Por enquanto, grandes emoções prevalecem
Que ninguém pense, nem por um
segundo, que o Blog o Grande Diálogo concorda com o assassinato de qualquer
pessoa, seja ela quem for. Condenamos com toda veemência os acontecimentos
ocorridos na França nos últimos dias.
Por outro lado, ficamos estarrecidos
de ver as manifestações hipócritas expressadas nos discursos, nas vigílias, nas
velas acesas, nas flores colocadas em memoriais improvisados, apenas, e somente
apenas, porque as vítimas nesses casos eram cidadãos de nacionalidade francesa.
Tudo isso nos lembrou a gigantesca mentira e hipocrisia que foi encenada no 11
de Setembro de 2001.
Num primeiro momento pensamos em
escrever um artigo todo nosso, mas como o tempo andou meio escasso para
coletarmos todos o material necessários preferimos optar por reproduzir uma
análise de alguém que escreveu o muito que nós mesmos gostaríamos de ter
escrito.
O material abaixo foi publicado
no site da Revista Carta Capital e é de autoria de Giani Carta.
Chore por mim, França
Há muitas razões para justificar
as lágrimas
por Gianni Carta
Um Profeta chora na charge na
capa da edição de quarta-feira 14 de Charlie Hebdo. Exibe um
cartaz, “Je suis Charlie”. Mais: “Tudo está perdoado”. Luz, 43 anos, autor da
caricatura, diz à imprensa ter chorado ao desenhar Maomé. Chorou a morte
de cinco companheiros cartunistas, entre os melhores chargistas do país, e
de mais cinco pessoas e dois policiais. Aconteceu na quarta-feira 7, na redação
do Charlie Hebdo. Armados de Kalashnikovs e um lança-granadas, os
irmãos parisienses Chérif e Said Kouachi, de 32 e 34 anos, convertidos ao Islã
radical e treinados no Iêmen, concluíram a chacina em dez minutos.
Durante a fuga dos Kouachi,
entrou em ação Amedy Coulibaly, outro francês convertido ao radicalismo, de 32
anos, e o provável líder da célula. Segundo o diário Le Figaro, os
irmãos haviam recebido 20 mil dólares no Iêmen para agir com Coulibaly.
Esperaram, portanto, a saída dele da prisão, onde cumpria pena por roubo.
Coulibaly assassinou uma policial ao sul de Paris e mais quatro homens em um
supermercado kosher. Quando a polícia ainda procurava a mulher de Coulibaly,
Hayat Boumediene, ela já estava na Síria. Com Hayat foi identificado um rapaz,
aparentemente envolvido na operação, Mehdi Sabry Belhoucine, cidadão francês de
23 anos. No meio-tempo, Nasser ben Ali al-Anassi, líder do Al-Qaeda na
Península Arábica (Aqpa), reivindicou os atentados para “vingar” o Profeta.
Luz, o decano a substituir outros
caricaturistas talentosos como Cabu e Wolinski, chorou como tantos franceses
sob estado de choque. A França viveu o seu 11 de Setembro. Um ataque à
República, não contra a imprensa livre, como insiste a vasta maioria. Segundo o
Alcorão, Alá e o Profeta não podem ser retratados. Isso fica claro no capítulo
42, versículo 11: “(Alá) é o criador dos céus e da terra ... não há nada
que se assemelhe a ele”. E eis o capítulo 21, versículos 52 a 54: “(Abraão)
disse ao pai e ao povo: ‘Por que a adoração por essas imagens que vos unem?
‘Eles disseram: Vemos nossos pais a adorá-las. Ele disse: Certamente vocês têm
cometido, juntamente com vossos pais, em erro manifesto”. Para resumir, na
religião muçulmana imagens não podem ser idolatradas, e sim o divino. É preciso
respeitar as religiões. Vale lembrar que a velha redação de Charlie
Hebdo já tinha sido destruída em um atentado em novembro de 2011. Seu
editor, Charb, de 47 anos, estava sob proteção policial. Idem a redação, que
havia sido transferida para um pequeno prédio nas proximidades da Praça da
Bastilha. Charb aceitou o risco.
No momento, gestos guiados pelas
grandes emoções prevalecem sobre aqueles ancorados na razão. Por essas e
outras, representantes da mídia e o governo deram ajuda financeira ao Charlie
Hebdo. Disse o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve: “Denfendemos a
imprensa livre”. Na quarta-feira 14, 3 milhões de exemplares, em vez dos
costumeiros 60 mil, estavam esgotados às 10 da manhã. Uma hora antes fui a
cinco bancas, algumas delas com cartazes nos quais se lia: “Charlie Hebdo esgotado”.
Indaguei uma mulher, a empunhar um exemplar, onde ela tinha conseguido o
dela: “Fiquei em uma fila desde as 6 da manhã”. Mais 2 milhões de exemplares,
com charges inéditas dos cartunistas mortos, seriam impressos nos próximos dias.
O diário italianoIl Fatto Quotidiano teve direito a reproduzir um
suplemento com as 16 páginas do Charlie Hebdo. Disponíveis mais de
10 mil cópias do semanário satírico na Alemanha em francês e alemão. No mundo
árabe, o quadro é diferente: proibidas as vendas no Egito, na Argélia etc.
Quase 2 mil manifestantes gritaram em uníssono nas Filipinas: “Je ne suis pas
Charlie”.
Um contraste com o povo a gritar
“Je suis Charlie. Nous sommes touts Charlie”, na marcha pela liberdade no
domingo 11. Mais de 1,5 milhão de parisienses de um total de 3,7 milhões de
cidadãos França afora foram às ruas para protestar contra o terrorismo e pela
liberdade de imprensa, inclusive aquela de retratar agressivamente, no país da liberté,
o Profeta. Não escassearam velas, buquês de flores nos lugares onde houve
atentados. Desfilaram importantes símbolos da República: a tricolor, Joana
D’Arc, e Marianne, a simbólica mãe da nação a encarnar os valores Égalité,
Liberté et Fraternité. Cidadãos de todas as inclinações ideológicas e crenças
mostraram aos radicais islamitas que não se dobram diante do terrorismo.
O presidente François Hollande exprimiu-se com dignidade e no tom apropriado.
Naqueles momentos de emoção à flor da pele reinava o patriotismo. Perigoso a
curto prazo, quando a sobriedade pouco a pouco volta à tona.
Sob escolta policial e a viver
com a família em endereços desconhecidos desde a publicação de um texto
seu criticando o Profeta publicado pelo diário Le Figaro em
2006, o filósofo Robert Redeker enviou, a meu pedido, um texto sobre os
eventos. Nele se compara ao filósofo comunista Georges Politzer, fuzilado em
maio de 1944, durante a Resistência, a entoar a Marselhesa. Mais:
“Eles (os caricaturistas) morreram pela França”. São heróis. O artigo de
Redeker, entrevistado em diversas ocasiões por CartaCapital, contrasta
com a entrevista telefônica com Magid Shihade, professor visitante de ciências
políticas da Universidade da Califórnia. Diz Shihade: “Assassinatos
perpetrados por militantes treinados pelos EUA contra cidadãos inocentes no
Afeganistão são acidentes colaterais e não têm repercussão alguma para
americanos, europeus e as autoridades israelenses”. Por outro lado, observa
Shihade, “essa violência simbólica, como desenhos animados ou queimar o
Alcorão, são mais importantes do que matar milhões no Afeganistão, Iraque,
Síria, Líbano e Palestina. Por quê?”
Embora tenha ganhado popularidade
com os atentados, Hollande tem pela frente uma dura luta contra a legenda de
extrema-direita Frente Nacional, de Marine Le Pen. Do seu canto, ela tem
inflamado o povo com o costumeiro desdém pelo muçulmano. De qualquer modo, as
gafes dos líderes moderados já começaram. Após a inflamada frase “A França é
capital do mundo”, que parece conferir demasiado mérito à capital francesa,
críticos perceberam o óbvio: várias autoridades convidadas às pressas eram
líderes em cujos países o termo “liberdade” é palavrão. Com a exceção de alguns
premiers, como o italiano Matteo Renzi e o britânico David Cameron, o
israelense Benjamin Netanyahu, sem contar alguns líderes árabes, causou
constrangimento. Às vésperas das eleições em Israel, Netanyahu foi, cercado de
cem agentes do Mossad, ao supermercado kosher, onde morreram quatro
judeus. Anunciou: “Venham viver em Israel, terra dos judeus”. Irritado, rebateu
o premier francês Manuel Valls: “Eles são franceses e judeus, esta é a terra
deles”. Vários judeus franceses são antissionistas. Ou ateus e agnósticos. Como
se isso não bastasse, Netanyahu entrou
em outra polêmica: comparou os terroristas franceses com os integrantes da
legenda com braço armado Hamas, em Gaza, e com o Hezbollah, a legenda xiita
libanesa também com braço armado. E aproveitou para fundir todos os grupos
terroristas no Hamas. Detalhe: este foi tirado da lista de grupos terroristas
pela União Europeia. Observa Shihade: “Naturalmente, as autoridades israelenses
estão felizes com o atual contexto, porque podem utilizar os atentados na sua
manipulação cínica de tentar unir o mundo inteiro contra os palestinos”. Ao
mesmo tempo, negam a violência de Israel e o “choque de civilização”, tese do
sionista Samuel Huntington. “Nesse meio-tempo, os palestinos continuam
subjugados à repressão e assassinatos, assim como milhões de árabes e
muçulmanos.”
Luz substituiu Cabu e Wolinski
para desenhar a charge da edição pós-massacre e vender 3 milhões de exemplares
até 10h da manhã.
Por outro lado, a França não é
tão liberal, no sentido político, quanto parece. Em 20 de julho de 2014, Valls
proibiu os protestos pró-Palestina, então sofrendo baixas de civis por conta de
ataques israelenses, e da violência de alguns manifestantes. Outro motivo: o
crescente antissemitismo nas redes sociais. Os manifestantes foram adiante. Ao
norte de Paris, no bairro de Barbès, houve um confronto com a polícia: pedras e
garrafas contra bombas de gás lacrimogêneo. Cenário de guerrilha urbana. Sob
pressão de organizações muçulmanas, o governo cedeu. Fui a dois protestos, em
agosto. Não houve nenhum conflito com a polícia.
Ex-ministro do Interior, Valls,
como Nicolas Sarkozy, diz: “A França está em estado de guerra”. Slogans,
inclusive Je suis Charlie. “São importantes porque definem as causas pelas
quais lutamos.” Talvez Valls precise aprender um pouco sobre o tema. Como a
direita reacionária, o conservador Valls certamente deve ser favorável a um Patriot
Act francês. Em suma, uma legislação de exceção provisória, em
princípio. Nos EUA, qualquer suspeito pode acabar em Guantánamo. Treze anos
após ter sido aprovado, o Patriot Act continua em vigor. Na França
haverá um “estado de urgência” com “centros de detenção”. Resta saber o quão o
“estado de urgência” se assemelha ao Patriot Act. Em entrevista ao
diário italiano La Repubblica, o
filósofo Giorgio Agamben explica que se entende por “guerra” conflitos entre
potências e, portanto, a palavra não se aplica ao caso do terrorismo. Agamben
emenda que foi esse “equívoco” o motivo a ter levado George W. Bush, a invadir
o Iraque em 2003. Matou “dezenas de milhares de pessoas”, cujas mortes
provavelmente provocaram os assassinatos “pelos quais hoje chora Paris”.
Outra questão espinhosa: a França
não tem uma lei contra a blasfêmia, como a Irlanda e a Grécia. No entanto, o
racismo e a incitação racial são proibidos. Difícil distinguir entre as duas
definições. Joelle Fiss, especialista em Direitos do Homem, explica em uma
coluna no Libération: ao contrário da incitação racial e
religiosa, o insulto não gera consequências. No entanto, Fiss parece não
acreditar que a blasfêmia pode ser tida como incitação religiosa.
Encontro uma professora de nível
colegial para entender como ela explica os atentados radicais para seus alunos.
“Mostro para eles as caricaturas, digo que a França é um país livre. Os
cartunistas não mereciam ser assassinados, mas exageraram.” A professora diz
que, quando mostra as caricaturas de Maomé, alguns alunos ficam chocados,
especialmente, é claro, os de origem árabe. “Eles até certa idade compreendem
melhor a imagem, e muito menos a abstração.” O problema – continua a professora
– é que seus alunos em uma escola dos subúrbios, especialmente os de origem
árabe, sentem-se marginalizados. Acrescenta: “Do meu subúrbio, verdadeiro
gueto, não há metrô direto para Paris”. Um jovem tem de tomar dois, três ônibus
para vir paquerar em Paris. “Lembro de um deles, anos atrás, menino bonito,
perdido, mais tarde sem emprego. Disse que encontrou na religião muçulmana um norte.
Será que ele não poderia ter se radicalizado e ser hoje um jihadista?”
Quinta 15. O estado de alerta
máximo continua. Mais de 10 mil policiais e soldados armados de metralhadoras
em Paris testemunham o temor de uma nova onda de atentados. Em entrevista ao
diário Libération, a brigada criminal de Paris fala em “um, dois,
12 cúmplices”. A polícia estaria atrás de um quarto terrorista, provável
responsável pelo ataque com uma arma de fogo contra um homem que praticava jogging em
um parque. Ele se locomoveria por Paris com um Mini Cooper, cuja dona seria
Hayat, a mulher de Coulibaly. Antes de entrar em estado de coma, o atingido
teria feito um retrato para a polícia que não corresponde a nenhum dos três
terroristas mortos pela polícia.
O artigo original de Carta
Capital pode ser visto por meio desse link aqui:
NOSSO COMENTÁRIO:
A PSEUDOLIBERDADE HUMANA E A
VERDADEIRA LIBERDADE CRISTÃ
A liberdade pretendida pelos
seres humanos, especialmente no ocidente é uma liberdade onde vale tudo, desde
que tenha origem no próprio oriente. Ela não é uma liberdade aceitável se tiver
origem em outros lugares.
A grande verdade que nós como
crente devemos usar para pautar o uso da liberdade está bem caracterizado pelo
que disse o apóstolo Paulo quando escreveu:
1 Coríntios 8:13
E, por isso, se a
comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não
venha a escandalizá-lo.
Ou seja, o cristão tem a obrigação
de evitar fazer qualquer coisa que ele sabe ira escandalizar seu irmão e,
certamente, isso pode ser estendido ainda mais para os incrédulos a quem
queremos ganhar para Cristo e não escandalizá-los.
Que Deus abençoe a todos.
Alexandros Meimaridis
PS. Pedimos a todos os nossos leitores que
puderem que “curtam” nossa página no Facebook através do seguinte link:
Desde já agradecemos a todos.
Concordo integralmente com o artigo.
ResponderExcluirAliás, fui extremamente criticado quando postei um comentário dizendo que os chargistas do JORNALECO Charlie Hebdo pagaram pra ver e tiveram o destino que eles apostaram que os radicais islâmicos não ousariam aplicar-lhes, pelo "simples" fato deles ridicularizarem todos os dias, por vários anos, símbolos sagrados do islamismo, como costumam fazer também de forma ainda mais acintosa com símbolos cristãos.
Acrescentei que, nem de longe isso se confunde com liberdade de expressão, pois esta, não traz implícita o direito de desrespeitar o diferente da forma mais sórdida possível, como faz o Charlie Hebdo.
Um sujeito de dizeres ateus, me retrucou que os islâmicos poderiam simplesmente ter acionado o tal JORNALECO judicialmente. Ao que lhe respondi: - Em que instância judicial no Ocidente você acha que os islâmicos serão atendidos em sua reclamação, por serem diuturnamente desrespeitados da forma mais vil e baixa, como faz esse jornal, já que, o Judiciário em todos os países do Ocidente, com raras exceções consideram o vilipêndio diário do tal jornal mera "liberdade de expressão"? (Silêncio total).
Também não concordo com assassinatos por motivos de opinião, mas os radicais islâmicos pensam que tem o direito de tirar a vida de quem blasfema de sua Fé, assim como o Ocidente acredita que pode desrespeitar a Fé alheia sem quaisquer limites ou punição.
Caro Joel,
ExcluirObrigado pelo teu comentário e por ter acrescentado alguns fatos que eu desconhecia, mas que pude aprender com você.
Que Deus te abençoe.
Irmão Alexandros .