O artigo abaixo é da autoria de Ronaldo Lima Cunha, um colaborador do Blog O Grande Diálogo.
Em Atos 2:42-47 lemos a respeito de como era a vida dos irmãos da igreja primitiva:
42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.
43 Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos.
44 Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.
45 Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
46 Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração,
47 louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
Antes, porém de falarmos sobre o texto é importante destacar que alguns comentaristas do livro de Atos dos Apóstolos nos alertam para tomarmos o cuidado de não acharmos que a igreja primitiva não tinha problemas, pois quando continuamos a leitura do livro de Atos e das cartas de Paulo, vemos uma igreja lutando contra o pecado, a imoralidade, a hipocrisia, os falsos mestres, as heresias, as divisões e rivalidades, a apostasia etc.
Porém, nada disso pode tirar o foco de que essa igreja descrita por Lucas vivia a verdadeira transformação própria de pessoas que foram regeneradas pela presença e plenitude do Espírito Santo.
Podemos destacar quatro elementos que a caracterizam como modelo de uma igreja viva e cheia do Espírito Santo.
I. A primeira delas é o comprometimento com a verdade: “e perseveravam na doutrina dos apóstolos” — v.42.
Um ponto importante para que os irmãos saibam é que quando se falava do termo igreja ou ekklesia no contexto histórico do Novo Testamento, a mesma podia significara qualquer assembleia de pessoas que se reunisse por qualquer motivo ou afinidades.
Em nosso caso, que estamos tratando da igreja primitiva, a mesma não se refere a uma comunidade qualquer, mas de uma muito especial, criada pelo próprio Deus, reunindo todos aqueles que creram no evangelho de Jesus Cristo conforme
Atos 2:36-41
36 Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.
37 Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?
38 Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.
39 Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.
40 Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.
41 Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.
O texto que acabamos de ler é um trecho da pregação do apóstolo Pedro anunciado àquelas pessoas as boas novas do evangelho da qual, por meio de Cristo, Deus nos reconcilia consigo mesmo para fazermos parte de sua família, pois —
João 1:12
A todos quanto o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem em seu nome.
Essa é a verdade que une a igreja: que Cristo entregou-se por amor a ela e, comprando-a por alto preço, seu próprio sangue, nos deu a vida eterna.
Assim os que recebiam a Cristo perseveravam em obedecer a doutrina dos apóstolos, que é a própria Palavra de Deus. Esses irmãos testemunharam a vida de Jesus e foram comissionados a proclamaras verdades do reino de Deus.
Além da pregação do evangelho, a doutrina dos apóstolos conduzia o povo de Deus a —
2 Pedro 3:18
Crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo
Levando-os a buscarem uma vida de santidade:
João 17:17
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
para sermos cada vez mais semelhantes com a pessoa do Senhor Jesus.
Apesar de alguns hoje se autointitularem apóstolos, todas as pessoas que testemunharam a vida de Jesus estão mortas, mas seus escritos foram registrados na revelação completa de Deus, a Bíblia. E hoje perseverar na doutrina dos apóstolos significa tanto em buscarmos aprender mais das Escrituras, quanto ao fato de procurarmos não ser apenas ouvintes, mas praticantes dessas Palavras conforme —
Tiago 1:22
Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.
II. A segunda característica dessa igreja cheia do Espírito Santo está em sua vida de comunhão entre os irmãos —
Atos 2:44
Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.
Vejam que temos evidência de uma comunhão verdadeira. Eles não estavam “juntos” como se você estivesse espremido por milhares de pessoas no metrô em São Paulo, na hora do rush. Ou então quando você está fisicamente no mesmo lugar que outras pessoas, mas seu coração e pensamentos estão muito longe de quem está “junto” de você, como às vezes acontece em nossas igrejas. Estar de “corpo presente”, mas não vê a hora de acabar o culto para cuidar das coisas que “realmente importam”. Não era por medo, constrangimento nem para manter as aparências.Eles queriam estar juntos de verdade!
Aquela comunidade conhecia o que era o amor. Eles tinham sido alvos do amor de Deus, agora como irmãos, deveriam ter esse mesmo amor uns pelos outros, pois o amor é a evidência de uma igreja viva e verdadeira.
Da mesma forma nós que também fomos alvos desse mesmo amor devemos com a mesma medida amar nossos irmãos conforme lemos em —
1 João 3:16
Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos.
Não basta estarmos intelectualmente alicerçados na doutrina dos apóstolos, sem estarmos unidos uns com os outros em amor. Isso é ortodoxia morta e não é o que a Palavra de Deus nos ensina. O que Deus quer é que sejamos uma família unida, que aprendamos a perdoar uns aos outros e a se importar uns com os outros. Jesus nos diz o seguinte em —
João 13:34
Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros.
Porque será que existem pessoas que não querem mais viver em comunhão com os irmãos, não querem saber mais de igreja? Por que aumenta o número de crentes que se autodenominam “desigrejados”?
Alguns deles são de fato libertinos que não querem saber de igreja por não gostarem de se submeter a disciplina, a prestar contas de suas vidas, nem viver em comunhão e dão a desculpa da igreja ser uma instituição falida cheia de problemas e que não precisam dela para serem cristãos,afirmação essa que sabemos pelas Escrituras ser completamente falsa. Por outro lado sabemos que muitos outros são irmãos que saíram magoados de suas igrejas pela decepção, dor e sofrimento que sofreram e sentiram.
Muitas igrejas estão engessadas em suas tradições institucionais, sem o cuidado de uns pelos outros. Se tornaram lugares frios,repletas duma religiosidade morta.
A Palavra de Deus nos exorta que o relacionamento que temos uns com os outros define o relacionamento que temos com o próprio Deus conforme —
1 João 4:20
Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.
Outra questão que lemos nesse trecho de Atos 2:44 é que eles tinham tudo em comum, vendiam seus bens e distribuíam à medida que alguém tinha necessidade.
Essa atitude demonstra uma forma prática de abençoar aqueles que tinham alguma necessidade material. Como podemos dizer que amamos se temos pessoas em nosso meio precisando de ajuda e, tendo condições, não estendemos nossas mãos?
Romanos 12:15
Alegrai com os que se alegram e chorai com os que choram.
Romanos 12:5
Somos um só corpo.
Se um de nós está com problemas todos nós estamos! Jesus já nos alertou em Mateus 25 de como será o grande julgamento —
Tive fome e não me destes de comer, etc.
ou conforme a exortação de —
Tiago 2:15-16
Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano,e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?
Essas ações eram feitas de forma espontânea e generosa. Não tinha um mandamento explícito para isso, mas eles fizeram de forma voluntária.
III. O terceiro ponto que destacamos de uma igreja viva está em seu espirito de adoração.
Eles tinham verdadeiro temor a Deus. O adoravam de uma forma reverente, mas alegre, prazerosa, sem burocracias, rituais, sacerdotes etc. reunindo-se no templo e também nos lares para compartilhar a Ceia, cantar, aprender mais da Palavra de Deus e orar uns pelos outros.
Por terem uma vida em comum, e não apenas um momento semanal de culto, de apertos de mão, tapinhas nas costas, ois e tchaus eles tinham intimidade, conhecendo as necessidades, as lutas e os problemas enfrentados pelos irmãos e podiam orar especificamente pelas necessidades uns dos outros e com isso agir até como uma resposta de oração, socorrendo algum irmão necessitado com um aconselhamento, uma visita para alguém enfermo ou suprindo uma necessidade material etc.
Dessa forma, o culto prestado a Deus era um verdadeiro sacrifício de ações de graças —
Salmos 50:14
Oferece a Deus sacrifício de ações de graças e cumpre os teus votos para com o Altíssimo.
aceito com alegria por Deus porque vinha de corações que amavam a Jesus não apenas com palavras, mas com suas próprias vidas, cheios de misericórdia, guardando os mandamentos de Deus, sendo que o principal deles é o amor a Deus e o amor uns pelos outros.
IV. E por fim, o quarto item a destacarmos foi o bom testemunho que os irmãos da igreja primitiva alcançaram com os de fora.
O objetivo deles não era de serem aprovados pelos homens. Eles buscavam agradar a Deus e agindo dessa forma eles conseguiram ganhar a simpatia de todo o povo que pode ver uma comunidade que não era perfeita, mas se baseava em relacionamentos verdadeiros nos seus objetivos de cultuar a Deus e cuidar uns dos outros.
Não era uma igreja escandalosa e inoperante — como muitas das “igrejas” que vemos hoje — e dessa forma nós vemos como ela crescia. Não havia métodos de crescimento baseado em técnicas para atrair as pessoas como vemos hoje, nos quais muitos pastores adotam modelos empresariais de sucesso ministerial por meio do que os consultores de marketing entendem ser as formas mais eficazes para se crescer. Não! A evangelização era contínua, se dava de forma espontânea, pelo bom testemunho e pela pregação fiel das Escrituras, da mesma forma como Pedro fez em seu sermão de Atos 2 “e assim Deus acrescentava dia a dia os que iam sendo salvos”...
Aqueles que Deus acrescentava em sua igreja eram os que ouviam e criam no evangelho e viviam perseverando na doutrina dos apóstolos, amando e cuidando uns dos outros, cultuando a Deus em Espírito e em Verdade e testemunhando para o mundo o que era ser um cristão.
A igreja de Cristo vivia em meio a uma geração perversa e rebelde a Deus, mas que não se contaminavam com as paixões mundanas.
Agiam com integridade, cumprindo suas obrigações sociais e faziam tudo de forma excelente e feliz, não para o louvor de homens, mas para honra e glória de Deus!
Assim, encerramos essa mensagem com algumas perguntas:
1. Somos gratos a Deus pela nossa salvação por meio do sacrifício de Jesus?
2. Temos consciência do privilégio de sermos parte da igreja de Cristo?
3. Temos buscado seguir o exemplo da igreja primitiva para nos tornarmos uma igreja cheia do Espírito Santo?
Que Deus nos abençoe e nos ajude a vivermos uma vida abundante de amor e comunhão com nossos irmãos!
Ronaldo Lima Cunha
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