis crescia e avançava, a rede terrorista al-Qaeda rompeu com o grupo, por considerar suas táticas excessivamente agressivas. É prática comum de seus militantes é atacar a população civil, eviscerar os capturados, estuprar mulheres e crucificar vivos os adversários. Baghdadi, o mentor da barbárie, tornou-se num ano o jihadista mais poderoso do planeta. À frente do Isis,  conquistou territórios na Síria e no Iraque, apagou a fronteira entre os dois países e arrebatou o apoio da maioria dos sunitas da região. Estima-se que o IS tenha agora ativos de mais de US$ 2 bilhões, graças ao controle de poços de petróleo nos dois países.

Baghdadi começou a sair das sombras no verão de 2010, quando se tornou líder da al-Qaeda no Iraque (AQI), de orientação religiosa sunita. A estratégia anti-insurrecional americana, combinada a rivalidades entre grupos muçulmanos, levou ao colapso da rebelião sunita contra as tropas dos Estados Unidos. A AQI perdeu relevância e quase desapareceu. Baghdadi foi a figura central no renascimento do grupo. É o responsável pelas estratégias e táticas militares que renderam vitórias ao Isis. O verdadeiro nome de Baghdadi é Awwad Ibrahim Ali al-Badri al-Samarrai. Ele nasceu em 1971, perto de Samarra, uma cidade 100 quilômetros ao norte de Bagdá. Pouco se sabe sobre sua infância. Na juventude, cursou graduação em estudos islâmicos, incluindo poesia, história e genealogia, na Universidade Islâmica de Bagdá. Depois, fez mestrado e doutorado em estudos islâmicos na Universidade de Ciências Islâmicas de Adhamiya. Quando os EUA invadiram o Iraque, em março de 2003, Baghdadi já era militante islamista e pregava na província de Diyala. No começo da ocupação americana, manteve seu próprio grupo armado, com 50 a 100 combatentes.

Em 2005, Baghdadi foi capturado pelo Exército americano em Falluja. Foi considerado um prisioneiro de pouca importância e encarcerado no centro de detenção de Camp Bucca, no sul do Iraque. O comandante do centro de detenção disse em entrevista à rede americana NBC que jamais imaginara que aquele homem se tornaria um líder e uma ameaça global. “Ele era um mero arruaceiro”, afirmou o coronel Ken King. “Nem com uma bola de cristal seria possível prever que ele se tornaria o pior dos piores.” Na prisão, Baghdadi teve contato com terroristas da al-Qaeda. Ao ser libertado, em 2009, voltou mais forte às atividades extremistas. Foi recrutado para o conselho militar do Estado Islâmico do Iraque (ISI), a nova versão da al-Qaeda no Iraque (AQI). Era considerado um conselheiro-chave para o então líder do grupo, Abu Omar al-Baghdadi.

Quando Abu Omar foi morto, Abu Bakr al-Baghdadi se tornou o líder natural do grupo, em abril de 2010. A partir daí, o Isis se reorganizou. Distribuía relatórios de atividades com listas de operações em cada província do Iraque. O novo líder começou a transformar uma filial local da al-Qaeda numa força distinta e independente, com uma agenda clara: criar um estado islâmico radical sunita no Iraque e na Síria. Seria seu califado. Baghdadi insistia no extremo sigilo. Não queria se revelar. Poucos conheciam sua verdadeira identidade ou localização. Prisioneiros da AQI dizem que jamais o viram, porque ele sempre usou máscara.

A discrição foi o segredo de seu sucesso. Ao contrário de outros líderes, evitou gravar e distribuir vídeos com mensagens grandiloquentes. “Quando você começa a fazer vídeos e a aparecer, aumenta as chances de ser capturado”, afirma Patrick Skinner, ex-agente da CIA e analista do Soufan Group, uma consultoria de segurança. “Baghdadi atua há cinco anos. Para um terrorista, isso é como os anos de vida de um gato. É muito tempo.” Em 2011, Baghdadi entrou para a lista de terroristas do governo americano, que oferece uma recompensa de US$ 10 milhões a quem der informações que levem à sua morte ou captura. Ele queria assumir a liderança da al-Qaeda, mas foi o egípcio Ayman al-Zawahiri quem sucedeu Bin Laden.

A SANGUE-FRIO Cena do vídeo com a degola do jornalista James Foley. Se não for combatido,  o grupo IS espalhará mais rapidamente suas táticas (Foto: Reprodução)
A SANGUE-FRIO Cena do vídeo com a degola do jornalista James Foley. Se não for combatido, o grupo IS espalhará mais rapidamente suas táticas (Foto: Reprodução)

Baghdadi nunca aceitou o poder de Zawahiri. Em cartas trocadas pelos dois, interceptadas pela inteligência americana, Baghdadi dizia não reconhecer a autoridade de Zawahiri. Desafiando suas ordens de se concentrar no Iraque, Baghdadi decidiu ampliar as ações do grupo sobre a Síria. Entrou na luta contra o ditador sírio Bashar al-Assad, ao mesmo tempo que combatia os militantes da Frente Jabhat al-Nusra, a afiliada da al-Qaeda na Síria. No ano passado, derrotou a Jabhat al-Nusra e assumiu o comando de grande porção de território no norte da Síria. Em seguida, montou uma base na cidade síria de Raqaa, que deu a ele comando sobre campos petrolíferos. A al-Qaeda rompeu com o grupo, mas Baghdadi conseguiu uma vitória, ao menos temporária. Em seis meses, estabeleceu um califado entre Iraque e Síria. Na região, prevalece uma interpretação radical da lei islâmica, em que os inimigos são decapitados, e os ladrões e adúlteros, açoitados. O IS ameaçava exterminar minorias religiosas como cristãos, yazidis e shabaks xiitas. Não estava longe de Bagdá, a capital do Iraque, um país frágil e em reconstrução após a ocupação americana de oito anos, até 2011. Por isso, os EUA reagiram. Nas últimas semanas, voltaram a agir no Iraque e bombardearam as posições do IS.

Na semana passada, o IS deu mais uma prova ao mundo do que é capaz. Num vídeo divulgado pela internet em 19 de agosto, um militante do IS, encapuzado e vestido de preto, no meio do deserto, aparece ao lado de um homem de meia-idade, vestido de laranja, ajoelhado. O prisioneiro era o jornalista americano James Foley, sequestrado pelo grupo havia dois anos. “Gostaria de ter a esperança da liberdade e de poder ver minha família mais uma vez. Mas este navio já zarpou”, foram as últimas palavras de Foley. O carrasco do jornalista, um sujeito alto e com forte sotaque britânico, afirma que os verdadeiros assassinos de Foley são os EUA, que atacaram os muçulmanos ao bombardear o IS. Diz que “tudo o que acontecerá é resultado da complacência e criminalidade” dos americanos. Por fim, decapita Foley com uma faca.

O principal alvo do ato bárbaro não eram os amigos e familiares de Foley, mas sim os EUA e o presidente americano Barack Obama. Há pouco mais de 12 anos, radicais islâmicos da al-Qaeda deram uma mostra semelhante de selvageria. Em 22 de fevereiro de 2002, o consulado americano em Karachi, no Paquistão, recebeu o vídeo da execução de Daniel Pearl, repórter do jornal americano The Wall Street Journal. Pearl fora sequestrado um mês antes por militantes locais e entregue para a rede al-Qaeda. Seu executor foi o superterrorista Khalid Sheikh Mohammed, mais tarde capturado e hoje sob custódia militar americana em Guantánamo.

Na ocasião, os americanos organizaram uma operação de grande escala para capturar Sheikh Mohammed. Consideraram que era a resposta adequada à execução de Pearl. Nas próximas semanas, os EUA enviarão mais tropas ao Iraque. Militares americanos cogitam a viabilidade de derrotar o IS sem bombardear o grupo na Síria, pois isso poderia fortalecer oponentes do IS também incômodos, entre eles o ditador Bashar al-Assad. Na semana passada, Obama condenou a execução de Foley. Ao comentar a atrocidade, disse que o IS “não tem espaço no século XXI” e “age como um câncer”. Para as potências ocidentais, impedir a metástase é uma empreitada necessária – e extremamente difícil.

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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

PARA ENTENDER O BOKO HARAM E O EXTREMISMO ISLÂMICO


O artigo abaixo foi publicado no site da Revista ÉPOCA e é de autoria de Bruno Calixto com mapas de Giovana Tarakdjian

Boko Haram e um massacre que pode ser visto por satélite

Grupo extremista sequestra meninas, controla vilarejos e promove atentados na Nigéria. Como surgiu e quais são as táticas do Boko Haram, que construiu um "Estado Islâmico" na África?

BRUNO CALIXTO (TEXTO), GIOVANA TARAKDJIAN (MAPA)

Imagem de satélite divulgada pela Anistia Internacional mostra estruturas queimadas após ataque do Boko Haram a uma base militar em Baga, Nigéria (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)
Imagem de satélite divulgada pela Anistia Internacional mostra estruturas queimadas após ataque do Boko Haram a uma base militar em Baga, Nigéria (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)

Um massacre de proporções ainda não determinadas aconteceu no começo do ano, no dia 3 de janeiro, na Nigéria. O Boko Haram - o mesmo grupo que sequestrou centenas de meninas de uma escola nigeriana - atacou o vilarejo de Baga e pode ter matado de 150 a até 2 mil pessoas, além de atear fogo em toda a cidade. Imagens de satélite divulgadas nesta quinta (15) mostram um quadro de ampla destruição. Com o ataque, o Boko Haram passa a controlar ainda mais território, e mostra estar disposto a táticas cada vez mais brutais. Como surgiu esse grupo e o que ele quer?

Área de influência do Boko Haram na Nigéria (Foto: Giovana Tarakdjian/ÉPOCA)

Área de influência do Boko Haram na Nigéria (Foto: Giovana Tarakdjian/ÉPOCA)

O nascimento do Boko Haram

O Boko Haram surgiu em 2002 em Maiduguri, capital do Estado de Borno, na Nigéria. Borno, no nordeste do país, é uma das regiões mais empobrecidas da Nigéria. Além disso, conta com maioria da população muçulmana, enquanto que no restante do país a religião predominante é o cristianismo. O grupo foi criado pelo Mohammed Yusuf, clérigo islamista formado na Árabia Saudita, com o objetivo de transformar a Nigéria em um Estado islâmico que siga as leis da sharia. Inicialmente, o grupo se chamava Jama’a Ahl as-Sunna Li-da’wa wa-al Jihad, que significa "Pessoas comprometidas com a propagação dos ensinamentos do profeta e com a Jihad" em árabe. Com o tempo, ele ficou conhecido pelo apelido na língua local. "Boko" é a palavra usada para se referir às escolas e ao sistema educacional do Ocidente, e "Haram" significa proibido.

Yusuf era um clérigo do islamismo sunita, o maior ramo do Islã – mais de 80% dos muçulmanos no mundo são sunitas. Dentro desse ramo, ele pertencia à escola do salafismo. Os salafistas pregam o retorno das práticas do início do islamismo. A corrente defende posições extremamente conservadoras sobre o papel da mulher na sociedade, sobre a obrigatoriedade de seguir a religião, e proíbe fazer imagens de Maomé ou venerar monumentos de profetas. Muitos grupos terroristas, como a Al Qaeda ou o Taleban, nasceram dessas interpretações extremas.

Nos seus anos iniciais, o Boko Haram não participou de atos violentos nem usou de estratégias terroristas. Yusuf considerava o governo da Nigéria como ilegítimo, mas não se envolveu em ataques diretos até pelo menos 2009.

Uma revolta contra capacetes de motocicletas

Em julho de 2009, o governo da Nigéria aprovou uma lei obrigando todos os motoristas de motocicletas a usar capacetes. A lei não foi aceita pelos seguidores de Yusuf. A polícia agiu com brutalidade contra o grupo, o que resultou em uma revolta armada que se espalhou por quatro Estados do norte da Nigéria. O Exército nigeriano reprimiu o levante, que terminou com 800 mortos. Yusuf foi capturado e executado com transmissão ao vivo pela TV. Na época, grupos de direitos humanos acusaram o Exército de execuções extrajudiciais de clérigos do grupo.

A partir desse incidente, o Boko Haram começou a se radicalizar. Analistas acreditam que, entre 2009 e 2010, muitos de seus membros foram para a região do Sahel, a sul do deserto do Saara, onde foram treinados por grupos jihadistas. Foi provavelmente nessa época que eles fizeram os primeiros laços com a Al Qaeda no Magreb Islâmico, o braço da rede terrorista que atua na África. A primeira grande ação terrorista foi executada em setembro de 2010, quando eles orquestraram uma fuga massiva de uma prisão, libertando centenas de presos.

O líder que volta dos mortos

O líder do grupo terrorista Boko Haram, Abubakar Shekau, que atua na Nigéria (Foto: Reprodução/AP)
O líder do grupo terrorista Boko Haram, Abubakar Shekau, que atua na Nigéria (Foto: Reprodução/AP)

Com a morte Yusuf, a liderança foi assumida por Abubakar Shekau, um nigeriano que ora é classificado como um teólogo islâmico poliglota, ora como "comandante louco". A vida de Shekau é cercada de mistérios. Ninguém sabe quando ele nasceu, e ninguém sabe sequer se ele continua vivo. O Exército nigeriano já anunciou a morte do comandante em pelo menos três ocasiões, mas depois ele sempre volta a aparecer em vídeos, renovando as ameaças. Uma das aparições recentes foi quando ele assumiu a autoria do sequestro de centenas de estudantes em Chibok.

Sob seu comando, o Boko Haram se tornou mais cruel. O grupo fez seu primeiro atentado internacional, desenvolveu táticas de carros-bomba e passou a controlar grande número de vilarejos no nordeste da Nigéria.

Ainda assim, para algumas autoridades nigerianas, Shekau simplesmente não existe. Eles acreditam que o nome se tornou uma "marca" ou "título", adotado por diferentes lideranças de grupos internos do Boko Haram, como uma forma de criar um mito em torno do líder. Segundo essa tese, o homem que aparece nos vídeos é um sósia.

O sequestro das alunas de Chibok

Reprodução de vídeo feito pelo grupo terrorista Boko Haram mostra mais de 100 meninas que, segundo o grupo, fazem parte das meninas sequestradas em Chibok, norte da Nigéria (Foto: Reprodução/AP)

Reprodução de vídeo feito pelo grupo terrorista Boko Haram mostra mais de 100 meninas que, segundo o grupo, fazem parte das meninas sequestradas em Chibok, norte da Nigéria (Foto: Reprodução/AP)

A partir de 2012, o grupo passou a se concentrar em ataques a escolas. Novamente, o nível de brutalidade foi crescendo com o passar do tempo. No começo, integrantes do Boko Haram focavam na destruição das propriedades de universidades e escolas. Os ataques ocorriam sempre à noite, quando não havia alunos ou professores. No ano seguinte, Shekau anunciou que as universidades participavam de um "complô contra o Islã" e ameaçou matar alunos e professores. A partir daí, os níveis de presença nas escolas do interior caíram de forma gigantesca.

Em abril de 2014, o sequestro de mais de 200 alunas que se preparavam para fazer uma prova em uma escola em Chibok foi uma das operações mais ousadas do grupo. O caso atraiu a atenção do mundo, com dezenas de manifestações e cobertura da imprensa. Ainda assim, o governo da Nigéria foi incapaz de libertar as meninas. A incompetência das autoridades nigerianas foi provavelmente um sinal verde para o Boko Haram se tornar ainda mais ousado.

Um massacre visto por satélite

Imagem divulgada pela Anistia Internacional mostra o antes e o depois do Boko Haram a Baga, Nigéria. Na imagem de baixo, é possível observar estruturas queimadas pelo grupo terrorista (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)

Imagem divulgada pela Anistia Internacional mostra o antes e o depois do Boko Haram a Baga, Nigéria. Na imagem de baixo, é possível observar estruturas queimadas pelo grupo terrorista (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)

A primeira imagem mostra a cidade no dia 2 de janeiro. Na de baixo, do dia 7 de janeiro, é possível observar estruturas queimadas pelo grupo terrorista. A foto foi tirada por um satélite que usa cor infravermelho. As figuras em vermelho indicam árvores e vegetação (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)

Em agosto do ano passado, Shekau deu um passo decisivo em busca de controle territorial. Ele anunciou o estabelecimento de um "Califado Islâmico" na região de Borno e no norte da Nigéria, similar ao que o Estado Islâmico fez na Síria e no Iraque. A partir de então, os ataques a vilarejos e confrontos com as forças armadas começaram a se tornar mais frequentes. Um dos poucos vilarejos que não caíram foi Baga, que abrigava uma base militar multinacional com tropas da Nigéria, Niger e Chad.

Isso mudou na manhã do dia 3 de janeiro. A BBC e o Guardian escutaram testemunhas do ataque. Os homens do Boko Haram chegaram em caminhões, vindo de todas as direções. Logo começaram a atirar. Os soldados da base em Baga reagiram. Foram cerca de nove horas de confronto, quando enfim os soldados, vendo que estavam perdendo a batalha, jogaram suas armas no chão e bateram em retirada. Nenhum reforço do Exército nigeriano chegou ao local.  "Quando você vê soldados fugindo da cidade, o que você pode fazer além de fugir também?", disse uma testemunha à BBC.

Quando o Boko Haram tomou o vilarejo, começou a barbárie. Os sobreviventes que fugiram da cidade disseram ver pilhas e mais pilhas de corpos nas ruas. Segundo os relatos, os terroristas atiraram em civis indiscriminadamente – incluindo mulheres e crianças, cristãos e muçulmanos. Depois, saquearam as casas e mercados e atearam fogo em todo o vilarejo. Segundo a Anistia Internacional, o número de mortos pode chegar a 2 mil pessoas. Já o governo nigeriano fala em "cerca de 150 de vítimas". O número não pode ser confirmado porque o Estado nigeriano simplesmente não tem condições de chegar ao local para contar os corpos.

Nesta quinta (15), a Anistia publicou fotos de satélites mostrando o que sobrou de Baga e de outro vilarejo atacado, Doron Baga. Segundo a organização, é possível identificar um total de 3.700 estruturas destruídas. "De todos os assaltos do Boko Haram que analisamos, esse foi o maior e o mais destrutivo. Representa um ataque deliberado a civis. Suas casas, clínicas e escolas agora estão em ruína", disse Daniel Eyre, da Anistia Internacional.

E agora?

O massacre demorou a chegar aos jornais, mas quando veio a público, causou incômodo. Mais de um milhão de pessoas se manifestaram contra a violência no caso dos atentados terroristas da França, que mataram 17 pessoas, e a morte de centenas de nigerianos não estava atraindo a atenção. Organizações como a ONU e até celebridades pediram mais atenção ao caso. Críticas pesadas caem sobre o governo do presidente Goodluck Jonathan. Ele é acusado de não agir de forma convincente contra o Boko Haram, já que os extremistas atuam em áreas em que os políticos de oposição ao seu governo são mais fortes. Autoridades nigerianas disseram que as Forças Armadas do país serão mobilizadas para enfrentar os insurgentes. Enquanto isso, Jonathan anuncia sua candidatura à reeleição. No anúncio, ele não falou uma palavra sobre o Boko Haram, o massacre de Baga ou sobre as meninas sequestradas no ano passado.
O artigo original da revista Época poderá ser visto por meio do link abaixo:


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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

ISRAEL A CAMINHO DA AUTODESTRUIÇÃO


 Benjamin Netanyahu
Benjamin Netanyahu durante entrevista coletiva em 1º de dezembro: ele faz mais um aceno para os extremistas. Baz Ratner / AFP

ISRAEL A CAMINHO DA AUTODESTRUIÇÃO

As recentes decisões adotadas pelo liderança de direita e de extrema direita em Israel não devem surpreender a ninguém. Elas são parte de um gigantesco arsenal que os nazistas instalados no poder daquele PIS têm dentro de muitas gavetas, esperando apenas a hora e a motivação certa para serem implementadas. Essas últimas às quais nos referimos foram colocadas em prática logo depois do lamentável assassinato de alguns israelenses em uma sinagoga por um Palestino.

Para entender melhor o que tais mudanças significam estamos publicando abaixo o artigo escrito pelo jornalista Antônio Luis M. C. da Costa para a Revista Carta Capital.

Israel, rumo ao apartheid

Para agradar à ultradireita, projeto do governo coloca o judaísmo de Estado acima da democracia e dos direitos humanos
por Antonio Luiz M. C. Costa

Dizer que Israel é um “Estado Judeu” pode soar trivial, mas não é. A expressão consta da Declaração de Independência, mas sem uma definição clara. O conceito de “judeu” é problemático e seus primeiros líderes se queriam modernos e laicos, mesmo se não se importavam se isso soava às minorias tão ofensivo quanto seria os Estados Unidos se proclamarem “Estado Anglo-Saxão Protestante” ou o Brasil “Estado Eurodescendente Católico”.

Na prática, isso não impediu Tel-Aviv de tratar como cidadãos de segunda classe os não judeus, principalmente os árabes que não conseguiu expulsar em 1948. Os cidadãos são oficialmente classificados por “le’om”, “etnia”: “judeu” para os cidadãos de primeira classe, “russo”, “francês” e assim por diante para filhos de judeus laicos casados com não judias e não convertidos por rabinos ortodoxos, “árabe”, “druso” ou “beduíno” para os nativos, um quarto da população. Esse item deixou de ser exigido nas carteiras de identidade em 2005, mas permanece no registro civil e, para deixar clara a distinção, só os judeus têm na carteira a data de nascimento pelo calendário judaico. Não há casamento civil, o que torna impossível o casamento misto se um dos noivos não se converter. Vários direitos sociais exigem o cumprimento do serviço militar, permitido aos “drusos”, mas não aos “árabes” israelenses. Vale notar ainda a invenção em 2014 da etnia “arameu” para cristãos que não querem ser identificados como árabes e se dispõem a servir no Exército para desfrutar de mais direitos.

A Organização para a Libertação da Palestina reconheceu Israel em 1993, porém desde 2006 Tel-Aviv faz de seu não reconhecimento como “Estado Judeu” um novo pretexto para não avançar nas negociações de paz. O significado disso não era claro, mas a Palestina resistiu por entender que aceitar a exigência implicava a renúncia incondicional ao direito dos seus compatriotas expulsos em 1948 de retornar ou serem adequadamente indenizados.

Agora, Benjamin Netanyahu aprovou e submeterá ao Parlamento uma proposta explícita de proclamar um “Estado Judeu”. Foi rejeitada por 6 dos 20 ministros, inclusive a titular da Justiça, Tzipi Livni, e o da Fazenda, Yair Lapid, líderes dos respectivos partidos, e criticada pelo presidente Reuven Rivlin, do mesmo partido Likud do primeiro-ministro. Este, mesmo assim, exige o reconhecimento do país nesses termos como base para negociar a paz. Para ele, trata-se de galvanizar a direita radical em torno de seu projeto e convocar novas eleições que lhe permitam dispensar os centristas.

Segundo as três propostas da bancada governista a serem unificadas por Netanyahu, “o direito à autodeterminação no Estado de Israel pertence apenas ao povo judeu” e o país é definido como “fundado de acordo com a visão dos profetas de Israel”. O Estado deve impor o ensino da história, cultura e costumes judeus nas escolas judias, estabelecer o Sabbath como dia de repouso, fortalecer os laços com a Diáspora judia e “proteger e resgatar” judeus em perigo por todo o mundo. Deve ainda “manter os direitos individuais de todos os cidadãos de acordo com a lei”, mas o país não tem uma Constituição para garantir a igualdade dos direitos individuais, muito menos dos coletivos. A proposta autoriza os não judeus a preservar sua religião e cultura em caráter pessoal, embora sem nenhum apoio oficial.

Duas das propostas acrescentam que “a lei judia deve guiar os legisladores e juízes”, uma contrapartida exata da exigência dos movimentos fundamentalistas islâmicos de impor a sharia como lei civil em seus países. Uma delas abole explicitamente o uso oficial do árabe e explicita que o Estado pode criar cidades e bairros reservados a judeus.

O objetivo explícito da lei é enquadrar o Judiciário, que tem dado prioridade aos direitos humanos ao obrigar o Estado a respeitar a unificação de famílias e dar cidadania a palestinos casados com árabes israelenses, recentemente exigiu o fim do campo de concentração para imigrantes africanos sem documentos, ordem desacatada pelo Executivo, e cobrou do governo que providencie sinalização bilíngue em cidades de população mista e ajude a manter instituições muçulmanas. Menos explicitamente, está na mira da lei a possibilidade de cassar a cidadania de não judeus acusados de “deslealdade” (por protestar, por exemplo) e banir os partidos árabes e seus deputados. Paralelamente, foi apresentado um projeto que permite cassar os mandatos daqueles que apoiarem a “resistência armada”.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, criticou: “Israel é um Estado judeu e democrático e todos os seus cidadãos devem gozar direitos iguais. Esperamos que Israel se apegue a seus princípios democráticos”. Ze’ev Elkin, deputado do Likud, líder da bancada governista e autor da versão mais radical do projeto, bravateou: “Podemos manter as fundações da democracia mesmo sem ajuda do parceiro do outro lado do oceano”. O ministro da Economia, Naftali Bennett, do partido Lar Judeu, respondeu nos mesmos termos: “Digo aos americanos que nós mesmos administramos os assuntos do Estado de Israel”. Segundo ele, os direitos individuais foram, até agora, indevidamente sobrepostos ao caráter judeu do Estado.

Eufemismos à parte, anuncia-se o fim de Israel como Estado democrático e humanista e sua transformação em Estado confessional, racial ou ambos. Não é novidade na região, nem implica a perda do apoio de Washington, haja vista a Arábia Saudita, mas fortalece as campanhas de boicote e desinvestimento no Ocidente, bem como o fundamentalismo islâmico. Ante um Estado Judeu explícito, fica mais difícil argumentar contra o Estado Islâmico.

O artigo original da Carta Capital poderá ser visto por meio desse link aqui:


À TEMPO

Diante da oposição recebido ao projeto o primeiro Ministro Netanyahu demitiu do seu gabinete os conservadores Yair Lapid and Tzipi Livni. Netanyahu também está convocando eleições gerais na tentativa de formar um novo governo que apoie as decisçoes racistas recentemente adotadas. De acordo com Tzipi Livni as eleições deverão indicar se o Israel será apenas um país sionista, ou seja, racista ou se será um estado extremista. Os leitores poderão ler essa notícia completa por meio desse link aqui:


OUTROS ARTIGOS SOBRE ISRAEL









































Que Deus tenha muita misericórdia de todos naquele pequeno país.

Alexandros Meimaridis.

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