Papa Francisco I (Vincenzo Pinto/AFP)
O material abaixo foi publicado
pelo site da revista VEJA e assinado pelo jornalista Rinaldo Gama.
Entre
a fé e a razão
A fala do papa Francisco sobre o
Big Bang e a teoria da evolução faz parte de um esforço histórico — e difícil —
de convivência dos dogmas católicos com o pensamento científico
Por: Rinaldo Gama
Batalhas sombrias. Era assim que
Bertrand Russell (1872-1970), monumento da filosofia inglesa - frequentemente
ombreado com pensadores da estatura de John Locke, David Hume e John Stuart
Mill -, se referia aos seculares embates entre ciência e religião. Na semana
passada, o papa Francisco inscreveu seu nome na história dessa guerra - mas do
lado da paz, claro, como não poderia deixar de ser com o extraordinário Jorge
Mario Bergoglio. "Quando lemos no Gênesis sobre a criação, corremos o
risco de imaginar que Deus tenha agido como um mago, com uma varinha mágica
capaz de criar todas as coisas. Mas não é assim", disse ele diante de um
grupo de membros da Academia de Ciências do Vaticano, valendo-se de uma imagem
utilizada recentemente. E completou: "O Big Bang, que hoje temos como a
origem do mundo, não contradiz a intervenção criadora, mas a exige. A evolução
na natureza não é incompatível com a noção de criação, pois a evolução exige a
criação de seres que evoluem".
A segunda parte da declaração do
sumo pontífice causou alvoroço - muito mais em função da notável habilidade
comunicativa de Francisco do que por sua suposta novidade teológica. "Não
vejo razão para surpresa com a declaração do papa. A virada mais importante
nesse assunto aconteceu décadas atrás, com Pio XII. Foram duas as encíclicas
que prepararam a grande revolução da Igreja nesse sentido: a Humani Generis
(1950), em que se diz que o que quer que tenha havido veio de Deus; e a
encíclica Divino Afflante Spiritu (1943), que reconhecia hipóteses como as da
evolução e do Big Bang", explica Afonso Soares, teólogo e professor de
ciência da religião, da PUC-SP. "O discurso do papa reforça que assuntos
científicos não devem ser tratados como dogma", afirma ele. "Ciência
e religião são duas maneiras de pensar o mundo bem diferentes. A diferença essencial
é o dogma. No campo do conhecimento, o dogma não se sustenta", sublinha
Marcelo Gleiser, físico, astrônomo e professor de filosofia do Dartmouth
College, EUA.
Além de Pio XII, o papa João
Paulo II foi outro aliado de peso da bíblia evolucionista, o livro Da Origem
das Espécies por Meio da Seleção Natural (1859), do naturalista britânico
Charles Darwin (1809-1882). Em 1996, em uma mensagem enviada àquela mesma
Academia de Ciências do Vaticano - fundada em 1603 e que reúne oitenta
pesquisadores de vários países -, o papa polonês fez uma afirmação, ela sim,
surpreendente, em se tratando de Karol Wojtyla. No texto, João Paulo II
afirmava que "a teoria da evolução é mais do que uma hipótese". O
antecessor de Francisco, o papa emérito Bento XVI, foi mais conservador: apoiou
a tese do "design inteligente", desenvolvida por criacionistas
americanos e ligada a correntes evangélicas. Um dos colaboradores de Bento XVI,
o cardeal Christoph Schönborn, chegou a publicar um artigo, em 2005, no qual
defende a ancestralidade como fator evolutivo, mas rejeita a evolução "no
sentido neodarwinista, de um processo não planejado".
Está claro que o aceno de
Francisco à conciliação entre teologia e pensamento científico vem ao encontro
da posição progressista de Pio XII. Isso pode levar à ideia de que somente a
religião tem se esforçado para pôr fim às "batalhas sombrias" de que
falava Bertrand Russell em Religião e Ciência (1935), uma das obras que lhe
assegurariam o Prêmio Nobel de Literatura de 1950. Engano. Na realidade, a
sugestão de Pio XII está, de certo modo, alinhada ao que expressou um cientista
considerado uma das vítimas de maior vulto da intolerância da Igreja Católica,
o italiano Galileu Galilei (1564-1642) - sobretudo em sua célebre carta
dirigida à grã-duquesa Cristina de Lorena, em meados de 1615. A inspiração para
o texto - em que Galileu discute o geocentrismo e o heliocentrismo, buscando
compatibilizar o que diz a Bíblia com a teoria do polonês Nicolau Copérnico
(1473-1543) a respeito do tema - veio em um jantar realizado na corte da
Toscana, em dezembro de 1613. A ligação entre o cientista e a grã-duquesa era
longa. Em 1605, Cristina contratara Galileu como professor de seu filho,
Cósimo, que se tornaria grão-duque e um entusiasmado protetor do mestre.
Na carta - em realidade, um
tratado -, o cientista procura convencer as autoridades da Igreja de que não
havia razão para condenar a tese heliocêntrica de Copérnico, até porque,
argumenta, Natureza e Escritura seriam, ambas, obras de Deus. Para sustentar
que não havia conflito entre o texto bíblico e o copernicano, Galileu recorre
mais de uma vez a Santo Agostinho (354-430), caso desta passagem: "Se
acontece que a autoridade das Sagradas Escrituras é posta em oposição com uma
razão manifesta e certa, isto quer dizer que aquele que interpreta a Escritura
não a compreende de maneira conveniente; não é o sentido da Escritura que ele
não pode compreender, que se opõe à verdade, mas o sentido que ele quis lhe
dar". Agostinho não está na carta daquele que é tido como um dos criadores
da ciência moderna por acidente. Em uma de suas mais notáveis reflexões, feitas
exatamente a partir do Gênesis, o pensador de Tagaste (hoje Souk Ahras, na
Argélia) desmonta a pseudoquestão sobre o que Deus teria feito antes de criar o
Universo, disparando: "Se antes da criação do céu e da terra não havia
tempo, para que perguntar o que fazíeis então? Não podia haver 'então' onde não
havia tempo".
Em que pese sua sólida
argumentação, a carta de Galileu não foi capaz de impedir que o sistema de
Copérnico recebesse a condenação da Igreja, que colocou seu livro As Revoluções
dos Orbes Celestes no Index Librorum Prohibitorum, uma lista de obras cuja
leitura não era permitida aos católicos, na qual permaneceria até o século XIX.
O próprio Galileu seria convocado a ir ao Tribunal do Santo Ofício, que, em
1633, o considerou suspeito de heresia, por tentar provar a teoria
heliocêntrica, e o obrigou a negar suas convicções. Seria preciso esperar até
1992 para que João Paulo II o reabilitasse. Diz a lenda que, após desmentir a
si mesmo, o cientista teria murmurado: "Eppur si muove" (algo como
"Mas ela se move", numa referência à Terra em relação ao Sol). A
Igreja, pelo que se viu, também tem se movido - e o papa Francisco, modestamente,
vem se alinhar a essa órbita moderna. "Deus, arquiteto do universo,
proibiu o homem de provar os frutos da árvore da ciência, como se a ciência
fosse um veneno para a felicidade", escreveu Erasmo de Roterdã
(1469-1536). Faria sentido? Albert Einstein (1879-1955), o maior cientista do
século XX, pensava diferente: "A ciência sem a religião é manca, a
religião sem a ciência é cega".
(Com reportagem de Fernanda
Allegretti)
O artigo original poderá ser
visto por meio desse link aqui:
NOSSO COMENTÁRIO:
Não existe nenhuma contradição
definitiva entre o conhecimento científico e aquilo que está afirmado nas
Sagradas Escrituras – Francis Schaeffer
http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2011/09/santos-catolicos-podem-interceder-pelos.html
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Alexandros Meimaridis
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