quinta-feira, 13 de agosto de 2015

UM ESTUDO SOBRE O PECADO — PARTE 014 — PECADO PARA A MORTE — PARTE C — INTERPRETAÇÕES CENTRADAS NOS DIFERENTES TIPOS DE PESSOAS QUE PODEM COMETER O PECADO IMPERDOÁVEL



Essa é uma série cujo propósito é estudar, com profundidade, os ensinamentos da Bíblia acerca do pecado, com uma ênfase especial na questão do chamado “pecado para a morte”. Os demais estudos dessa série poderão ser acessados por meio dos links alistados no final desse estudo.  

14C. Pecado Para a Morte — PARTE C

3 - Interpretações centradas em diferentes tipos de pessoas.

A passagem de João 3:18—21 é na opinião de vários estudiosos a que melhor explica a diferença entre “pecado não para a morte e pecado para  morte”. O texto de 1 João 5:16 atribui o pecado não para a morte a um “irmão”, i.e. a alguém que pertence à comunidade Joanina e que merece receber a intercessão de outros cristãos. Aqui temos que notar que o escritor cristão John Stott, no seu comentário nas Epístolas Joaninas, acredita que João não está se referindo literalmente a um irmão na fé, mas que João teria usado esse termo duma forma mais abrangente querendo significar “vizinho”, ou em relação a um cristão nominal, membro da igreja e que professe ser um “irmão”, mas não é irmão de verdade. Para dar sustentação à sua posição, Scott cita o uso que João faz da palavra “irmão” em — 

1 João 2:9—11: 

Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço. Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos. 

Neste contexto fica implícito que João pode estar se referindo àquele que odeia a seu irmão, como sendo alguém que pertence à comunidade, mas que não é irmão genuíno. Na opinião de Stott tanto o “irmão” que comete pecado não para a morte como aquele outro — que não é chamado diretamente de irmão — e que comete o pecado para a morte são incrédulos e perdidos, sendo que para o primeiro, existe a possibilidade de salvação, o que é negado ao segundo. Essa interpretação parece boa e pode até mesmo ser aceita de modo geral, não fosse um pequeno detalhe. Pessoas incrédulas, perdidas ou não cristãs, sejam pagãos ou judeus, não são o assunto tratado por João em suas epístolas, conforme até já mencionamos anteriormente. Não existe nenhum motivo que indique ou justifique João introduzir um assunto tão diverso daquele que ele vinha tratando durante toda a epístola, que eram os problemas causados por falsos irmãos que haviam abandonado a comunidade e tornaram-se inimigos da mesma, exatamente agora no final da epístola. 

No dualismo Joanino a vida eterna é possuída somente por aqueles que acreditam no nome do filho de Deus e o pecado para a morte é um pecado que só pode ser cometido por não irmãos, i.e., por aqueles que não acreditam no nome do filho de Deus. É neste sentido e baseado nas palavras de Jesus em —

João 16:8—9

Quando ele vier (o Espírito Santo), convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim. 

que João pode estar se referindo ao que ele chama de pecado para a morte. Outras passagens do Evangelho de João enfatizam essa verdade: 

João 8:17—21

Também na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim. Então, eles lhe perguntaram: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não me conheceis a mim nem a meu Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai. Proferiu ele estas palavras no lugar do gazofilácio, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque não era ainda chegada a sua hora. De outra feita, lhes falou, dizendo: Vou retirar-me, e vós me procurareis, mas perecereis no vosso pecado; para onde eu vou vós não podeis ir.

E novamente:

João 15:20 – 23

Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isso, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. Quem me odeia odeia também a meu Pai.       

Nessas duas passagens Jesus esta se referindo às pessoas incrédulas, e cuja atitudes de incredulidade estavam colocando-as na perdição e sem nenhuma desculpa possível que fosse aceitável. 

Em toda a extensão da primeira epístola de João aqueles que não crêem são sempre “ex-irmãos” que abandonaram a comunidade. Esses podem até pensar que são cristãos, mas na estimativa do apóstolo João eles não possuem a verdadeira vida — 1 João 3:12—18 —; são estes que abandonaram a comunhão (koinonia) com o Pai e o Filho — 1 João 1:2—3. De acordo com João aqueles que abandonam a comunhão são caracterizados como pertencendo ao reino das trevas, da mentira, do maligno e da morte. Dessa maneira faz sentido o autor desencorajar orações por este tipo de pessoas. Provavelmente João achava que orações por essas pessoas eram inúteis. Jesus mesmo, em Sua oração sacerdotal, se recusou a orar pelo mundo — João 17:9 — e de acordo com 1 João 4:5 estas pessoas pertencem ao mundo.

A parte final da primeira epístola de João visa encorajar os seguidores do autor, que são todos aqueles que possuem a vida verdadeira. A intenção de João é deixar claro para seus discípulos que o pecado não pode destruir todas as oportunidades para que a verdadeira vida se manifeste. Mas ao mesmo tempo em que insiste nesta verdade, João não tira os olhos de cima dos seus adversários e insiste que seus discípulos não devem orar pelos adversários, da mesma maneira que em 2 João 10—11 insiste que tais pessoas não devem sequer ser saudadas ou recebidas nos lares. 

Por se recusarem a crer em Jesus como o Cristo encarnado, bem como Filho de Deus — ver1 João 2:22; 3:23; 4:2—3; 5:1, 5, 10 — eles preferem as trevas em vez da luz. Essas pessoas que abandonaram a comunhão (koinonia) são os exemplos vivos e contínuos daqueles que Jesus mesmo condenou – ver João 3:18— 21. Ao mencionar a recusa dessas pessoas de crerem em Jesus como sendo “o pecado para a morte”, João está trazendo sobre eles a herança judaica do pecado deliberado, que não pode ser perdoado porque vai contra a Lei de Deus e envolve uma blasfêmia contra o nome de Deus. Por outro lado, João também está trazendo sobre eles a herança cristã do pecado imperdoável contra o Espírito Santo, que é atribuir ao diabo aquilo que pertence ao Cristo. Note bem, não estamos aqui contradizendo o que falamos anteriormente. Continuamos afirmando que João não está necessariamente falando dos mesmos pecados referidos tanto pela tradição judaica como pela tradição cristã. Estamos apenas querendo dizer que essas tradições suprem o fundo histórico necessário bem como a terminologia que permite a João passar um julgamento severo sobre essas pessoas. João está levando em conta que seus leitores conhecem tanto o fundo histórico como a terminologia e como essas se aplicam às pessoas que abandonaram a koinonia. João deseja que seus leitores resistam a qualquer tentação que os conduza a demonstrar uma afeição desordenada por estas pessoas orando por elas.

A conclusão a que estamos chegando, que João caracteriza o pecado para a morte como sendo a atitude de pessoas que tendo convivido na koinonia cristã se afastaram dessa mesma koinonia e passaram a atacá-la, está em perfeita harmonia com o dualismo Joanino mencionado há pouco. As tentativas de atribuir o pecado para a morte a algum tipo de pecado dentro da comunidade cristã decorre de uma compreensão equivocada de que esse pecado pode se cometido por um irmão verdadeiro. O que temos que nos lembrar é que o assunto central das Epístolas de João é a atitude de ex-irmãos cristãos que, tendo uma vez abandonado a koinonia, agora se voltam contra essa mesma koinonia procurando destruí-la.   

Conforme mencionamos antes essas pessoas são verdadeiros “anticristos”. Ao negarem o Filho mostravam que não possuíam também ao Pai — ver 1 João 2:22 —23; 2 João 9. Eles eram filhos do diabo e não filhos de Deus — ver 1 João 3:10. É verdade que essas pessoas foram a um tempo membros da congregação visível e passaram por irmãos verdadeiros. Mas abandonaram a comunidade e sua saída é uma prova contundente de que eles nunca foram dos “nossos” — ver 1 João 2:19. Uma vez que estas pessoas rejeitaram o Filho de Deus, abriram mão também da vida eterna — ver 1 João 5:12. O pecado que essas pessoas haviam cometido era, sem sombra de dúvida, o pecado acerca do qual João desaconselhava orar: o pecado para a morte.


OUTROS ESTUDOS SOBRE O PECADO

O PECADO — ESTUDO —001 — TERMOS GREGOS E HEBRAICOS E PALAVRAS INTRODUTÓRIAS

O PECADO — ESTUDO —002 — A QUEDA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 1

O PECADO — ESTUDO —003 — A QUEDA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 2

O PECADO — ESTUDO —004 — A QUEDA PROPRIAMENTE DITA — UMA INTERPRETAÇÃO DE GÊNESIS 3 — PARTE 3 — FINAL

O PECADO — ESTUDO 005 — A VERDADEIRA LIBERDADE

O PECADO — ESTUDO 006 — PECADO E LIVRE ARBÍTRIO

O PECADO — ESTUDO 007 — A BÍBLIA E O PELAGIANISMO

O PECADO — ESTUDO 008 — O PECADO E A SOBERANIA DE DEUS

O PECADO — ESTUDO 009 — HISTÓRIA E QUEDA

O PECADO — ESTUDOS 010 E 011 — O PECADO ORGINAL E A DEPRAVAÇÃO TOTAL

O PECADO — ESTUDOS 012 — PECADO E A GRAÇA DE DEUS

O PECADO — ESTUDOS 013ª — PECADO E  O CASTIGO PARTE A

O PECADO — ESTUDOS 013B — PECADO E O CASTIGO PARTE B — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 001

O PECADO — ESTUDOS 013C — PECADO E O CASTIGO PARTE C — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 002

O PECADO — ESTUDOS 013D — PECADO E O CASTIGO PARTE D — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 003

O PECADO — ESTUDOS 013E — PECADO E O CASTIGO PARTE E — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 004

O PECADO — ESTUDOS 013F — PECADO E O CASTIGO PARTE F — JESUS NO GETSÊMANI — PARTE 005

O PECADO — ESTUDOS 014A — O PECADO PARA A MORTE — PARTE A — INTRODUÇÃO — QUESTÕES HERMENÊUTICAS

O PECADO — ESTUDOS 014B — O PECADO PARA A MORTE — PARTE B —DIFERENTES TIPOS DE PENAS E CASTIGOS PARA O PECADO IMPERDOÁVEL

O PECADO — ESTUDOS 014C — O PECADO PARA A MORTE — PARTE C —DIFERENTES TIPOS DE PESSOAS QUE PODEM COMETER O  PECADO IMPERDOÁVEL
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2015/08/um-estudo-sobre-o-pecado-parte-014_13.html

Que Deus abençoe a todos. 

Alexandros Meimaridis 

PS. Pedimos a todos os nossos leitores que puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:


Desde já agradecemos a todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário