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sexta-feira, 26 de maio de 2017

ATAQUES CONTRA CRISTÃOS CONTINUAM NO EGITO


KHALED DESOUKI

Um dos grupos cristãos mais antigos — os coptas do Egito — continuam sofrendo violentos ataques e perseguição sob o olhar permissivo das autoridades egípcias e o silêncio criminoso das nações que se dizem cristãs.

Em novo atentando cometido no dia de hoje — 26 de Maio de 2017 — pelo menos 24 cristãos foram assassinados e outros 27 ficaram feridos. Isso depois dos atentados que deixaram 44 mortos e centenas de feridos no mês passado. Até quando?

Ver notícia anterior por meio desse link aqui:


As informações abaixo foram publicadas pelo site Brasil247.

AO MENOS 24 MORREM EM ATAQUE CONTRA ÔNIBUS DE CRISTÃOS NO EGITO
KHALED DESOUKI

Ao menos 24 pessoas morreram nesta sexta-feira (26) no Egito em um ataque de homens armados contra um ônibus que transportava cristãos, informou o ministério da Saúde; porta-voz, Khaled Megahed, também citou 27 feridos; ataque na província de Minya, ao sul do Cairo, acontece um mês e meio depois dos atentados contra duas igrejas coptas que deixaram 45 mortos e foram reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico

Rádio França Internacional — Ao menos 24 pessoas morreram nesta sexta-feira (26) no Egito em um ataque de homens armados contra um ônibus que transportava cristãos, informou o ministério da Saúde. O porta-voz, Khaled Megahed, também citou 27 feridos.

O ataque na província de Minya, ao sul do Cairo, acontece um mês e meio depois dos atentados contra duas igrejas coptas que deixaram 45 mortos e foram reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI).

O grupo extremista, que também reivindicou um atentado contra uma igreja copta do Cairo que deixou 29 mortos em dezembro, intensificou nos últimos meses os ataques contra a minoria copta no Egito, que representa 10% dos 90 milhões de habitantes do país.

Os coptas são uma das comunidades cristãs mais importantes do Oriente Médio, e uma das mais antigas. No Egito os muçulmanos sunitas são amplamente majoritários.

Um braço do grupo extremista está ativo ao norte da península do Sinai, onde ataca com frequência as forças de segurança. Ataques seletivos contra os cristãos obrigaram dezenas de famílias a fugir da região.

A notícia original poderá ser vista por meio do link abaixo:


OUTROS ARTIGOS ACERCA DA IGREJA PERSEGUIDA

















Que Deus tenha compaixão de todos nós.

Alexandros Meimaridis

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sábado, 15 de abril de 2017

CRISTÃOS COPTAS SOFREM ATAQUES COM 44 MORTOS E CENTENAS DE FERIDOS


Cristãos no Egito

Cristãos no Egito: Em Borg El-Arab, cidade vizinha a Alexandria, cristãos fazem procissão em homenagem às vítimas do terror

Os coptas são um grupo de cristãos egípcios que surgiu ainda durante o século I. O material abaixo foi publicado pelo site da Revista CartaCapital e é da autoria de José Antônio Lima.

Não há luz no fim do túnel para os cristãos coptas no Egito
Por mais brutais que sejam, os ataques do Estado Islâmico em Alexandria e Tanta são apenas uma amostra da situação dramática dos coptas
José Antonio Lima

Durante a chamada Primavera Árabe, cenas de cristãos e muçulmanos protestando juntos no Cairo, a capital do Egito, e se protegendo mutuamente das forças de segurança, causaram comoção no mundo. A esperança daqueles dias de 2011 há muito se tornou uma lembrança saudosa para quase todos os egípcios, mas as minorias, entre as quais os cristãos coptas são a mais numerosa, sofrem de maneira desproporcional. Seis anos depois do levante contra Hosni Mubarak, a comunidade copta é vítima de níveis de violência sem precedentes em sua história.

No Domingo de Ramos (9 de abril), uma das datas preparatórias para a Páscoa cristã, os coptas sofreram um ataque de grande repercussão. A igreja de São Jorge, em Tanta (100 km ao norte do Cairo), e a catedral de São Marcos, em Alexandria, foram alvo de ataques simultâneos, que deixaram 44 mortos e centenas de feridos.

O atentado terrorista foi reivindicado pelo Estado Islâmico. Ativo na Península do Sinai, o ISIS, como também é conhecido o grupo, age no Egito da mesma forma que faz na Síria e no Iraque. Ataca o governo, mas também as minorias religiosas.

O atentado provocou condenações internacionais, em especial no Ocidente. Há pouco, entretanto, que europeus e norte-americanos podem fazer pelos cristãos egípcios enquanto sua política externa apoiar o autoritarismo no Oriente Médio.

A igreja copta, uma denominação da ortodoxia oriental que teria sido fundada pelo apóstolo Marcos, existe desde o século I. Essa comunidade cristã, que hoje compõe cerca de 10% da população egípcia, sobreviveu ao Império Bizantino, à conquista muçulmana do que hoje é o Egito e experimentou seu momento mais próspero durante a dinastia de Muhammad Ali (1805-1952), na qual o Egito moderno foi fundado.

No século XIX e na primeira metade do século XX, os coptas exerceram papéis de destaque na política e na sociedade egípcias. Era um período no qual o cristianismo e o islã conviviam de forma harmoniosa. No levante nacionalista contra o Império Britânico, em 1919, por exemplo, imãs oraram em igrejas e padres realizaram celebrações em mesquitas, em uma prova de solidariedade local contra os invasores. Os ventos mudaram quando a monarquia foi derrubada no golpe que levou Gamal Abdel Nasser ao poder. A partir de 1952, os coptas foram marginalizados pelo Estado, uma situação que se agravou em 1970, quando o pan-arabista Nasser foi substituído por Anwar al-Sadat.

Em Borg El-Arab, mulheres choram durante funeral de vítimas da catedral de São Marco (Foto: Mohamed El-Shahed / AFP)

Em Borg El-Arab, mulheres choram durante funeral de vítimas da catedral de São Marco (Foto: Mohamed El-Shahed / AFP)

A ascensão de Sadat coincidiu com o empoderamento dos islamistas, os adeptos do islã político, uma ideologia segundo a qual o islã pode e deve resolver todos os problemas da sociedade. A intenção de Sadat era fortalecer os religiosos para contrapor o peso dos socialistas apoiadores de Nasser. Esta política, associada ao ganho de poder político e econômico por parte da Arábia Saudita naquele período, e ao intercâmbio entre islamistas sauditas e egípcios, foi uma das molas propulsoras da radicalização do islã no Oriente Médio.

O Egito foi um dos países que mais sofreu com a radicalização e os coptas, em particular, se tornaram um alvo primordial. Com Hosni Mubarak (1981-2011), o Egito se transformou no principal exemplo do processo que Peter Demant chama de “acomodação de determinadas exigências das populações e dos islamistas por meio de uma democratização limitada”.

Pressionado por forças políticas e sociais radicalizadas, o governo cede a extremistas religiosos em assuntos que são caros a esses (como por exemplo, a forma de lidar com uma minoria religiosa) para manter o controle sobre a sociedade. Este é um processo comum em todo o Oriente Médio. Partidos políticos, sindicatos, entidades estudantis e outras associações são fracas ou não existem. As mesquitas, entretanto, estão sempre disponíveis e muitas vezes lideradas por radicais.

Este ciclo de autoritarismo e radicalização religiosa provoca o crescimento e a legitimação de uma tendência fundamentalista, que gera uma “islamização rastejante da sociedade, cuja tendência política é antidemocrática ou pelo menos antiliberal”, como também afirma Demant. É o caldo político, social e cultural no qual viceja o jihadismo. É de onde o Estado Islâmico retira suas forças, ao se postar como único e legítimo defensor dos muçulmanos contra os regimes autoritários e "infiéis" de Sissi.

Em um contexto no qual a força dominante é o Estado autoritário e em que a principal contestação vem do islã político (islamismo), a única escolha dos coptas é buscar alguma proteção no Estado, ainda que este seja o promotor de uma discriminação sistemática que gere em muitos cristãos a sensação de serem cidadãos de segunda classe. Esta complexa realidade ficou evidente após a Primavera Árabe.

A abertura política pós-Mubarak catapultou a Irmandade Muçulmana e os salafistas (ambos islamistas, de diferentes vertentes) para um papel de proeminência na política egípcia. Em 2013, após um ano de presidência da Irmandade Muçulmana, veio o golpe liderado por Abdel Fattah al-Sissi. Muitos coptas apoiaram a nova ditadura.

Quase quatro anos depois, o apoio minguou. Parte significativa da atuação de Sissi é perseguir o islã político em todas as suas formas, onde for possível. Em um único dia de agosto de 2013, seu regime assassinou cerca de mil irmãos muçulmanos a luz do dia, no Cairo, em uma carnificina comparável ao Massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989. Ações como essa exacerbaram a violência sectária no Egito, ampliando a vulnerabilidade da comunidade copta, uma vez que o Estado, preocupado em garantir a existência do regime, é incapaz de proteger seus cidadãos.

Coptas

Coptas
Coptas fazem celebração em igreja incendiada em Minya, em julho de 2016 (Foto: Twitter / @copticulture)

Desde 2013, inúmeras igrejas foram vandalizadas, mas as comunidades cristãs não receberam autorização para repará-los. O Estado prometeu se responsabilizar por isso, mas jamais levou a promessa a cabo. Muitos templos seguem em ruínas e os coptas também não conseguem erguer novas igrejas.

O processo de autorização é burocrático a ponto de, na prática, inviabilizar o surgimento de novos templos cristãos. Uma nova lei aprovada no governo Sissi deveria corrigir isso, mas acabou dando ainda mais poder para o Estado gerir a comunidade copta.

A violência estatal contra a religião se junta aos ataques aos fiéis. Em 2016, alguns episódios aterradores atingiram a comunidade copta. Em maio, uma mulher cristã de 70 anos cujo filho era "acusado" de ter uma relacionamento com uma muçulmana foi despida e arrastada pela rua de Minya.

No mês seguinte, famílias cristãs foram atacadas, um jardim da infância foi incendiado e um padre foi assassinado. Em julho, uma freira e um farmacêutico coptas foram assassinados. Em novembro, uma vila cristã foi atacada por uma gangue de 2 mil pessoas após a notícia de que uma residência funcionaria improvisadamente como templo religioso.

Todos esses episódios acirraram os ânimos da comunidade copta, que tem realizado inúmeros protestos contra o regime. Ocorre que o Egito tem hoje uma das ditaduras mais draconianas do mundo, que reprime a liberdade de expressão e reunião de maneira contumaz. O governo teme sua própria população e, dessa forma, os coptas, como o restante dos egípcios, têm poucas formas de manifestar sua indignação.

Há ainda dois agravantes importantes. O primeiro é que a cúpula da igreja copta é cada vez mais vista com suspeição pela própria comunidade. O papa Tawadros II é um ferrenho apoiador de Sissi, mas suas ações e declarações não escondem a clivagem existente entre o establishment religioso e a massa.

Sissi e Trump

Sissi e Trump
Sissi e Trump na Casa Branca em 3 de abril. Ao manter apoio a ditadores, o Ocidente patrocina o terror

O segundo complicador é a própria postura de Sissi. O ditador vende a si mesmo como um campeão do nacionalismo egípcio, protetor de muçulmanos e cristãos. Seus atos são, no entanto, meramente simbólicos. Sissi condena a violência contra os cristãos e, em janeiro de 2015, se tornou o primeiro presidente do Egito desde 1952 a participar da celebração do Natal copta, festejado em 7 de janeiro.

Na prática, seu regime continua incapaz de proteger os coptas, mantém a marginalização da comunidade e impede manifestações por mudanças. Sua "solução" para o ataque do Domingo de Ramos foi restabelecer o Estado de Emergência, que no Egito é sinônimo de ainda mais repressão contra toda a população.

De Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que recebeu Sissi na Casa Branca na semana passada, condenou o ataque. E disse ter "grande confiança de que o presidente Sissi vai lidar com a situação corretamente". Não vai. Sissi continuará sendo um bastião do autoritarismo que, em combinação com invasões estrangeiras e com o radicalismo religioso, transforma o Oriente Médio em um caldeirão prestes a explodir, como comprova a existência do Estado Islâmico. É uma situação que penaliza a todos, especialmente os coptas.

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Alexandros Meimaridis

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terça-feira, 19 de julho de 2016

PARA ENTENDER O QUE ACONTECEU EM NICE, FRANÇA



O artigo abaixo foi originalmente publicado na Folha de São Paulo e é de autoria de Mathias Alencastro. Ele nos ajuda a compreender que a violência, de qualquer tipo, gera apenas mais violência. E a consequente falta de justiça, gera mais violência ainda.

Acirramento recente faz da França alvo de terroristas

Para entender a razão pela qual a França é hoje o principal alvo de terroristas, é preciso recapitular as últimas décadas. Ao contrário do que a história recente sugere, a integração muçulmana na França foi em geral pacífica.

Após a morte de Malik Oussekine, em 1986, franco-argelino jogado no Sena por militantes de extrema-direita, 200 mil pessoas em 36 cidades francesas manifestaram seu repúdio ao assassinato.

Desse episódio nasceu o movimento SOS Racisme, braço ativista do governo de François Mitterrand e plataforma de lançamento para políticos de origem magrebina.

Porém, depois da primeira onda de atentados terroristas islâmicos cometidos em julho e outubro de 1995 pelo Grupo Islâmico Armado, da Argélia, as tensões intercomunitárias se agravaram.

Um fator tido como fundamental nessa evolução foi o desaparecimento do chamado "cinturão vermelho" da periferia parisiense. As políticas públicas de inclusão diminuíram com o declínio dos partidos de esquerda e o avanço eleitoral da extrema-direita. O filme "O Ódio" (1995), dirigido por Mathieu Kassovitz, retrata a banalização da violência no subúrbio de Paris.

Nos anos 2000, as tensões comunitárias assumiram dimensão nacional, com a passagem ao segundo turno do candidato de extrema-direita Jean-Marie Le Pen nas eleições presidenciais de 2002 e os motins nas periferias das grandes cidades francesas em 2005. Nicolas Sarkozy foi eleito presidente em 2007 prometendo "lavar com Kärcher (uma marca de lava-jato)" as periferias francesas.

A intensificação da agenda securitária durante o governo Sarkozy levou a uma explosão do número de muçulmanos encarcerados. Segundo relatório publicado em 2014, mais de 60% dos detentos na França são muçulmanos.

Uma desproporção patente, dado que a população muçulmana do país não supera 12%. Em 2000, a proporção de muçulmanos presos não chegava à metade.

Nesse contexto, a França virou terreno fértil para o recrutamento de terroristas pelo Estado Islâmico.

Ainda não se conhece as motivações do autor do massacre de Nice, mas todos os outros terroristas envolvidos em atentados nos últimos dois anos compartilham a mesma trajetória.

Oriundos da periferia das grandes cidades francesas, tornaram-se delinquentes de crime comum depois de anos de fracasso escolar e trabalhos precários, antes de se radicalizarem sob a influência de presos islamitas atuando dentro do sistema carcerário.

Com o ataque em Nice, capital do departamento com o maior número de eleitores de extrema-direita, mesmo sem comprovação de vínculo direto, o Estado Islâmico caminha para seu objetivo maior: assombrar os franceses com o fantasma de uma guerra civil.

Um dos livros mais vendidos do ano passado, "Submissão", de Michel Houellebecq, imagina uma França governada por um muçulmano.

A questão muçulmana na França será abordada explicitamente em 2017. No contexto de tensão após a maior série de atentados da história, a situação pode piorar.

Mathias Alencastro é doutor em Ciência Política pela Universidade de Oxford e mestre em História pela Universidade Sorbonne-Paris IV.

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terça-feira, 22 de março de 2016

O ESTADO ISLÂMICO E USO DE CRIANÇAS PARA FAZER A GUERRA SANTA

Propaganda
Imagens de soldados infantis povoam os vídeos do EI

O artigo abaixo foi escrito por Mark Townsend do jornal britânico The Observer e foi traduzido e publicado em português pelo site da revista Carta Capital.

A doutrina da carnificina do Estado Islâmico
Como o ISIS recruta e treina crianças para a sua jihad
Por Mark Townsend do The Observer

Uma nova geração de recrutas está em treinamento no “califado” do Estado Islâmico, doutrinados com conceitos religiosos desde o nascimento e vistos pelos combatentes como melhores e mais puros do que eles próprios. Eis a conclusão do primeiro estudo sobre a exploração e o abuso de crianças pelo EI.

Pesquisadores do Quilliam, centro de pensadores contra o extremismo em Londres, investigaram o modo como o EI recruta crianças e as treina para a jihad. O relatório, intitulado Crianças do Estado Islâmico, foi endossado pela ONU e compilado em um estudo da propaganda do grupo que mostra menores e ligado a fontes confiáveis no califado. Percebe-se um movimento terrorista ávido para atrair jovens e assim se perpetuar. Muitos são treinados como espiões, pregadores, soldados, “executores” e bombas humanas.

Segundo os autores, “a organização dedica grande parte de seus esforços a doutrinar crianças por meio de um currículo educacional baseado no extremismo e a criá-las para ser futuros terroristas. A geração atual de combatentes as vê como guerreiros melhores e mais letais que eles próprios, pois, em vez de convertidos a ideologias radicais, elas foram doutrinadas nesses valores desde o nascimento ou de uma idade muito precoce”.

Sem terem sido corrompidos pela vida nos padrões seculares, os menores são considerados mais puros do que os combatentes adultos. “Essas crianças são salvas da corrupção”, declara o estudo, tornando-as mais fortes que os atuais mujaheddin pelo fato de terem uma compreensão superior do Islã desde a juventude e pelo currículo escolar, e são lutadores melhores e mais brutais, treinados na violência desde a tenra idade.

Os recrutas estrangeiros representam um reforço potencialmente importante para o grupo de cerca de 80 mil militantes (50 mil na Síria e 30 mil no Iraque). Estima-se que 6 milhões de homens, mulheres e crianças vivam atualmente no autoproclamado Califado. “O objetivo é preparar uma nova geração, mais forte, de mujaheddin, condicionados e ensinados a ser um futuro recurso para o grupo”, acrescenta o relatório.

O enfoque nos jovens tem semelhanças, segundo o estudo, com o recrutamento forçado de crianças-soldados na Libéria nos anos 1990, quando Charles Taylor tomou o poder, em 1997, secundado por um exército rebelde repleto de crianças.

Os autores concluem que o EI também parece ter estudado o regime nazista, que criou a Juventude Hitlerista. A ONU recebeu relatos verossímeis, mas não verificados, sobre uma ala jovem do EI chamada Fityan al-Islam (Meninos do Islã).  Os autores lembram ainda o precedente do regime baathista de Saddam Hussein no Iraque, que no fim dos anos 1970 fundou o movimento Futuwah (Vanguarda Jovem) com as principais unidades de crianças-soldados iraquianas conhecidas como Ashbal Saddam, ou Filhotes de Leão de Saddam, formadas por meninos de 10 a 15 anos.
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Os menores são estimulados a jogar futebol com cabeças decapitadas (Foto: Reprodução)

Os pesquisadores do Quilliam descobriram que menores são usados amplamente na propaganda do EI para dar a impressão de “construção de um Estado”. Entre 1º de agosto de 2015 e 9 de fevereiro passado, eles identificaram ao todo 254 eventos ou declarações que apresentam imagens de crianças.

O EI utiliza os jovens para tentar banalizar a brutalidade. O grupo os incentiva a segurar cabeças decapitadas ou jogar futebol com elas. Nos últimos seis meses, a propaganda do Estado Islâmico mostrou 12 crianças assassinas. Um vídeo macabro recente exibe um menino britânico de 4 anos que aparentemente detona um carro-bomba e mata quatro supostos espiões presos no veículo.

O recrutamento de crianças com frequência envolve coerção, segundo o relatório. O rapto seria o método preferido. A missão de assistência da ONU para o Iraque estima que o EI sequestrou entre 800 e 900 crianças de 9 a 15 anos. De agosto de 2014 a junho de 2015, centenas de meninos, incluídos yazidis e turcomenos, foram arrancados à força de suas famílias em Nínive e mandados para centros de treinamento, onde garotos de apenas 8 anos aprendem o Alcorão, o uso de armas de fogo e táticas de combate.

A organização também recorre ao medo para recrutar. Canais de mídia do Califado emitem declarações que advertem as crianças de que, caso se recusem a obedecer às ordens do EI, serão açoitadas, torturadas ou estupradas.

O grupo extremista rapidamente tomou o controle do sistema educacional na Síria e no Iraque, e a doutrinação começa nas escolas e se intensifica nos campos de treinamento. Nestes, crianças entre 10 e 15 anos são instruídas na sharia, a lei islâmica, expostas à violência e treinadas em técnicas específicas para servir ao Estado e assumir a jihad.

Os meninos aprendem um rígido currículo do EI, do qual foram removidos desenho, filosofia e estudos sociais, descritos como “metodologia do ateísmo”. As crianças decoram versículos do Alcorão e frequentam treinamentos para a jihad, que inclui tiro, manuseio de armas e artes marciais. As meninas, chamadas de “pérolas do califado”, usam véus, são escondidas e confinadas em casa e aprendem a cuidar dos homens.

Os autores do relatório recomendam a criação de uma comissão para proteger as futuras gerações da violência radical e monitorar e reintegrar as crianças que correm risco na União Europeia. Segundo Roméo Dallaire, porta-voz da Iniciativa de Soldados-Crianças que coescreveu o relatório, a vida sob o Estado Islâmico é uma das mais graves situações para menores no planeta. “Espera-se que esse relatório ofereça uma perspectiva crítica sobre a sina desses jovens”, afirma. “Talvez suscite reflexões essenciais para os políticos, órgãos de proteção à infância, governos, organizações multilaterais e os envolvidos em encerrar o conflito no Iraque e na Síria.”

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

*Publicado originalmente na edição 892 de Carta Capital, com o título "A doutrina da carnificina"

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terça-feira, 26 de maio de 2015

PARA AJUDAR VOCÊ A ENTENDER O GRUPO ISIS


 

O artigo abaixo foi publicado pela revista ÉPOCA.

O califa da barbárie

Abu Bakr al-Baghdadi o líder do mais temível grupo fundamentalista do mundo, leva a selvageria e o terror a um novo nível

Por RODRIGO TURRER E FILLIPE MAURO

 ATROCIDADE Baghdadi, num sermão em julho, no Iraque. Seu grupo usa crucificações e estupros como armas de terror (Foto: AP)
ATROCIDADE Baghdadi, num sermão em julho, no Iraque. Seu grupo usa crucificações e estupros como armas de terror (Foto: AP)

Abu Bakr al-Baghdadi é um homem discreto e misterioso. Apenas duas fotos suas são conhecidas: uma de 2005, quando ele ainda era um jovem aspirante a jihadista, detido em uma prisão americana no Iraque. A outra, mais recente, é de uma rara aparição pública, em julho deste ano. Trajando túnica e turbante pretos, com uma longa barba, que invocam o mítico início do islamismo, Baghdadi deu um sermão de meia hora na grande mesquita de Mossul, a maior cidade do Iraque tomada pelo grupo fundamentalista liderado por ele, o Estado Islâmico (IS, na sigla em inglês, anteriormente chamado de Isis, Estado Islâmico do Iraque e Levante). Na ocasião, Baghdadi se autoproclamou “o novo califa Ibrahim, emir dos crentes no Estado Islâmico”. Em voz suave e monocórdia, conclamou os muçulmanos a obedecer-lhe enquanto ele “obedecer a Deus” e convidou “médicos, engenheiros, juízes e especialistas em jurisprudência islâmica” a se juntar a ele.

Unir-se a Baghdadi significa dar um passo além da usual selvageria dos extremistas. Em fevereiro, à medida que o Isis crescia e avançava, a rede terrorista al-Qaeda rompeu com o grupo, por considerar suas táticas excessivamente agressivas. É prática comum de seus militantes é atacar a população civil, eviscerar os capturados, estuprar mulheres e crucificar vivos os adversários. Baghdadi, o mentor da barbárie, tornou-se num ano o jihadista mais poderoso do planeta. À frente do Isis,  conquistou territórios na Síria e no Iraque, apagou a fronteira entre os dois países e arrebatou o apoio da maioria dos sunitas da região. Estima-se que o IS tenha agora ativos de mais de US$ 2 bilhões, graças ao controle de poços de petróleo nos dois países.

Baghdadi começou a sair das sombras no verão de 2010, quando se tornou líder da al-Qaeda no Iraque (AQI), de orientação religiosa sunita. A estratégia anti-insurrecional americana, combinada a rivalidades entre grupos muçulmanos, levou ao colapso da rebelião sunita contra as tropas dos Estados Unidos. A AQI perdeu relevância e quase desapareceu. Baghdadi foi a figura central no renascimento do grupo. É o responsável pelas estratégias e táticas militares que renderam vitórias ao Isis. O verdadeiro nome de Baghdadi é Awwad Ibrahim Ali al-Badri al-Samarrai. Ele nasceu em 1971, perto de Samarra, uma cidade 100 quilômetros ao norte de Bagdá. Pouco se sabe sobre sua infância. Na juventude, cursou graduação em estudos islâmicos, incluindo poesia, história e genealogia, na Universidade Islâmica de Bagdá. Depois, fez mestrado e doutorado em estudos islâmicos na Universidade de Ciências Islâmicas de Adhamiya. Quando os EUA invadiram o Iraque, em março de 2003, Baghdadi já era militante islamista e pregava na província de Diyala. No começo da ocupação americana, manteve seu próprio grupo armado, com 50 a 100 combatentes.

Em 2005, Baghdadi foi capturado pelo Exército americano em Falluja. Foi considerado um prisioneiro de pouca importância e encarcerado no centro de detenção de Camp Bucca, no sul do Iraque. O comandante do centro de detenção disse em entrevista à rede americana NBC que jamais imaginara que aquele homem se tornaria um líder e uma ameaça global. “Ele era um mero arruaceiro”, afirmou o coronel Ken King. “Nem com uma bola de cristal seria possível prever que ele se tornaria o pior dos piores.” Na prisão, Baghdadi teve contato com terroristas da al-Qaeda. Ao ser libertado, em 2009, voltou mais forte às atividades extremistas. Foi recrutado para o conselho militar do Estado Islâmico do Iraque (ISI), a nova versão da al-Qaeda no Iraque (AQI). Era considerado um conselheiro-chave para o então líder do grupo, Abu Omar al-Baghdadi.

Quando Abu Omar foi morto, Abu Bakr al-Baghdadi se tornou o líder natural do grupo, em abril de 2010. A partir daí, o Isis se reorganizou. Distribuía relatórios de atividades com listas de operações em cada província do Iraque. O novo líder começou a transformar uma filial local da al-Qaeda numa força distinta e independente, com uma agenda clara: criar um estado islâmico radical sunita no Iraque e na Síria. Seria seu califado. Baghdadi insistia no extremo sigilo. Não queria se revelar. Poucos conheciam sua verdadeira identidade ou localização. Prisioneiros da AQI dizem que jamais o viram, porque ele sempre usou máscara.

A discrição foi o segredo de seu sucesso. Ao contrário de outros líderes, evitou gravar e distribuir vídeos com mensagens grandiloquentes. “Quando você começa a fazer vídeos e a aparecer, aumenta as chances de ser capturado”, afirma Patrick Skinner, ex-agente da CIA e analista do Soufan Group, uma consultoria de segurança. “Baghdadi atua há cinco anos. Para um terrorista, isso é como os anos de vida de um gato. É muito tempo.” Em 2011, Baghdadi entrou para a lista de terroristas do governo americano, que oferece uma recompensa de US$ 10 milhões a quem der informações que levem à sua morte ou captura. Ele queria assumir a liderança da al-Qaeda, mas foi o egípcio Ayman al-Zawahiri quem sucedeu Bin Laden.

A SANGUE-FRIO Cena do vídeo com a degola do jornalista James Foley. Se não for combatido,  o grupo IS espalhará mais rapidamente suas táticas (Foto: Reprodução)
A SANGUE-FRIO Cena do vídeo com a degola do jornalista James Foley. Se não for combatido, o grupo IS espalhará mais rapidamente suas táticas (Foto: Reprodução)

Baghdadi nunca aceitou o poder de Zawahiri. Em cartas trocadas pelos dois, interceptadas pela inteligência americana, Baghdadi dizia não reconhecer a autoridade de Zawahiri. Desafiando suas ordens de se concentrar no Iraque, Baghdadi decidiu ampliar as ações do grupo sobre a Síria. Entrou na luta contra o ditador sírio Bashar al-Assad, ao mesmo tempo que combatia os militantes da Frente Jabhat al-Nusra, a afiliada da al-Qaeda na Síria. No ano passado, derrotou a Jabhat al-Nusra e assumiu o comando de grande porção de território no norte da Síria. Em seguida, montou uma base na cidade síria de Raqaa, que deu a ele comando sobre campos petrolíferos. A al-Qaeda rompeu com o grupo, mas Baghdadi conseguiu uma vitória, ao menos temporária. Em seis meses, estabeleceu um califado entre Iraque e Síria. Na região, prevalece uma interpretação radical da lei islâmica, em que os inimigos são decapitados, e os ladrões e adúlteros, açoitados. O IS ameaçava exterminar minorias religiosas como cristãos, yazidis e shabaks xiitas. Não estava longe de Bagdá, a capital do Iraque, um país frágil e em reconstrução após a ocupação americana de oito anos, até 2011. Por isso, os EUA reagiram. Nas últimas semanas, voltaram a agir no Iraque e bombardearam as posições do IS.

Na semana passada, o IS deu mais uma prova ao mundo do que é capaz. Num vídeo divulgado pela internet em 19 de agosto, um militante do IS, encapuzado e vestido de preto, no meio do deserto, aparece ao lado de um homem de meia-idade, vestido de laranja, ajoelhado. O prisioneiro era o jornalista americano James Foley, sequestrado pelo grupo havia dois anos. “Gostaria de ter a esperança da liberdade e de poder ver minha família mais uma vez. Mas este navio já zarpou”, foram as últimas palavras de Foley. O carrasco do jornalista, um sujeito alto e com forte sotaque britânico, afirma que os verdadeiros assassinos de Foley são os EUA, que atacaram os muçulmanos ao bombardear o IS. Diz que “tudo o que acontecerá é resultado da complacência e criminalidade” dos americanos. Por fim, decapita Foley com uma faca.

O principal alvo do ato bárbaro não eram os amigos e familiares de Foley, mas sim os EUA e o presidente americano Barack Obama. Há pouco mais de 12 anos, radicais islâmicos da al-Qaeda deram uma mostra semelhante de selvageria. Em 22 de fevereiro de 2002, o consulado americano em Karachi, no Paquistão, recebeu o vídeo da execução de Daniel Pearl, repórter do jornal americano The Wall Street Journal. Pearl fora sequestrado um mês antes por militantes locais e entregue para a rede al-Qaeda. Seu executor foi o superterrorista Khalid Sheikh Mohammed, mais tarde capturado e hoje sob custódia militar americana em Guantánamo.

Na ocasião, os americanos organizaram uma operação de grande escala para capturar Sheikh Mohammed. Consideraram que era a resposta adequada à execução de Pearl. Nas próximas semanas, os EUA enviarão mais tropas ao Iraque. Militares americanos cogitam a viabilidade de derrotar o IS sem bombardear o grupo na Síria, pois isso poderia fortalecer oponentes do IS também incômodos, entre eles o ditador Bashar al-Assad. Na semana passada, Obama condenou a execução de Foley. Ao comentar a atrocidade, disse que o IS “não tem espaço no século XXI” e “age como um câncer”. Para as potências ocidentais, impedir a metástase é uma empreitada necessária – e extremamente difícil.

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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

PARA ENTENDER O BOKO HARAM E O EXTREMISMO ISLÂMICO


O artigo abaixo foi publicado no site da Revista ÉPOCA e é de autoria de Bruno Calixto com mapas de Giovana Tarakdjian

Boko Haram e um massacre que pode ser visto por satélite

Grupo extremista sequestra meninas, controla vilarejos e promove atentados na Nigéria. Como surgiu e quais são as táticas do Boko Haram, que construiu um "Estado Islâmico" na África?

BRUNO CALIXTO (TEXTO), GIOVANA TARAKDJIAN (MAPA)

Imagem de satélite divulgada pela Anistia Internacional mostra estruturas queimadas após ataque do Boko Haram a uma base militar em Baga, Nigéria (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)
Imagem de satélite divulgada pela Anistia Internacional mostra estruturas queimadas após ataque do Boko Haram a uma base militar em Baga, Nigéria (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)

Um massacre de proporções ainda não determinadas aconteceu no começo do ano, no dia 3 de janeiro, na Nigéria. O Boko Haram - o mesmo grupo que sequestrou centenas de meninas de uma escola nigeriana - atacou o vilarejo de Baga e pode ter matado de 150 a até 2 mil pessoas, além de atear fogo em toda a cidade. Imagens de satélite divulgadas nesta quinta (15) mostram um quadro de ampla destruição. Com o ataque, o Boko Haram passa a controlar ainda mais território, e mostra estar disposto a táticas cada vez mais brutais. Como surgiu esse grupo e o que ele quer?

Área de influência do Boko Haram na Nigéria (Foto: Giovana Tarakdjian/ÉPOCA)

Área de influência do Boko Haram na Nigéria (Foto: Giovana Tarakdjian/ÉPOCA)

O nascimento do Boko Haram

O Boko Haram surgiu em 2002 em Maiduguri, capital do Estado de Borno, na Nigéria. Borno, no nordeste do país, é uma das regiões mais empobrecidas da Nigéria. Além disso, conta com maioria da população muçulmana, enquanto que no restante do país a religião predominante é o cristianismo. O grupo foi criado pelo Mohammed Yusuf, clérigo islamista formado na Árabia Saudita, com o objetivo de transformar a Nigéria em um Estado islâmico que siga as leis da sharia. Inicialmente, o grupo se chamava Jama’a Ahl as-Sunna Li-da’wa wa-al Jihad, que significa "Pessoas comprometidas com a propagação dos ensinamentos do profeta e com a Jihad" em árabe. Com o tempo, ele ficou conhecido pelo apelido na língua local. "Boko" é a palavra usada para se referir às escolas e ao sistema educacional do Ocidente, e "Haram" significa proibido.

Yusuf era um clérigo do islamismo sunita, o maior ramo do Islã – mais de 80% dos muçulmanos no mundo são sunitas. Dentro desse ramo, ele pertencia à escola do salafismo. Os salafistas pregam o retorno das práticas do início do islamismo. A corrente defende posições extremamente conservadoras sobre o papel da mulher na sociedade, sobre a obrigatoriedade de seguir a religião, e proíbe fazer imagens de Maomé ou venerar monumentos de profetas. Muitos grupos terroristas, como a Al Qaeda ou o Taleban, nasceram dessas interpretações extremas.

Nos seus anos iniciais, o Boko Haram não participou de atos violentos nem usou de estratégias terroristas. Yusuf considerava o governo da Nigéria como ilegítimo, mas não se envolveu em ataques diretos até pelo menos 2009.

Uma revolta contra capacetes de motocicletas

Em julho de 2009, o governo da Nigéria aprovou uma lei obrigando todos os motoristas de motocicletas a usar capacetes. A lei não foi aceita pelos seguidores de Yusuf. A polícia agiu com brutalidade contra o grupo, o que resultou em uma revolta armada que se espalhou por quatro Estados do norte da Nigéria. O Exército nigeriano reprimiu o levante, que terminou com 800 mortos. Yusuf foi capturado e executado com transmissão ao vivo pela TV. Na época, grupos de direitos humanos acusaram o Exército de execuções extrajudiciais de clérigos do grupo.

A partir desse incidente, o Boko Haram começou a se radicalizar. Analistas acreditam que, entre 2009 e 2010, muitos de seus membros foram para a região do Sahel, a sul do deserto do Saara, onde foram treinados por grupos jihadistas. Foi provavelmente nessa época que eles fizeram os primeiros laços com a Al Qaeda no Magreb Islâmico, o braço da rede terrorista que atua na África. A primeira grande ação terrorista foi executada em setembro de 2010, quando eles orquestraram uma fuga massiva de uma prisão, libertando centenas de presos.

O líder que volta dos mortos

O líder do grupo terrorista Boko Haram, Abubakar Shekau, que atua na Nigéria (Foto: Reprodução/AP)
O líder do grupo terrorista Boko Haram, Abubakar Shekau, que atua na Nigéria (Foto: Reprodução/AP)

Com a morte Yusuf, a liderança foi assumida por Abubakar Shekau, um nigeriano que ora é classificado como um teólogo islâmico poliglota, ora como "comandante louco". A vida de Shekau é cercada de mistérios. Ninguém sabe quando ele nasceu, e ninguém sabe sequer se ele continua vivo. O Exército nigeriano já anunciou a morte do comandante em pelo menos três ocasiões, mas depois ele sempre volta a aparecer em vídeos, renovando as ameaças. Uma das aparições recentes foi quando ele assumiu a autoria do sequestro de centenas de estudantes em Chibok.

Sob seu comando, o Boko Haram se tornou mais cruel. O grupo fez seu primeiro atentado internacional, desenvolveu táticas de carros-bomba e passou a controlar grande número de vilarejos no nordeste da Nigéria.

Ainda assim, para algumas autoridades nigerianas, Shekau simplesmente não existe. Eles acreditam que o nome se tornou uma "marca" ou "título", adotado por diferentes lideranças de grupos internos do Boko Haram, como uma forma de criar um mito em torno do líder. Segundo essa tese, o homem que aparece nos vídeos é um sósia.

O sequestro das alunas de Chibok

Reprodução de vídeo feito pelo grupo terrorista Boko Haram mostra mais de 100 meninas que, segundo o grupo, fazem parte das meninas sequestradas em Chibok, norte da Nigéria (Foto: Reprodução/AP)

Reprodução de vídeo feito pelo grupo terrorista Boko Haram mostra mais de 100 meninas que, segundo o grupo, fazem parte das meninas sequestradas em Chibok, norte da Nigéria (Foto: Reprodução/AP)

A partir de 2012, o grupo passou a se concentrar em ataques a escolas. Novamente, o nível de brutalidade foi crescendo com o passar do tempo. No começo, integrantes do Boko Haram focavam na destruição das propriedades de universidades e escolas. Os ataques ocorriam sempre à noite, quando não havia alunos ou professores. No ano seguinte, Shekau anunciou que as universidades participavam de um "complô contra o Islã" e ameaçou matar alunos e professores. A partir daí, os níveis de presença nas escolas do interior caíram de forma gigantesca.

Em abril de 2014, o sequestro de mais de 200 alunas que se preparavam para fazer uma prova em uma escola em Chibok foi uma das operações mais ousadas do grupo. O caso atraiu a atenção do mundo, com dezenas de manifestações e cobertura da imprensa. Ainda assim, o governo da Nigéria foi incapaz de libertar as meninas. A incompetência das autoridades nigerianas foi provavelmente um sinal verde para o Boko Haram se tornar ainda mais ousado.

Um massacre visto por satélite

Imagem divulgada pela Anistia Internacional mostra o antes e o depois do Boko Haram a Baga, Nigéria. Na imagem de baixo, é possível observar estruturas queimadas pelo grupo terrorista (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)

Imagem divulgada pela Anistia Internacional mostra o antes e o depois do Boko Haram a Baga, Nigéria. Na imagem de baixo, é possível observar estruturas queimadas pelo grupo terrorista (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)

A primeira imagem mostra a cidade no dia 2 de janeiro. Na de baixo, do dia 7 de janeiro, é possível observar estruturas queimadas pelo grupo terrorista. A foto foi tirada por um satélite que usa cor infravermelho. As figuras em vermelho indicam árvores e vegetação (Foto: DigitalGlobe/Anistia Internacional)

Em agosto do ano passado, Shekau deu um passo decisivo em busca de controle territorial. Ele anunciou o estabelecimento de um "Califado Islâmico" na região de Borno e no norte da Nigéria, similar ao que o Estado Islâmico fez na Síria e no Iraque. A partir de então, os ataques a vilarejos e confrontos com as forças armadas começaram a se tornar mais frequentes. Um dos poucos vilarejos que não caíram foi Baga, que abrigava uma base militar multinacional com tropas da Nigéria, Niger e Chad.

Isso mudou na manhã do dia 3 de janeiro. A BBC e o Guardian escutaram testemunhas do ataque. Os homens do Boko Haram chegaram em caminhões, vindo de todas as direções. Logo começaram a atirar. Os soldados da base em Baga reagiram. Foram cerca de nove horas de confronto, quando enfim os soldados, vendo que estavam perdendo a batalha, jogaram suas armas no chão e bateram em retirada. Nenhum reforço do Exército nigeriano chegou ao local.  "Quando você vê soldados fugindo da cidade, o que você pode fazer além de fugir também?", disse uma testemunha à BBC.

Quando o Boko Haram tomou o vilarejo, começou a barbárie. Os sobreviventes que fugiram da cidade disseram ver pilhas e mais pilhas de corpos nas ruas. Segundo os relatos, os terroristas atiraram em civis indiscriminadamente – incluindo mulheres e crianças, cristãos e muçulmanos. Depois, saquearam as casas e mercados e atearam fogo em todo o vilarejo. Segundo a Anistia Internacional, o número de mortos pode chegar a 2 mil pessoas. Já o governo nigeriano fala em "cerca de 150 de vítimas". O número não pode ser confirmado porque o Estado nigeriano simplesmente não tem condições de chegar ao local para contar os corpos.

Nesta quinta (15), a Anistia publicou fotos de satélites mostrando o que sobrou de Baga e de outro vilarejo atacado, Doron Baga. Segundo a organização, é possível identificar um total de 3.700 estruturas destruídas. "De todos os assaltos do Boko Haram que analisamos, esse foi o maior e o mais destrutivo. Representa um ataque deliberado a civis. Suas casas, clínicas e escolas agora estão em ruína", disse Daniel Eyre, da Anistia Internacional.

E agora?

O massacre demorou a chegar aos jornais, mas quando veio a público, causou incômodo. Mais de um milhão de pessoas se manifestaram contra a violência no caso dos atentados terroristas da França, que mataram 17 pessoas, e a morte de centenas de nigerianos não estava atraindo a atenção. Organizações como a ONU e até celebridades pediram mais atenção ao caso. Críticas pesadas caem sobre o governo do presidente Goodluck Jonathan. Ele é acusado de não agir de forma convincente contra o Boko Haram, já que os extremistas atuam em áreas em que os políticos de oposição ao seu governo são mais fortes. Autoridades nigerianas disseram que as Forças Armadas do país serão mobilizadas para enfrentar os insurgentes. Enquanto isso, Jonathan anuncia sua candidatura à reeleição. No anúncio, ele não falou uma palavra sobre o Boko Haram, o massacre de Baga ou sobre as meninas sequestradas no ano passado.
O artigo original da revista Época poderá ser visto por meio do link abaixo:


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sábado, 23 de agosto de 2014

ISRAEL, O HAMAS E A SITUAÇÃO DO POVO PALESTINO



Bandeiras com as palavras "Paz"

O artigo abaixo foi publicado pela Revista Carta Capital e é de autoria do jornalista Vladimir Safatle.

Política

Análise / Vladimir Safatle

Israel e o Hamas

Condenar os ataques a Gaza não significa defender os propósitos do grupo palestino
por Vladimir Safatle

Israel-Palestina
A melhor defesa de Israel é dar aos palestinos aquilo que lhes é de direito. Mas ele não pode fazê-lo, pois significaria entrar em rota de colisão com o núcleo religioso-nacionalista de sua sociedade, entre outras, um Estado israelense até as margens do Rio Jordão.

Gostaria de voltar ao tema do conflito Israel-Palestina. Compartilho com o leitor de Carta Capital um fato pessoal que creio contribuir para a discussão. Há poucos dias escrevi um artigo no qual classifico de patética a recusa do governo israelense em dialogar com um governo palestino que inclua o Hamas. Desqualificar o Hamas como grupo “terrorista” (usei o termo sempre entre aspas, mas alguns, creio, não sabem o significado de duas aspas a envolver uma palavra) era cômico, vindo de um país que teve até um primeiro-ministro (Menachem Begin) chamado de “terrorista” por intelectuais judeus, entre eles Hannah Arendt e Albert Einstein, por sua participação em atentados e massacres sob a bandeira do Irgun. Escrevi ainda que os palestinos negociam com grupos que não reconhecem o direito de existência de um Estado palestino (como o partido Likud, de Benjamin Netanyahu, cuja carta-programa não reconhece a existência da Palestina), então não havia razão para Israel se recusar a negociar com o Hamas.

Poderia lembrar ainda não ser possível a Israel aplicar o argumento de direito à segurança quando fala de foguetes enviados de território ocupado ilegalmente. Melhor seria evocar o direito de resistência de povos oprimidos contra situações de exceção. A melhor defesa de Israel é dar aos palestinos aquilo que lhes é de direito. Mas ele não pode fazê-lo, pois significaria entrar em rota de colisão com o núcleo religioso-nacionalista de sua sociedade que defende, entre outras, um Estado israelense até as margens do Rio Jordão.

A última vez que se tentou algo nesse sentido, um primeiro-ministro israelense (Yitzhak Rabin) foi assassinado... por um colono judeu. O que aconteceria se o governo de Israel quisesse desalojar os 520 mil colonos trancados na Cisjordânia em verdadeiras fortalezas, como Ariel, com metralhadoras Uzi a tiracolo? Avançar em direção à criação de um Estado palestino cioso das fronteiras de 1967 é, para o governo de Israel, quase um convite à guerra civil. A meu ver, isso explica o fato de Israel estar pronto para fazer de tudo para continuar a fazer nada. Seu governo não é capaz de confrontar o núcleo religioso que coloniza sua própria sociedade. Nesse sentido, como disse anteriormente, o melhor sócio do governo israelense é o Hamas, pois ele fornece a justificativa perfeita para sua política.

Sou daqueles que acreditam que o governo brasileiro agiu de maneira exemplar ao criticar as incursões militares em Gaza, sem citar o Hamas. Citá-lo seria, de certa forma, desculpar o governo de Israel por seus atos, na linha: “É triste todas essas mortes palestinas, mas o Hamas também provoca”. Tudo indica, porém, não ser do Hamas a responsabilidade pelo assassinato dos três colonos judeus, crime motivador do conflito atual. Mesmo se fosse, não se justificaria a punição coletiva cega e, acima de tudo, a ocupação ilegal, colonial e com práticas que lembram o apartheid sul-africano, como disse Andrew Felstein, antigo parlamentar judeu do Congresso sul-africano, do território palestino.

Fiz questão de lembrar que nada poderia servir para esquecer que o Hamas não é um aliado. Ao contrário, trata-se de um grupo que procura impor um modelo de sociedade religiosa demente e autoritária. O Hamas age para a libertação da Palestina e para sua transformação em Estado islâmico. Que os palestinos queiram ter uma só voz e se unir em uma situação de calamidade, deixando de lado a diferença entre seus projetos futuros de sociedade a fim de se defender do puro e simples desaparecimento, nada mais compreensível, racional e louvável. Agora, setores de esquerda acharem que podem, dessa forma, economizar críticas ao Hamas e esquecer que sua existência é um dos motivos do atraso político do mundo árabe, é ao meu ver imperdoável.

Por ter chamado de “gato” um gato, fui acusado de ser “pró-israelense”. Quem acompanha o que escrevo sobre o assunto na mídia nos últimos 15 anos só pode achar graça. Isso apenas demonstra o nível canino de um debate no qual, como se costuma dizer, o inimigo do meu inimigo aparece como meu amigo. Foi assim que certa esquerda continuou, até ontem, a acreditar que Kaddafi e Assad mereciam defesa.

A Primavera Árabe mostrou como povos da região não querem ser governados por grupos religiosos, vide o destino da Irmandade Muçulmana e do tunisiano Nahda. Os dois estão atualmente fora do governo. Cabe à esquerda fazer a crítica implacável a esses grupos. Vale a pena lembrar que boa parte do fracasso atual da revolta egípcia deve ser creditada na conta da Irmandade Muçulmana, que conseguiu pavimentar o retorno dos militares ao poder.

O artigo original da Carta Capital poderá ser visto por meio desse link aqui:


NOSSO COMENTÁRIO

Queremos agradecer o equilibrio demonstrado pelo jornalista Vladimir Safatle e à Carta Capital na pessoa do seu Editor Chefe, Mino Carta, pela coragem de confrontar todos os que se escondem atrás das mais variadas máscaras — como se estivéssemos num carnaval em plena Veneza — o que torna a leitura semanal da Carta Capital motivo de prazer e reflexão.

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