Sob o governo de Benjamin
Netanyahu não haverá Estado Palestino
O material abaixo foi publicado
pelo site da Revista Carta Capital.
Como é ser árabe sob a ocupação
israelense?
"Life in Occupied
Palestine", textos de um jornal acadêmico reunidos em livro disponível
grátis por meio do Project Muse, retrata o sofrimento de um povo
Por Gianni Carta
Sob o governo de Benjamin
Netanyahu não haverá Estado Palestino. Eis a principal promessa do premier
israelense durante a campanha que o levou à sua quarta vitória consecutiva nas
eleições legislativas de 17 de março. Saibam os mal informados a respeito de
Netanyahu, agora com 65 anos, que ele jamais levou a sério “a solução de dois
Estados”. E, a quem ignora as brutalidades perpetradas por Israel contra os
palestinos, recomendo Life in Occupied Palestine, em Biography, publicação
trimestral da Universidade do Havaí. O volume, publicado na primavera de 2014 e
editado por Cynthia Franklin, Morgan Cooper e Ibrahim G. Aoude, “está
disponível gratuitamente através do Project Muse, na internet, e cópias
impressas também estão à disposição”, conforme Franklin esclarece.
Trata-se de uma compilação de
textos edificantes para interessados em saber mais sobre as atrocidades
israelenses, e também para estudiosos do tema. Life in Occupied Palestine
oferece uma visão ampla, por dois motivos. Primeiro, os artigos são
redigidos por acadêmicos de diferentes áreas e, portanto, com distintas
abordagens e percepções da Palestina. Segundo, os autores têm diferentes
origens e nacionalidades. Resultado: a edição especial torna-se um debate
multicultural sobre a Palestina.
Magid Shihade, cientista político
da Universidade de Birzeit, na Cisjordânia, relata “como o Estado colonial
israelense interrompeu, de forma sistemática, a mobilidade, a memória e a
identidade local e regional dos palestinos em Israel em geral”. Shihade
estrutura seu artigo em torno de dois piqueniques, realizados em 1962 e 1972,
nas cercanias do vilarejo de Kafr Yassif, colonizado em 1948. O acadêmico nos
sustenta que “os governantes britânicos coloniais”, e principalmente os EUA,
traíram a Palestina ao “entregá-la” aos sionistas. “Armados e financiados por
diferentes países ocidentais, (os sionistas) destruíram todos os centros
urbanos erguidos pelos palestinos antes de 1948.” Mais: “Deslocaram cerca de
84% da sociedade palestina, e arrasaram centenas de vilarejos e cidades”. O
texto de Shihade aborda temas como a alienação, o medo, o racismo. E a transformação
de povoados árabes de dimensões diversas em guetos.
Refaat R. Alareer, professor de
Literatura Mundial na Universidade Islâmica em Gaza, conta como palestinos
aprendem sobre o passado e a cultura com idosos em suas famílias. Os temas,
aliás, “vão muito além do entretenimento”. Cynthia Franklin, professora de
Inglês na Universidade do Havaí, diz ser favorável à “urgente necessidade de
acabar com a colonização de Israel, a limpeza étnica e ocupação da Palestina”.
Já a co-editora americana Morgan Cooper, residente há mais de uma década em
Ramallah, onde é proprietária do Café la Vie, diz ter crescido “em uma
sociedade onde o sionismo parecia ser um senso comum”. Por isso, levou um longo
tempo “para juntar as peças e identificar o que estava errado”.
Life in Occupied Palestine tem
esse objetivo: o de “desafiar a narrativa sionista” de acontecimentos na
Palestina reportados (ou não quando antissionista) pelo The New York Times e
outras dominantes plataformas midiáticas neoliberais dos EUA e fontes israelenses
(...)”, resume Franklin. E é preciso acrescentar que, com raras exceções, a
mídia ocidental é pró-Israel.
Franklin observa como Tel-Aviv
lançou uma operação militar para encontrar três estudantes yeshivá,
supostamente sequestrados em Hebron, em junho de 2014, pelo “grupo terrorista
árabe” Hamas, o partido eleito diretamente, e a governar a Faixa de Gaza desde
2007. O Hamas tem um braço armado, visto que a faixa encontra-se sitiada pelos
israelenses, e é considerada a maior prisão do mudo.
Em busca dos três estudantes na
Cisjordânia, as Forças de Defesa de Israel (IDF, em inglês) invadiram
universidades, cidades, aldeias. Seis palestinos perderam a vida. A invasão da
Cisjordânia precedeu a guerra contra Gaza, no verão de 2014. Netanyahu retaliou
por duas razões iniciais. O objetivo-mor era eliminar o Hamas, acusado de ter
sequestrado e matado os três estudantes na Cisjordânia. E de haver lançado
foguetes Qassam contra território israelense. No entanto, investigadores
independentes informaram que o Hamas não havia organizado e realizado o
sequestro, que resultara na morte dos estudantes. Os autores do sequestro e do
lançamento de foguetes foram grupos radicais de Gaza, que consideram branda a
ação do Hamas.
Netanyahu deslocou a atenção de
seus compatriotas, e da mídia global, para os túneis construídos pelo Hamas
para lutar contra as tropas da IDF em Gaza e em Israel. Os túneis também
destinam-se inclusive a armazenar armas, e contrabandear produtos não
permitidos para os palestinos. Os israelenses destruíram 40 túneis, mas vários
permanecem intactos. As disparidades em termos de baixas entre os israelenses,
a maioria soldados, e os palestinos são enormes. Durante a guerra de Gaza, de
50 dias, mais de 2,1 mil palestinos morreram. A grande maioria civis. As baixas
israelenses são 66 soldados e civis.
Franklin diz a CartaCapital: “A
melhor esperança é a de obrigar o governo israelense a respeitar o direito
internacional, de acordo com o movimento BDS, isto é, Boicote, Desinvestimento
e Sanções”. Cooper, por sua vez, aplaude a resistência armada a uma ocupação
“ilegal e imoral”. Um fato trágico a marcou para sempre: viu um menino
palestino de 15 anos de idade ser queimado vivo por soldados israelenses. “A
ocupação militar israelense e a colonização da Palestina são ilegais e
imorais”.
*Reportagem publicada
originalmente na edição 845 de CartaCapital, com título "Ser árabe sob o
tacão de Israel" que poderá ser vista por meio desse link aqui:
O artigo original Life in
Occupied Palestine poder ser lido ou baixado por meio desse link aqui
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Alexandros Meimaridis
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