O material abaixo foi publicado
pelo site da revista superinteressante e é da autoria de Érica Montenegro
Um
outro Jesus
Érica Montenegro
Os evangelhos apócrifos — textos
que foram proibidos pela Igreja e que desapareceram por mais de um milênio —
trazem um Jesus diferente daquele que conhecemos.
Quem não conheceu a si mesmo não
conhece nada, mas quem se conheceu veio a conhecer simultaneamente a
profundidade de todas as coisas.
Esta frase acima é atribuída a
Jesus Cristo. Mas não adianta ir procurá-la na Bíblia. Ela não está em nenhum
lugar dos Evangelhos de Lucas, Marcos, Mateus ou João, os únicos relatos da
vida de Jesus que a Igreja considera autênticos. A citação faz parte de um
outro evangelho – o de Tomé. Também não perca seu tempo procurando por esse
livro no Novo Testamento. Não há por lá nenhum evangelho com o nome do mais
cético dos apóstolos, aquele que queria "ver para crer".
Acontece que o texto existe. E é
um documento antigo – segundo alguns pesquisadores, tão antigo quanto os que
estão na Bíblia (veja quadro mais abaixo). O Evangelho de Tomé, assim como
outras dezenas – ou centenas – de textos semelhantes, foi escrito por alguns
dos primeiros cristãos, entre os séculos 1 e 3 da nossa era. Ele foi cultuado
por muito tempo. Até que, em 325, sob o comando do imperador romano
Constantino, a Igreja se reuniu na cidade de Niceia, na atual Turquia, e
definiu que, entre os inúmeros relatos sobre a vinda de Cristo que existiam, só
quatro eram "inspirados" pelo filho de Deus – os "evangelhos
canônicos" ("evangelho" vem da palavra grega que significa
"boa nova", usada para designar a notícia da chegada de Cristo, e
"canônico" é aquele que entrou para o cânone, a lista dos textos
escolhidos). Os outros eram "apócrifos" (de legitimidade duvidosa).
Esses foram proibidos, seus seguidores passaram a ser considerados hereges e
muitos foram excomungados, perseguidos, presos. A maioria dos apócrifos acabou
destruída e os textos sumiram, alguns para sempre.
Mas nem todos. O Evangelho de
Tomé, o de Filipe e o de Maria Madalena, por exemplo, escaparam por pouco da
destruição – graças a um egípcio anônimo. Em algum momento do século 4, esse
egípcio teve a boa idéia de esconder num jarro de barro cópias manuscritas na
língua copta desses textos e de muitos outros ameaçados pela perseguição da
Igreja. O jarro ficou 1 600 anos sob a areia do deserto. Acabou resgatado por
um grupo de beduínos, em 1945, perto da cidade egípcia de Nag Hammadi. Só nos
últimos anos os textos acabaram de ser traduzidos e chegaram ao conhecimento
dos cristãos do mundo.
Assim, por acidente, alguns
apócrifos sobreviveram ao tempo. E agora, 2 mil anos depois da morte de Cristo,
eles estão fazendo um tremendo sucesso. Inspiram filmes milionários (como
Matrix) e best sellers (como O Código Da Vinci). São adotados por seitas
cristãs, geram religiões, dão origem a teorias conspiratórias e são cada vez
mais lidos por fiéis do mundo, inclusive cristãos tradicionais, que não veem
contradição entre alguns desses textos e a religião que eles seguem. Só no
Brasil há pelo menos 30 grupos cujas crenças são baseadas nos apócrifos. Como
explicar essa súbita popularidade para textos que estiveram sumidos por mais de
um milênio e meio?
Talvez a principal razão seja o
fato de que os textos revelam mais sobre Jesus. Os quatro evangelhos canônicos
contam uma história fascinante, mas deixam muitas brechas. Os cristãos do mundo
têm vontade de saber mais sobre esse homem, ainda que seja através de textos que
a Igreja não considera legítimos.
E vários dos apócrifos trazem
passagens reveladoras para aqueles que tentam enxergar o homem por trás do
Deus. "É um Jesus mais humano, em situações mais próximas da vida de
homens e mulheres de hoje", diz o jornalista espanhol Juan Arias, do El
País, autor de livros sobre a história do cristianismo. Arias, que cobriu o
Vaticano por 14 anos, está terminando um livro em que resume as pesquisas
históricas a respeito de Maria. Um dos temas que ele examina é a falta de referência
em alguns apócrifos à virgindade da mãe de Jesus. "Que mulher se
identifica com outra que foi mãe sem perder a virgindade?", pergunta.
Além disso, vários apócrifos
trazem o retrato de um Jesus diferente do que conhecíamos. "As questões de
gênero, as relações de poder e até mesmo a espiritualidade estão colocadas em
termos mais ecumênicos e holísticos nos apócrifos", diz o frei franciscano
Jacir de Freitas Farias, professor do Instituto São Tomás de Aquino, em Belo
Horizonte. Frei Jacir promove retiros em que evangelhos apócrifos, meditação e
ioga se misturam para proporcionar conforto espiritual aos participantes.
Veja por exemplo aquela citação
lá atrás, a que abre a reportagem. O que está escrito ali é que nada é mais
importante que a sabedoria, e que o autoconhecimento é o caminho para a
sabedoria. Essa idéia – que não é muito diferente daquilo que prega o budismo –
está completamente ausente dos evangelhos de Mateus, Marcos, João e Lucas.
Qualquer bom cristão sabe que o Novo Testamento oferece um caminho de só duas
pistas para a salvação. Primeiro: é preciso ter fé (ela remove montanhas).
Segundo: suas ações têm que ser boas (ame o próximo como a si mesmo). Em nenhum
lugar há referência a outra rota para o Paraíso. Nem Lucas, nem Marcos, nem
Mateus, nem João mencionam a salvação pelo autoconhecimento, ou pela sabedoria.
Se o cristianismo tradicional
ignorava a importância do autoconhecimento, a idéia não é nova para nós,
ocidentais do século 21. Sigmund Freud, no século 19, trouxe para a ciência a
idéia de que há algo para ser descoberto dentro de nós mesmos – no caso, o
subconsciente – e que esse algo pode nos trazer conforto e felicidade. Talvez
esteja aí – na herança freudiana – uma das explicações para o sucesso dos
apócrifos nos tempos atuais.
Há outras. O Evangelho de Tomé e
outros apócrifos falam ao coração de um contingente que não pára de crescer nos
tempos atuais: os ávidos por espiritualidade, mas desconfiados da religião (é
bom lembrar que a maior parte dos católicos brasileiros se diz "não
praticante"). "O reino está dentro de vós e também em vosso exterior.
Quando conseguirdes conhecer a vós mesmos, sereis conhecidos e compreendereis
que sois os filhos do Pai Vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis na
pobreza e sereis a pobreza", diz o texto de Tomé.
Muitos apócrifos pregam também
códigos de conduta menos rígidos que os do cristianismo tradicional. Numa
passagem do Evangelho de Maria Madalena, Cristo diz que "eu não deixei
nenhuma ordem senão o que eu lhe ordenei, e eu não lhe dei nenhuma lei, como
fez o legislador, para que não seja limitada por ela". Esse trecho parece
contrariar a própria autoridade da Igreja. Em Tomé, também aparece um Jesus
menos dado a imposições, que diz "não façais aquilo que detestais, pois
todas as coisas são desveladas aos olhos do Céu". Bem diferente das aulas
de catecismo, não?
Outra novidade é que vários
apócrifos valorizam o papel da mulher. Os evangelhos de Filipe e de Maria
Madalena afirmam que Madalena recebia revelações privilegiadas do Salvador.
"O Senhor amava Maria mais do que todos os discípulos e a beijou na boca
repetidas vezes", afirma o de Filipe. Para Karen King, historiadora
eclesiástica da Universidade Harvard, Madalena estava tão autorizada a pregar a
palavra de Jesus quanto os 12 apóstolos. "Os textos mostram que Maria
Madalena entendeu os ensinamentos de Jesus melhor do que ninguém",
afirmou, em entrevista à revista National Geographic.
Sem falar que muitos apócrifos
deixam em segundo plano uma velha conhecida dos cristãos: a culpa. Você conhece
a história dos livros canônicos: eu e você somos pecadores, e Cristo morreu na
cruz para nos salvar. Nós pecamos, ele morreu – durma-se com isso na
consciência. Já os evangelhos de Tomé, Filipe e Maria Madalena não contêm uma
só linha sobre o julgamento e a condenação de Jesus. Ou seja, a Paixão de
Cristo, que hoje consideramos central para a fé cristã, não tinha a menor
importância para os seguidores desses textos. Nada de culpa, portanto. Ele traz
apenas charadas que convocam seus leitores a reflexões espirituais.
Para resumir: os apócrifos
revelam um Jesus mais democrático e menos sexista, mais tolerante e menos
autoritário – características que combinam com nossos dias. Eles eliminam a
culpa e abrem caminho para uma fé pessoal, algo que faz sucesso nestes tempos
individualistas. Sem falar que estão cercados de uma charmosa aura de mistério.
"Esta é uma sociedade que desconfia de qualquer instituição, então dizer
que eles foram condenados pela Igreja vira um chamariz e tanto", diz o
teólogo Pedro Vasconcellos, da PUC de São Paulo. Deu para entender por que eles
estão tão na moda?
Mas, afinal, que textos são
esses? Dá para dizer que eles são vestígios de cristianismos perdidos. Sim, é
isso mesmo: o cristianismo, no começo, não era um só, eram vários. "Nos
séculos 2 e 3, havia cristãos que acreditavam em um Deus. Outros insistiam que
Ele era dois. Alguns diziam que havia 30. Outros, 365", escreve Bart
Ehrman, professor de Estudos Religiosos na Universidade da Carolina do Norte,
no livro Lost Christianities ("Cristianismos Perdidos", sem versão em
português).
Os primeiros cristãos viviam em
comunidades clandestinas, que se reuniam às escondidas nas periferias das
cidades e que tinham pouco contato umas com as outras. Essas comunidades eram
lideradas muitas vezes por pessoas que conheceram Cristo ou pelos próprios
apóstolos. Como Cristo não deixou nada escrito, coube a essas primeiras
lideranças do cristianismo construir a religião.
Não há como saber se o Evangelho
de Mateus foi escrito pelo próprio Mateus. "Naquele tempo, como ainda
hoje, não faltava quem se candidatasse a pregar em nome de um personagem tão
importante", afirma o teólogo Paulo Nogueira, da Universidade Metodista de
São Paulo. Mas é bastante provável que o texto tenha sido construído a partir
dos ensinamentos do apóstolo recolhidos por seus seguidores. Da mesma forma, os
evangelhos de João, Pedro, Maria Madalena, Tomé e Filipe devem ter sido os
textos que guiavam as práticas dos grupos que se reuniram em torno dessas
figuras importantes da religião nascente (ou que buscaram inspiração nelas).
"Os evangelhos apócrifos, da mesma forma que os canônicos, não devem ser
encarados como reproduções exatas das palavras de Jesus Cristo, mas como
interpretações da mensagem dele feitas pelas primeiras comunidades
cristãs", diz o teólogo Vasconcellos. É claro que essas interpretações nem
sempre concordavam umas com as outras. E, portanto, é claro que, naquela aurora
do cristianismo, produziram-se diversos textos – muitas vezes contraditórios
entre si.
Entre os primeiros grupos
cristãos havia, por exemplo, os ebionitas, uma das seitas mais antigas. Eles se
consideravam judeus e achavam que Jesus era o Salvador apenas do povo hebreu.
Os ebionitas mantinham os rituais judaicos, rezavam voltados para Jerusalém e
acreditavam que Cristo tinha sido especial não por ser filho de Deus, mas por
ter seguido à perfeição a lei judaica.
No outro extremo, estavam os
marcionitas, para quem havia dois deuses. O primeiro deles seria um deus mau –
o deus dos judeus, responsável por tudo de ruim no planeta. Jesus seria o
segundo, um deus bom, que teria surgido para nos liberar da divindade maligna.
Esse cristianismo, que hoje soa bizarro, foi popular no começo do século 2,
antes de ser condenado como heresia em 139. Uma das razões para o sucesso é que
a tese de dois deuses exclui a culpa cristã. Se um deus mau criou o mundo, é
ele o responsável pelos sofrimentos sobre a terra.
Os gnósticos tinham crenças
aparentadas às dos marcionistas. Também para eles o mundo foi criado por uma
divindade imperfeita e não havia por que nos sentirmos culpados pelos males que
existem. A diferença é que os gnósticos acreditavam que o Deus bom influiu na
criação. Ele dotou cada um dos seres humanos de uma centelha divina – que nos
dava a capacidade de despertar dessa imperfeição e conhecer a verdade. Se
conseguirmos acumular conhecimento (gnosis, em grego), nos libertaremos desse
mundo mau e estaremos salvos. Cristo, para os gnósticos, seria um enviado desse
Deus verdadeiro, cujo objetivo seria nos ensinar a despertar. A escrita e a
leitura cumpririam um papel importante nesse processo, e por isso eles deixaram
muitos textos (boa parte dos apócrifos são gnósticos). Nota-se uma forte
influência da filosofia grega nesse cristianismo.
Há uma boa pitada de gnosticismo
naquela frase do Evangelho de Tomé que abre esta reportagem. Mas os tomasinos
(seguidores de Tomé) eram uma seita à parte. Eles também acreditavam na
salvação pelo conhecimento, mas iam além: pregavam que a busca é completamente
individual. Os tomasinos rejeitavam a hierarquia – e, portanto, a Igreja. A
salvação está dentro de cada um de nós e podemos atingi-la sem a ajuda de um
padre.
E havia, claro, os seguidores de
Paulo e os de Pedro, fortes especialmente em Roma, bem no centro do império.
Esse grupo, no início, não era maior nem mais representativo que os outros. A
proximidade com a burocracia estatal que administrava o Império Romano
certamente exerceu influência sobre ele – não é à toa que o cristianismo romano
era o mais organizado e hierarquizado de todos.
Cada uma dessas comunidades
cristãs seguia um certo conjunto de textos – e rejeitava outros. Mas a maioria
considerava legítimos os evangelhos de Marcos, Matias, Lucas e João, que
provavelmente são os mais antigos e menos controversos. Em 312, o imperador
romano Constantino se converteu ao cristianismo. E foi o cristianismo de Roma
que ele escolheu. Constantino administrava um império que era quase
"universal", e queria também uma "Igreja universal".
Quando, 13 anos depois, sob as ordens do imperador, a Igreja se reuniu para
decidir o que era o cristianismo, os bispos de Roma, mais organizados e com o
apoio decisivo do imperador, sobressaíram nas discussões. "O credo de
Nicéia acabaria por se tornar a doutrina oficial que todos os cristãos deveriam
aceitar para participar da Santa Igreja, a Igreja Católica", escreve o
teóloga Elaine Pagels, da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, no livro
Além de Toda Crença: O Evangelho Desconhecido de Tomé.
Os textos que não davam
importância à crucificação de Cristo acabaram proibidos. Afinal, a Igreja
romana, que cresceu em meio a violentas perseguições, valorizava muito o
martírio – associado ao martírio de Cristo. Os evangelhos dos tomasinos, que
pregavam a busca individual pela salvação, também caíram fora. A hierarquizada
Igreja de Roma obviamente não simpatizava com essas idéias libertárias. Entre
os textos que foram proibidos, vários faziam parte das bibliotecas gnósticas.
Para Eusébio de Cesária, que no século 4 escreveu o primeiro livro sobre a
história do cristianismo, o gnosticismo estava sendo introduzido pelo demônio,
"que odeia o que é Deus, que é inimigo da verdade, hostil à salvação do
mundo, voltando todas suas forças contra a Igreja". Acredita-se que os
manuscritos de Nag Hammadi sejam tesouros salvos da biblioteca gnóstica do
Mosteiro de São Pacômio, que ficava lá perto.
Ninguém sabe ao certo quantos
evangelhos foram suprimidos. O que se sabe é que só quatro livros foram
considerados "corretos". Apenas neles "o ensinamento das linhas
de Deus é proclamado. Não acrescentem nada a eles, não deixem nada se afastar
deles", segundo um decreto de um bispo de Alexandria. Daí para a frente,
haveria quatro evangelhos. E, pela primeira vez, um só cristianismo.
Voltemos então à pregação
gnóstica, expressa em vários dos evangelhos apócrifos. O mundo é mau por
natureza, mas cada um de nós traz dentro de si uma centelha e, se atingirmos o
conhecimento, iremos despertar. Jesus veio à Terra para nos ensinar o caminho.
Agora substitua nessa história o nome de Jesus pelo de Neo. E temos um dos
maiores sucessos pop dos últimos anos, a trilogia Matrix.
Matrix fez tanto sucesso porque
toca num tema com o qual é difícil não se identificar: a sensação de não
pertencer a esse mundo, de se sentir estranho nele, e de que ele é banal demais
para nossas altas aspirações espirituais. É claro que seria um absurdo dizer
que o sujeito que saiu do cinema empolgado com a saga dos irmãos Wachowski
tenha sido tocado pelo mesmo tipo de revelação que os cristãos envolvidos pelas
pregações gnósticas no século 2 ou 3. Mas talvez não seja por coincidência que
o roteiro, inspirado por textos gnósticos, tenha soado tão transcendental.
Os evangelhos apócrifos, assim
como os canônicos, foram escritos por pessoas inquietas, numa época conturbada
e difícil, em que as antigas respostas já não davam conta de acalmar os
espíritos. É claro que os tempos, hoje, são muito diferentes. Mas, de novo, boa
parte da humanidade está inquieta e insatisfeita com as respostas que existem.
Tem muita gente em busca de alguma coisa que torne nossa existência mais
transcendente, mais valiosa. E esses textos escritos por outros homens, numa
busca parecida, podem nos dar uma dica de onde começar a procurar.
Um dos critérios para explicar
por que só os evangelhos de Marcos, Lucas, Mateus e João entraram na Bíblia é a
datação. Um consenso entre os especialistas situa os canônicos como tendo sido
escritos entre 60 e 90. Já os apócrifos teriam sido produzidos a partir do
século 2. Mas também sobre essa questão pairam dúvidas.
Está lá no Evangelho de João.
Cristo disse: "Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não
viram e creram". Alguns pesquisadores, como a americana Elaine Pagels, da
Universidade Princeton, nos Estados Unidos, acham que o autor do texto, quando
o escreveu, estava respondendo ao Evangelho de Tomé. Se a tese dela está
correta, o Evangelho de Tomé é mais antigo que o de João.
Segundo essa teoria, o Evangelho
de João seria um esforço para negar que a salvação pudesse ser atingida pela
busca pessoal do autoconhecimento, tese central de Tomé. O Evangelho de João
coloca então Tomé no papel do cético exagerado que é repreendido por Cristo. E
conclui apontando um caminho mais simples para a salvação: basta acreditar
nela. A fé salva.
Evangelho - Evangelho de Pedro
Conteúdo - Provavelmente circulou no
século 2, tendo sua autoria atribuída ao apóstolo Pedro. Conta uma versão
diferente da ressurreição de Cristo: o Salvador teria sido conduzido ao céu por
dois anjos
Por que foi proibido - Foi acusado de uma
heresia chamada "docetismo", pela qual Jesus era somente espírito
Como foi descoberto - Arqueólogos
franceses encontraram um fragmento do texto na tumba de um monge no Egito, em
1886
Evangelho - Evangelho de Filipe
Conteúdo - Traz histórias que não estão
na Bíblia, como a de que Jesus mudava de aparência para conhecer aqueles a quem
se revelava. Sugere seu relacionamento com Madalena. Circulou no século 3
Por que foi proibido - Por ser gnóstico e
afirmar que só mulheres virgens entravam no Paraíso (o que inviabilizaria as
famílias)
Como foi descoberto - Foi encontrado em
1945, em meio aos manuscritos enterrados num vaso em Nag Hammadi
Evangelho - Evangelho de Maria Madalena
Conteúdo - Num dos poucos fragmentos que
restaram, Cristo ressuscitado instrui os discípulos a espalhar o gnosticismo e
avisa que não deixou leis. Afirma que Jesus transmitiu segredos a Madalena
Por que foi proibido - O texto é escrito
de acordo com o gnosticismo, que foi condenado como heresia
Como foi descoberto - Um pedaço foi
descoberto em um mosteiro egípcio em 1896. Outra versão estava em Nag Hammadi
Evangelho - Evangelho de Tomé
Conteúdo - São 114 frases atribuídas a
Jesus. Nelas, Ele afirma que a salvação vem do autoconhecimento e que a
centelha divina está em cada um. Alguns pesquisadores dizem que o texto é do
século 1
Por que foi proibido - Foi combatido
pelos primeiros padres da Igreja por causa de seu conteúdo gnóstico
Como foi descoberto - É um dos textos que
estavam perdidos até a descoberta de Nag Hammadi, em 1945
"Jesus disse ao jovem o que
devia fazer, e à noite este veio a ele com um vestido de linho sobre o corpo
nu. E ficaram juntos aquela noite, pois Jesus ensinou-lhe o mistério do reino
de Deus." Esse trecho explosivo foi divulgado nos anos 70 por Morton
Smith, pesquisador da Universidade da Califórnia.
Um Evangelho gay? Ou uma
falsificação competente?
Morton afirma que organizava a biblioteca do
mosteiro de Mar Saba, próximo a Jerusalém, em 1958, quando encontrou a citação
copiada na contracapa de um livro. O trecho teria vindo de um certo Evangelho
Secreto de Marcos, escrito pelo mesmo autor do Evangelho de Marcos.
Especialistas confirmaram que o
texto correspondia ao estilo do autor. Morton publicou dois livros polêmicos em
que defendia a tese de que a conjunção carnal fazia parte da iniciação cristã.
Seria uma grande descoberta, não fosse um detalhe: o único que viu o achado foi
o próprio Morton. O livro sumiu do mosteiro. Portanto, uma dúvida insolúvel
ronda o suposto evangelho homoerótico: seria verdadeiro ou uma fraude
engendrada por um exímio conhecedor de textos antigos?
Apócrito é POP
A trilogia Matrix não é o único
sinal da influência dos evangelhos apócrifos sobre a cultura pop. Outro que se
fartava na fonte era o autor de ficção científica Philip K. Dick. O escritor,
cujos livros inspiraram filmes como o clássico-mor do sci-fi, Blade Runner, e
também Minority Report (de Spielberg) e O Troco (de John Woo), era entusiasta
de textos gnósticos, que abasteceram a "dualidade bem e mal" em sua
obra. Outra história pop é a do relacionamento entre Maria Madalena e Jesus
Cristo. O megabest seller O Código Da Vinci, do americano Dan Brown, pega
carona nessa onda e sustenta uma trama mirabolante sobre os filhos de Jesus e
Madalena, que foi levado às telas em 2005, pelas mãos do diretor Ron Howard.
Hollywoodianamente, a influência dos apócrifos pôde ser vista até mesmo em
blockbusters descartáveis, caso do rocambolesco Stigmata. Nele, a atriz
Patricia Arquette é acometida pelas chagas de Cristo. Num clima de suspense de
segunda, o filme evoca os escritos de Tomé quando entra no assunto de que a
Igreja seria dispensável para que o cristão se aproximasse de Deus. Detalhe
bizarro: algumas cenas se passam no Brasil e os figurantes falam uma tosca
mistura de português, espanhol e italiano.
Na livraria:
Lost Christianities: The Battles
for Scripture and the Faiths We Never Knew - Bart D. Ehrman, Oxford University
Press, EUA, 2003
Além de Toda Crença: O Evangelho
Desconhecido de Tomé - Elaine Pagels, Objetiva, Rio de Janeiro, 2003
Apócrifos da Bíblia e
Pseudo-Epígrafos - Cristão Novo Século, São Paulo, 2004
As Origens Apócrifas do
Cristianismo - Jacir de Freitas Faria, Paulinas, São Paulo, 2003
Jesus, Esse Grande Desconhecido -
Juan Arias, Objetiva, Rio de Janeiro, 2002
O artigo original poderá ser lido
por meio do seguinte link:
NOSSO COMENTÁRIO:
Usando e abusando de citações
imprecisas a autora que não tem formação teológica, cria uma fantasia idêntica
às fantasias existentes nos evangelhos apócrifos e pseudoepigráficos. Ela trata
tanto sua própria fantasia como a que encontramos nos evangelhos apócrifos como
se fossem verdades às quais devemos nos submeter com exceção da citação
envolvendo uma suposta relação homossexual entre Jesus e um menor.
Nós cremos que todo esse
besteirol se perde por si mesmo, porque não está amparado em absolutamente nada,
mas apenas em opiniões de pessoas cujo propósito é apenas tentar destruir a
revelação da Palavra de Deus que é eterna e dura para sempre.
Queremos sugeris que nossos
leitores leiam e acompanhem nossa série sobre “INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO” cujos
três primeiros estudos poderão ser vistos por meio dos links abaixo. Nesses
estudos respondemos a toda esse besteirol fantasioso que não cansa de ser
repetido desde meados do século XVIII. Os links são os seguintes:
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO —
PARTE 001 — INTRODUÇÃO GERAL AOS EVANGELHOS — ESTUDO 001
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO —
PARTE 002 — A FORMA LITERÁRIA DOS EVANGELHOS
INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO —
PARTE 003 — MOTIVOS PORQUE OS EVANGELHOS FORAM ESCRITOS
Que Deus abençoe a todos
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que
puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
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