segunda-feira, 17 de março de 2014

O CRISTÃO PODE JULGAR?

 

Muitos leitores que me escrevem nos acusam de estar transgredindo contra as palavras de Jesus em Mateus 7, quando Ele diz: Não julgueis para que não sejais julgados.

A maioria das pessoas que nos escrevem não entendem esse texto e nem me escrevem como se fosse algo motivado por eles mesmos. Pelo contrário, eles estão apenas repetindo as palavras que aprenderam com os falsos mestres, que fazem mau uso das Escrituras nesse contexto, com o objetivo de evitar serem criticados e, consequentemente, expostos por aquilo que realmente são: LOBOS EM PELE DE CORDEIROS.

Então, com o objetivo de ajudar a todos os leitores em geral, mas de modo especial, esse pessoal vitimado pelos falso mestres, estamos publicando esse artigo, explicando, de forma bíblica, que o cristão não apenas pode julgar, mas que ele tem a obrigação de agir assim, sob pena de tornar-se cúmplice de todos os falsos mestres e mestras que existem por aí, aos milhares.

Desejamos que todos possam fazer uma leitura, ponderada do nosso texto abaixo, e se ainda existirem dúvidas, poderão nos escrever para serem melhor esclarecidos

Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim? – Jeremias 5:30-31

Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça. – João 7:24

Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida! Entretanto, vós, quando tendes a julgar negócios terrenos, constituís um tribunal daqueles que não têm nenhuma aceitação na igreja. Para vergonha vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade? 1 Coríntios 6:2—5

Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti -lhe face a face, porque se tornara repreensível. Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar -se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles. Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos... Gálatas 2:11—14.

INTRODUÇÃO

O cristão pode julgar? Esta é uma pergunta que poderia ser irrelevante. Poderia não fosse a impressionante realidade que estamos vivenciando nos dias de hoje. Este autor tem escritos diversos artigos publicados nesse blog os quais têm motivado alguns leitores a lhe escreverem mensagens eletrônicas. Alguns escrevem para agradecer, outros apenas para elogiar e outros para expressar sentimentos que variam de frustração à ira. Entres este último grupo as críticas podem ser facilmente classificadas em quatro categorias, a saber:

1) Em primeiro lugar, o campeão disparado, é a citação de alguns versículos bíblicos, com especial ênfase nas passagens de Mateus 7:1—5 e Romanos 14:4 e 10 visando mostrar quão errado, impróprio e até anti-cristão é o ato de julgar.

2) Em segundo lugar estão aqueles que sugerem que não é possível julgar a ninguém porque somente Deus sabe os verdadeiros motivos das pessoas. Estes sugerem que devemos deixar tudo correr como tem que correr e aguardar o juízo final de Deus.

3) Em terceiro lugar está a turma do “deixa disso” alegando que toda crítica é perniciosa e causa divisões no corpo de Cristo. “Irmão Alex”, me escrevem “temos que manter a unidade a qualquer custo”.

4) Em quarto lugar estão aqueles que pedem para que nomes não sejam mencionados porque este ato prejudica demais aos citados. Neste último lote se encontram muitos pastores, que consideram um sinal de maturidade e maior espiritualidade, não citarem nomes quando querem fazer uma crítica.

O autor não consegue evitar a profunda tristeza que experimenta ao perceber nestas mensagens eletrônicas o nível em que se encontram os cristãos em geral e a cristandade em particular. Um velho professor e amigo costumava dizer o seguinte: “Alex, a ignorância é o paraíso”. E hoje, 31 anos depois, sou obrigado a concordar absolutamente com ele.

Sinto-me motivado a escrever este artigo porque observo que muito dessa ignorância é alimentada pelos próprios indivíduos que gostam de se intitular “Pastores, Reverendos, Mestres, Doutores, Bispos” e, ultimamente, “Apóstolos”, e “Patriarcas”. Em vez de ensinarem o que a Bíblia diz acerca da responsabilidade cristã de julgar preferem alimentar a ignorância do povo. Este ato, o de alimentar a ignorância, visa à auto defesa que procura colocar estes indivíduos acima e fora do alcance de qualquer admoestação, censura ou repreensão. E infelizmente, para complicar ainda mais a situação, os crentes em geral se submetem a este tipo de abuso espiritual, fazendo-o, a grande maioria, de boa vontade. Este problema, a associação daqueles que têm a responsabilidade de guiar com aqueles que são guiados, para perverter a Palavra de Deus, não é novo. O profeta Jeremias enfrentou situação semelhante e se não soubéssemos que o mesmo profetizou entre 627 a 580 a.C. teríamos a impressão que ele estava se referindo aos nossos dias, tamanha a atualidade de suas palavras. O profeta Jeremias diz o seguinte: “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim? – ver Jeremias 5:30—31”. Para entendermos de forma mais precisa estas palavras de Jeremias é necessário compreendermos o contexto em que elas foram ditas. A semelhança com os nossos dias, como se verá, é inescapável!

I – O EXEMPLO DO PROFETA JEREMIAS

O profeta Jeremias começou a profetizar nos dias do rei Josias, filho de Amon, que reinou – Josias - sobre o reino de Judá de 640 a 609 a.C. Nos dias de Josias uma cópia do “Livro da Lei” de Moisés foi encontrada na “Casa do SENHOR”, isto é, no templo em Jerusalém pelo sumo sacerdote Hílquias – ver 2 Reis 22:8—23:3. A leitura desse manuscrito descoberto no templo causou profunda comoção no rei Josias que chegou até mesmo a rasgar suas roupas, o que era um ato externo que indicava como o rei estava se sentindo por dentro – ver 2 Reis 22:11. O rei sabia o valor do documento que acabava de ser lido para ele. Este era um livro, revelado por Deus, pelo qual, de forma padronizada e objetiva, todas as tradições podiam e deveriam ser julgadas. Os sacerdotes e os príncipes do povo eram os que tinham mais a perder com esta descoberta, pois os privilégios que desfrutavam não eram sustentados pela Palavra de Deus. Para se protegerem contra a perda destes privilégios estes sacerdotes tinham o apoio de falsos profetas que vinham trazendo falsas revelações da parte de deus. É contra este corporativismo que Jeremias se levanta. Os falsos profetas que segundo o texto profetizavam falsamente, isto é, falavam mentiras, estavam intimamente associados, de mãos dadas, com os sacerdotes para dominar sobre o povo de Deus. E o próprio povo de Deus aprovava tal dominação. Para Jeremias esta situação só podia ser descrita de uma maneira: era algo espantoso e horrendo.

O coração do problema, como entendido pelo profeta Jeremias, consistia em que havia uma aliança perversa entre os falsos profetas, os sacerdotes e o povo para prestarem um culto a Deus que fosse somente “da boca para fora”. Tal hipocrisia já havia sido denunciada pelo próprio Deus através do profeta Isaías – ver Isaías 29:13. E foi novamente denunciada pelo próprio Senhor Jesus em Seus dias – ver Mateus 15:7—9. Nos dias de Jeremias não havia interesse nem da parte dos falsos profetas, nem dos sacerdotes e nem do povo de reformarem honesta e completamente seus caminhos. Para estes, uma vez mantidas as aparências, tudo estava tudo muito bom. Jeremias denuncia esta religiosidade falsa, superficial e pretensiosa. A pergunta que ele faz é: “que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?” Jeremias se refere ao julgamento de Deus em que todo o povo de Judá estava incorrendo por praticar uma religião que vivia somente de aparências. Para que possamos ter uma compreensão do estado moral que existia em Judá nos dias do profeta Jeremias, nós temos que nos lembrar das palavras de Deus ditas através do profeta no início do capítulo 5: “Dai voltas às ruas de Jerusalém; vede agora, procurai saber, buscai pelas suas praças a ver se achais alguém, se há um homem que pratique a justiça ou busque a verdade; e eu lhe perdoarei a ela – Jeremias 5:1”. Que cena patética! A promessa de Deus era que se fosse possível achar uma pessoa somente que praticasse a justiça ou que buscasse a verdade em toda cidade de Jerusalém, Deus estava disposto a perdoar o pecado de toda a cidade. Agora imagine se Jeremias não tivesse se levantado e julgado a situação. Se ele não tivesse exercido o ato de julgamento acerca da situação em que a nação de Judá se encontrava, ele jamais poderia ter proferido as palavras que proferiu. Nos dias de hoje vivemos uma situação semelhante. A Cristandade está satisfeita em manter as aparências. Em prestar um culto apenas de lábios ao Senhor. Em pretender ser aquilo que realmente não é. As insidiosas infiltrações da chamada “Teologia do Domínio” que visam à criação de um verdadeiro exército de “vencedores” liderados por uma nova casta de “profetas, apóstolos e Patriarcas da Fé” e que irão pavimentar o caminho para a volta do Senhor Jesus têm criado uma afastamento da verdadeira fé que não está sendo devidamente avaliada. Os dois exemplos mais clamorosos são os representados pelo pastor colombiano César Castellanos com suas teorias mirabolantes de “sonha e ganharás o mundo” e do americano norte estadunidense Rick Warren que, recentemente, anunciou a criação de um “exército” de 1 bilhão de homens que irão implementar de fato, aquilo que ele tem chamado de “a segunda reforma”. Segundo Rick Warren, depois de transformar as igrejas em “igrejas com propósitos”, depois de transformar as vidas das pessoas em “vidas com propósitos”, agora chegou a hora de transformar os países em “paises com propósito”, preparando, desta maneira, o mundo para o segundo advento do Senhor Jesus. Além de tudo isto, a Cristandade não aceita nenhum tipo de crítica ou chamado ao arrependimento. Estão tão cheios de si mesmos que precisamos repetir a pergunta de Jeremias: “Que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?”.

II – O CONCEITO DE JULGAR NA LÓGICA E NA PSICOLOGIA

Quando nos referimos no estudo da Lógica, seja ela na tradição clássica (aristotélica tomista), seja na tradição moderna (dialética hegeliana), ao ato de julgar, estamos apenas afirmando que é nosso desejo estabelecer uma relação mental entre dois ou mais conceitos onde o julgamento em si não passa de uma simples proposição que afirma ou nega a conexão existente entre estes mesmos conceitos .

Já na Psicologia o ato de julgar não passa de outra expressão para caracterizar a perspicácia ou sagacidade que são qualidades de todas as pessoas que possuem a habilidade de discernir ou avaliar de maneira equilibrada uma determinada situação, fato ou evento. A verdade que precisa ser dita aqui é que, praticamente todas as pessoas, com exceção daquelas que são mentalmente incapazes de raciocinar, possuem esta capacidade de julgar, de avaliar, de discernir. É exatamente neste sentido que o salmista pede a Deus que: “Ensina-me bom juízo e conhecimento, pois creio nos teus mandamentos – Salmos 119:66”.

Assim podemos avaliar de maneira equilibrada que é apenas lógico o que o dicionário Aurélio Século XXI nos informa ser o escopo alcançado pelo verbo “julgar” no nosso idioma português do Brasil. O Aurélio nos diz que o escopo vai muito além dos atos executados por um juiz propriamente dito. O termo também descreve as ações genéricas atribuídas a todas as pessoas sem distinção. Entre estas ações podemos citar: supor, imaginar, conjeturar, formar opinião sobre, avaliar, formar juízo crítico e apreciar.

Mas muito além das definições filosóficas e psicológicas e mesmo morfológicas queremos saber como o Antigo Testamento e o Novo Testamento definem o ato de julgar. O que queremos aprender, caso a ilustração de Jeremias fornecida acima não tenha sido suficiente, diz respeito ao fato se é ou não lícito o crente julgar. Bem vejamos os que os dicionários de Hebraico e Grego nos dizem acerca do ato de julgar.

III – OS CONCEITOS BÍBLICOS DE JULGAR

A – No Hebraico

Na língua hebraica a palavra mais comum usada para expressar o ato de julgar é o verbo שָׁפָּט – shapat – que é traduzido, basicamente, por julgar, governar. Deste verbo derivam os substantivos fpv – shepet – julgamento, fopv – shepot – juízo e מִשְׁפָּט – mishpat – justiça ou ordenança. De acordo com a concordância de James Strong a palavra שָׁפָּט – shapat ocorre cerca de 125 vezes no Antigo Testamento, enquanto que o termo מִשְׁפָּט – mishpat ocorre cerca de 420 vezes no mesmo texto hebraico.

Outro grupo de palavras no Hebraico que também expressam o ato de julgar é representado pela expressão /yD – din – julgar, contender, suplicar e pleitear. Desta palavra surgem os derivados /yD – din – julgamento, /yD – dayyan – juiz, /odm – madon – luta ou contenda e hnydm – medinah – província. Ainda de acordo com a concordância de James Strong a palavra /yD – din ocorre, em todas as suas formas somente 23 vezes no Antigo Testamento. Para os autores do Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento o termo /yD – din possui uma gama de significados que é exatamente a mesma do termo שָׁפָּט – shapat apesar de os mesmos serem usados de maneira tão desproporcional. Entres estes significados encontramos: governar, em todo o elenco de atividades de governo: legislativa, executiva, judiciária ou ainda outra. Ainda seguindo o mesmo dicionário a diferença entre os termos é simplesmente que /yD – din é poético e provavelmente também arcaico e mais elegante do que שָׁפָּט – shapat.

Em resumo, nós podemos dizer que existe um consenso entre os estudiosos de que os dois termos, שָׁפָּט – shapat e /yD – din bem como os termos deles derivados, se referem às ações relacionadas à execução dos processos de governo. Estes termos não possuem nenhuma conotação relativa aos atos de julgar, avaliar ou discernir que são comuns a todas as pessoas e se restringem à área do governo seja ele Divino ou humano. Desta maneira, podemos dizer, com certo grau de segurança, que no que diz respeito à nossa questão se o crente pode julgar, o ensino do Antigo Testamento cai na categoria expressa pela assim chamada “Lei do Silêncio”. Esta “Lei” é uma norma estabelecida pelos intérpretes – exegetas - e diz que quando um determinado assunto não for claro em um texto ou série de textos analisados estes mesmos textos não poderão ser usados nem para apoiar a idéia nem para condená-la. Este é exatamente o caso que temos diante de nós. O estudo dos termos em hebraico relacionados ao ato de julgar, não podem ser utilizados nem para apoiar nem para condenar o ato de julgar como atribuição a todos os seres humanos em geral. É óbvio que a ilustração de Jeremias citada acima ainda é muito sugestiva. E o mesmo é verdadeiro com inúmeras outras passagens do Antigo Testamento.

Para aqueles interessados em aprofundar este estudo o autor sugere uma leitura do “Apêndice A” onde poderá encontrar uma lista de todos os significados dos termos שָׁפָּט – shapat e /yD – din, bem como do termo מִשְׁפָּט – mishpat como apresentados pela concordância exaustiva de James Strong. Poderá também procurar ler as definições contidas no Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento nas páginas 309 e 310 e nas páginas 1602 a 1606.

B – No Grego

No Novo Testamento grego existem três palavras que estão diretamente relacionadas ao nosso estudo referente ao ato de julgar. A seguir o leitor encontrará estes termos com a definição dos mesmos conforme o Dicionário “A Concise Greek – English Dictionary of The New Testament ”:

1. κρίνο - kríno – julgar, passar julgamento, ser julgado, condenar, decidir, determinar, considerar, estimar, pensar e preferir.

2. ἀνακρίνο - anakríno – questionar, examinar (estudar as escrituras como em Atos 17:11), julgar, avaliar, sentar-se para julgar ou em juízo, convocar para prestar contas.

3. διακρίνω - diakríno – avaliar, julgar, reconhecer, discernir, fazer distinção entre pessoas, considerar-se ou fazer-se superior a outras pessoas (ver 1 Coríntios 4:7), duvidar, hesitar, disputar, debater, tomar lado ou partido.

Para aqueles interessados em aprofundar este estudo o autor sugere uma leitura do “Apêndice A” onde irá encontrar uma lista de todos os significados dos três termos acima.

Uma quarta palavra grega κατακρίνο - katakrino – não tem significado para o nosso estudo já que a mesma é usada exclusivamente para indicar o ato de passar julgamento ou condenar e não é usado no sentido de determinar, considerar, avaliar etc.

O leitor atencioso já terá notado que o significado dos termos gregos traduzidos pelas formas do verbo “julgar” em português são bem mais abrangentes do que aquelas em hebraico, que como vimos, se resumem à esfera de governo seja ele humano ou Divino. No grego, como veremos em seguida, as palavras são aplicadas não somente à esfera de governo, mas também à esfera da vida comum. Em grego as palavras κρίνο - kríno, ἀνακρίνο - anakríno e διακρίνω - diakríno dizem respeito também aos relacionamentos entre as pessoas comuns, e não estão, como no caso do hebraico, relacionadas aos atos de governo, humano ou divino, exclusivamente. Alguns versículos do Novo Testamento servirão para ilustrar o uso que estes termos receberam tanto da parte de Jesus como da parte dos apóstolos.

1. O termo grego κρίνο - kríno aparece em todas as suas formas, cerca de 130 vezes no Novo Testamento grego. O termo é usado da seguinte maneira:

a. Lucas, citando o apóstolo usa o termo grego κρίνο - kríno para descrever tanto os atos de julgamento sofridos pelo apóstolo diante do Sinédrio – ver Atos 23:67 - quando Paulo armou o maior salseiro ao dizer que estava sendo julgado por causa da ressurreição dos mortos, bem como os atos diante do governador Félix – ver Atos 24:21.

b. Em Atos 21:25 a expressão é traduzida por “transmitimos decisões” referindo-se às orientações que a igreja em Jerusalém havia passado aos gentios concernentes à necessidade que eles - os gentios - tinham de “se abster das coisas sacrificadas a ídolos, do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas”.

c. Este termo é traduzido por condenar em Atos 13:27 referindo-se à condenação do Senhor Jesus pelas autoridades e pelos habitantes de Jerusalém como fruto de um processo de julgamento. O mesmo uso - processo de julgamento - aparece em Romanos 2:27 e Tiago 5:9. Neste último versículo somos advertidos a não nos queixarmos uns dos outros, pois os que agem desta maneira serão julgados pelo Senhor. Este “não queixar uns dos outros” não tem nada a ver com questões doutrinárias e sim com a falta de paciência - ver Tiago 5:8. Este versículo não pode ser aplicado de formas universal para justificar que não podemos, em nenhuma hipótese e sob nenhum motivo julgarmos uns aos outros. Ele se aplica especificamente, neste contexto, à falta de paciência que demonstramos de uns para com os outros, de modo especial quando parece que o Senhor está demorando muito para voltar.

d. κρίνο - kríno é usado no sentido de separar, para se referir àqueles que usam suas opiniões para provar, avaliar ou estimar, ou seja, para discernir entre uma coisa e outra. É desta maneira que esta palavra é usada em Romanos 14 por 5 vezes - ver os versos 3, 4, 5, 10 e 13.

No capítulo 14 de Romanos nós encontramos o apóstolo Paulo dando instruções acerca de como proceder em questões que não são fundamentais para a vida de fé. Na opinião de Paulo, os crentes não devem discutir por causa de diferença de opinião em questões que não sejam realmente relevantes para a vida de fé – ver Romanos 14:1. Para ilustrar o que estava querendo dizer, o apóstolo Paulo descreve duas pessoas onde uma primeira acredita que pode comer de tudo e, uma segunda, que Paulo caracteriza como débil - fraco, frágil - que acredita que só pode comer legumes – ver Romanos 14:2. O conselho de Paulo diante desta situação é bastante objetivo. Paulo sabia que em tais situações é somente humano o débil julgar o outro irmão, enquanto este, por sua vez, teria a atitude de desprezar aquele mais fraco. Paulo diz que tais atitudes, de julgamento e de desprezo não eram convenientes porque esta situação não é fundamental para a vida de fé. Além disso, Deus acolhe tanto a um quanto ao outro – ver Romanos 14:3. É por este motivo que é completamente errado julgar um irmão por causa de algo não relevante, como neste caso, por causa da comida, já que o reino de Deus não é comida nem bebida e sim justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo – ver Romanos 14:4 e 17.

Em seguida Paulo dá uma segunda ilustração de coisas irrelevantes citando o fato de que também poderiam existir pessoas que, por um lado, fizessem distinção entre um dia e outro dia e, por outro lado, pessoas que considerassem todos os dias iguais. A opinião de Paulo é que como esta questão envolve uma situação irrelevante cada crente precisa ter uma opinião bem definida em sua própria mente – ver Romanos 14:5. Para Paulo tanto uma coisa - fazer distinção - como a outra - não fazer distinção - eram completamente irrelevantes na mesma linha que era irrelevante a questão da comida – ver Romanos 14:6. O fato que torna estas coisas irrelevantes é a perspectiva de que vivemos para o Senhor – ver Romanos 14:7—8. Ou seja, se a questão em disputa não quebrar nenhum mandamento do Senhor ou não for contrária a nada que está estabelecido nas Escrituras, ela é irrelevante. Mas para chegarmos a esta conclusão é necessário julgarmos o fato ou evento à luz da palavra revelada de Deus. A bíblia é nosso padrão e não devemos discutir opiniões fora ou além daquilo que está estabelecido nas Escrituras. “Sola - somente - Scriptura - as Escrituras” como única regra absoluta de fé e prática foi um dos lemas centrais da Reforma Protestante. A conclusão de Paulo acerca destas questões é que não devemos nem julgar nem desprezar nossos irmãos em questões irrelevantes, pois todos, sem exceção, teremos que prestar contas a Deus um dia – ver Romanos 14:9—12.

Como pode ser facilmente notado esses conselhos valem para acomodar situações que são realmente indiferentes no que diz respeito à vida cristã. O apelo do apóstolo Paulo é que, nessas questões que são realmente indiferentes, não é atitude conveniente a um cristão nem julgar nem desprezar outros irmãos – ver Romanos 14:10.

Entretanto este critério não se aplica a situações onde podemos perceber que a ação de um indivíduo não é realmente indiferente. Se o que estiver em pauta for algo relevante, como por exemplo, um ensinamento que vai contra o que ensinam as Escrituras Sagradas ou uma determinada prática claramente condenada nas Escrituras, então este princípio não se aplica. E como podemos determinar quando se aplica de quando não se aplica? Só podemos determinar quando exercitamos nosso juízo e discernimos uma coisa da outra. Para discernir é preciso julgar.

Para ilustrar vamos supor que um determinado irmão está mentindo em certa situação. Neste caso, julgando as evidências e confirmando o ato de mentir, o mesmo precisa ser confrontado e não acomodado usando o texto de Romanos 14, para justificar que não podemos julgar. Se a pessoa em questão for um pastor ou reverendo ou ancião ou até mesmo um apóstolo nossa responsabilidade é a mesma. Se estiver errado, baseado nos ensinamentos das Escrituras Sagradas, o mesmo precisa ser repreendido. Se o erro for público e notório a exposição de tal erro precisará ter a mesma dimensão sob o risco de não alcançarmos todas as pessoas que foram prejudicadas pelo ensino ou exemplo errado. Por outro lado, vamos imaginar que a questão diga respeito às roupas que alguém está usando. Alguns acham que precisam se vestir “mais socialmente” para irem adorar a Deus. Outros acham que podem usar roupas que sejam “menos sociais e mais esportivas”. Quem está certo? Ora o único mandamento acerca de vestimenta que temos válido na Nova Aliança é que devemos nos vestir de forma decente e modesta. Pouco importa se a roupa é social ou esportiva. Quem se veste socialmente não julgue o irmão que se veste esportivamente, e este, por sua vez, não despreze àquele! E acima de tudo, que nenhum dos dois caia na besteira de achar que está agradando mais a Deus do que o outro. Deus não está interessado nas roupas que vestimos contanto que sejam decentes e modestas. Para escolher uma roupa que seja modesta e decente eu também preciso exercitar minha capacidade de discernimento ou de julgamento.

Creio que já é o bastante. Qualquer pessoa inteligente, e quase todas são, já percebeu o que estamos querendo dizer até aqui.

Neste mesmo sentido, o de exercitar a capacidade de julgamento para tomar uma decisão, o termo é usado para se referir à Pilatos quando ele havia “decidido” soltar a Jesus – ver Atos 3:11. Também se refere ao apóstolo Paulo quando ele “determinou não aportar em Éfeso porque não queria demorar na Ásia” – ver Atos 20:16. O mesmo uso ocorre em Atos 25:25 “resolvi”; 27:1 “resolvido”; 1 Coríntios 2:2 “decidi”; 2 Coríntios 2:1 “isto deliberei por mim mesmo” - mais direto impossível! - Tito 3:12 “estou resolvido”.

e. Uma outra maneira como o verbo “julgar” é usado no Novo Testamento tem a ver com a capacidade de formar opinião baseado em um ato de julgamento. Uma ilustração deste uso pode ser vista quando Jesus estava jantando com Simão, um fariseu – ver Lucas 7:36. Durante a refeição uma mulher, caracterizada como pecadora, adentrou o salão trazendo consigo um vaso de alabastro e “estando por detrás, aos pés de Jesus, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o ungüento – Lucas 7:38. O fariseu reage a esta atitude da mulher pensando consigo mesmo que se Jesus fosse realmente um profeta saberia muito bem que tipo de mulher era aquela. Jesus percebe e sabe exatamente o que o fariseu está pensando. Diante disso Jesus então, lhe propõe uma pequena parábola dizendo: “Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinqüenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos - Lucas 7:41—42a. Em seguida Jesus pergunta a Simão: “Qual deles, portanto, o amará mais? – Lucas 7:42b. Simão responde dizendo: “Suponho que aquele a quem mais perdoou” – ver Lucas 7:43a. Após ouvir a resposta de Simão Jesus diz o seguinte: “JULGASTE BEM” – Lucas 7:43b. O que Jesus queria dizer com estas últimas palavras? Simplesmente que Simão havia avaliado, analisado, estimado e formado uma opinião acerca da estória que havia ouvido dos lábios do Senhor. Esta formação de opinião, analisando a história, permitiu não só que Simão julgasse, mas que julgasse bem!

É desta mesma maneira que o verbo κρίνο - kríno é usado em:

• João 7:24 onde Jesus diz: “Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça.” Note que Jesus não critica os Judeus porque estavam julgando mas porque estavam julgando apenas pelas aparências. Contra esta atitude, de julgar pelas aparências, Jesus ordena que julguem segundo a reta justiça.

• Atos 4:19 - Mas Pedro e João lhes responderam: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”. Note como Pedro insiste em que os lideres judaicos julguem!

2. O Termo grego ἀνακρίνο - anakríno era usado na cultura geral para descrever a investigação preliminar para juntar provas que servissem de base para a informação dos juízes. Partindo desta compreensão que envolve o ato de investigar ou examinar, no Novo Testamento esta palavra é usada das seguintes maneiras:

a. uscar ou informar-se como por exemplo em Atos 17:11 onde um grupo de cidadãos de uma cidade grega chamada Beréia são caracterizados como sendo “mais nobres” do que os crentes de Tessalônica exatamente porque haviam decidido julgar as informações que estavam recebendo do Apóstolo Paulo mediante uma comparação entre o que Paulo dizia e o que diziam as Escrituras do Antigo Testamento. O verso de Atos 17:11 diz textualmente o seguinte: “Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.”

Em 1 Coríntios 9:3 este mesmo verbo é traduzido por “interpelar” e é um indicativo claro de que o apóstolo Paulo estava sendo questionado - literalmente estava sendo julgado - por certas pessoas que questionavam suas prerrogativas como apóstolo. A reação de Paulo contra estes críticos não é sugerir que eles estavam errados ao julgá-lo e sim dar-lhes uma resposta à altura das interpelações – críticas - que estava recebendo.

Nesta mesma linha, de questionar para obter informações, a expressão grega ἀνακρίνο - anakríno é usada em 1 Coríntios 10:25 e 27 onde é traduzida por “perguntardes”.

b. Alcançar um resultado que seja proveniente de investigação, de pesquisa e de julgamento. É neste sentido que este verbo é traduzido tanto por discernir quanto por julgar em 1 Coríntios 2:14—15 onde podemos ler: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém.” É importante destacarmos aqui que Paulo deixa bem claro que aquele a quem ele caracteriza por homem espiritual “julga todas as coisas”.

Em 1 Coríntios 4:3—4 Paulo usa novamente o verbo grego ἀνακρίνο - anakríno para indicar que o supremo juiz de todas as coisas é Deus. No contexto imediato Paulo está falando de fidelidade a Deus. Dentro deste contexto Paulo deseja ser encontrado fiel. Pouco lhe interessa ser julgado pelos Coríntios ou por outro tribunal humano. O que Paulo deseja é ser fiel à vontade revelada de Deus. De fato, ele não se julga nem a si mesmo, pois apesar de ter a consciência tranqüila Paulo sabia que o justo Juiz é somente Deus. Mas isto não quer dizer que Paulo não estava aberto a ser criticado nem que não criticava a outros. Um exemplo do primeiro caso é quando Paulo admite que errou ao chamar o Sumo Sacerdote de “parede branqueada” – ver Atos 23:1—5. Do segundo caso uma passagem que certamente pode ser citada neste contexto é a de Gálatas 2:11—14. Nesta passagem Paulo descreve a maneira rígida como repreendeu a Pedro, a Barnabé e outros irmãos porque, em suas próprias palavras, estes irmãos haviam “se tornado repreensíveis...não procedendo corretamente segundo a verdade do evangelho”. Esta última passagem possui alguns ingredientes muito interessantes.

1. Em primeiro lugar nós encontramos o apóstolo Paulo julgando o comportamento de outros irmãos porque estavam agindo de forma hipócrita usando dois pesos e duas medidas. Paulo chama este comportamento de dissimulado.

2. Tal dissimulação era, em segundo lugar, um comportamento inconsistente com a verdade do evangelho.

3. Em terceiro lugar Paulo não evita usar nomes citando a Pedro e a Barnabé pelos seus respectivos nomes.

Esta passagem contém todos os ingredientes que aqueles que querem transgredir contra a verdade do evangelho, mas que não querem ser criticados costumam usar para se defender.

Imagine Pedro e Barnabé argumentando com Paulo e dizendo:

1) Paulo, não nos julgue, lembre-se do que Jesus falou acerca de “não julgar”.

2) Paulo, você não conhece nossos motivos, portanto não diga que estamos agindo de forma dissimulada. Será que você não percebe que está nos julgando?

3) Em terceiro lugar Paulo, sua atitude certamente vai criar divisão entre os irmãos. Você deveria pensar mais na unidade, nas coisas boas que nos unem e deixar um pouco de lado este seu apego tão legalista e farisaico e porque não, hipócrita, de amor à verdade do evangelho acima de tudo!

4) E, por favor, Paulo, não cite nomes, isto é muito feio!

Espero que o leitor perceba quão ridículos estes argumentos seriam! Todavia estes são, de forma mais consistente, os argumentos usados por aqueles que estão agindo de maneira errada e não querem, em nenhuma hipótese e sob nenhum pretexto, serem criticados ou julgados. São estes mesmos que ensinam, em proveito próprio, que é errado julgar. E o mais surpreendente é que existam pessoas que acreditem nesta mentira, de que é errado julgar, e que ainda tomam as dores do pretenso ofendido e saem em sua defesa.

c. Ainda neste contexto existe um terceiro significado para ἀνακρίνο - anakríno no Novo Testamento. Como este significado diz respeito especificamente ao ato de examinar – interrogar - mediante o uso de práticas de pressão e tortura o mesmo não possui um significado que seja do nosso interesse neste estudo. Para aqueles que gostariam de verificar o uso do mesmo seguem algumas referências básicas: Atos 4:8—10; Atos 12:19; Atos 14:7—9; Atos 28:16—18.

3. O Termo grego διακρίνω - diakríno é usado no Novo Testamento para indicar primariamente o ato de fazer distinção, de distinguir, resolver, decidir. Na voz média é usado no sentido de:

• “Separar-se ou contender com” como fizeram os judeus do partido da circuncisão com Pedro quando este retornou a Jerusalém vindo da casa de Cornélio em Cesaréia – ver Atos 11:2 onde διακρίνω - diakríno é traduzido por “contenderam”.

• O mesmo sentido existe em Judas verso 9 que descreve a “contenda” entre o Arcanjo Miguel e Satanás acerca do corpo de Moisés.

• Em Judas verso 22 onde a tradução diz “em dúvida” o termo possui o sentido de “diferença de opiniões”.

a. Como o ato de fazer separação ou distinção o termo é usado em Atos 15:9 onde Pedro deixa claro que Deus não faz distinção entre judeus e gentios no que diz respeito a salvação.

b. O ato de fazer distinção implica em “discernir” que é definido pelo Dicionário Aurélio Século XXI como: conhecer distintamente; perceber claro por qualquer dos sentidos; apreciar; distinguir; discriminar. É neste sentido que διακρίνω - diakríno é utilizado, por exemplo, em 1 Coríntios 11:31 onde Paulo diz que se nos “julgássemos a nós mesmos não seríamos julgados - pelo Senhor”. O que Paulo está dizendo neste versículo é que precisamos discernir - conhecer distintamente - nossa verdadeira condição diante do Senhor. Para alcançar este objetivo nós temos que nos julgar a nós mesmos. O mesmo sentido aparece em 1 Coríntios 14:29 onde os profetas têm a obrigação de julgar uns aos outros visando discernir exatamente o que é procedente do Espírito Santo.

c. διακρίνω - diakríno é usado em 1 Coríntios 6:5 para indicar a capacidade de “arbitrar” entre os irmãos mediante o uso das capacidades de discernir ou discriminar.

d. A mesma palavra é usada para indicar a distinção – pecaminosa - entre pessoas, que chamamos de discriminação e pode ser aplicada às classes sociais, aos portadores de enfermidades, à coloração da pele e etc – ver Tiago 2:4.

Assim concluímos os usos que o Antigo e o Novo Testamento fazem dos termos que são traduzidos por julgar, seja em forma de verbos seja em forma de substantivos. Como podemos notar o Novo Testamento, ao contrário do Antigo Testamento, tem muito a nos ensinar acerca da nossa responsabilidade de julgar no sentido de discernir, fazer separação, analisar, avaliar, tirar conclusões, formar opinião etc. O autor não irá tirar suas conclusões neste instante porque prefere deixar as mesmas para depois da próxima divisão.

IV – JESUS REALMENTE ENSINOU QUE TODO E QUALQUER TIPO DE JULGAMENTO É ERRADO?

Para podermos responder a esta pergunta temos que analisar as palavras de Jesus como registradas em Mateus 7:1—6 e passagens paralelas como Lucas 6:37—38 e 41—42.

Apenas para facilitar o autor irá citar o texto completo de Mateus 7:1—6 conforme a tradução de Almeida Revista e Atualizada (ARA). Mateus 7:

1 Não julgueis - κρίνο – kríno - para que não sejais julgados - κρίνο - kríno.

2 Pois, com o critério com que julgardes - κρίνο – kríno - sereis julgados - κρίνο - kríno; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.

3 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?

4 Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?

5 Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.

6 Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem.

A primeira coisa que devemos notar no texto acima é que todas as formas do verbo julgar em português têm sua origem no verbo grego κρίνο - kríno. Apenas para recordar, o verbo grego κρίνο - kríno possui os seguintes significados no Novo Testamento: julgar, passar julgamento, ser julgado, condenar, decidir, determinar, considerar, estimar, pensar e preferir.

Quando analisamos o verbo grego κρίνο - kríno em seus contextos nas páginas do Novo Testamento encontramos algumas situações que valem à pena serem descritas, pois as mesmas irão nos ajudar a determinar o quê, exatamente, Jesus queria dizer quando proferiu as palavras acima. Por favor, note que todas as referências que são atribuídas aos atos de juízo da parte de Deus e de Jesus foram propositadamente omitidas, pois as mesmas não estão em questão neste estudo. O mesmo acontece quando o verso descreve a ação de magistrados civis ou militares.

• Mateus 19:28 – Refere-se aos discípulos que se assentarão para julgar as doze tribos de Israel. A mesma idéia aparece em Lucas 22:30.

• Curiosamente o evangelista Marcos não usa o verbo grego κρίνο - kríno.

• Lucas 7:43 – Jesus elogia Simão, o fariseu, por ter julgado de forma correta.

• Lucas 12:57 – Jesus desafia as multidões a julgarem por si mesmas o que é justo!

• João 7:24 – Jesus ordena aos judeus dos seus dias que não julgassem segundo as aparências e sim que julgassem segundo a reta justiça. Note que Jesus não os condena por julgar e sim por julgar superficialmente pelas aparências.

• Atos 4:19 – Pedro desafia os líderes judeus a julgarem corretamente a questão religiosa em disputa que dizia respeito à pregação feita pelos apóstolos do Senhor. Não lhe diz que não julguem, pelo contrário usa o verbo julgar no modo imperativo.

• Atos 13:27 – Refere-se ao ato de condenar a Jesus (após julgamento).

• Atos 15:19 – Tiago diz que era seu julgamento (análise, formação de opinião e sentença) que os crentes judeus não deveriam perturbar os crentes entre os gentios. Se Tiago não pudesse julgar a situação, formar opinião e emitir uma sentença então ele estava cometendo um pecado.

• Atos 16:4 – Este versículo nos diz que Paulo informava aos irmãos o resultado do ato de julgar de Tiago conforme mencionado no verso anterior da lista. É obvio que Tiago não havia transgredido contra o mandamento de Jesus proferido em Mateus 7 quando disse “julgo eu”.

• Atos 16:15 – Lídia pede que Paulo e seus companheiros a julguem se ela era fiel ao Senhor. É evidente que para poder avaliar a fidelidade de Lídia certos aspectos bem definidos precisariam ser levados em consideração.

• Atos 20:16 – Indica que Paulo havia determinado – decidido - através de processos lógicos de julgamento não aportar em Éfeso. Paulo julgou a conveniência ou não de aportar na cidade de Éfeso.

• Atos 21:25 – Faz nova referência ao ato de julgar de Tiago em Atos 15:19.

• Atos 26:8 – Paulo questiona as autoridades romanas porque era tão difícil para elas julgar ser incrível a ressurreição dos mortos. Note como julgar neste versículo tem tudo a ver com avaliar, discernir, discriminar, procurar entender e etc.

• Romanos 2:1 – Paulo condena de forma veemente todos aqueles que julgam a outros, mas praticam as mesmas coisas que condenam. Este verso está muito próximo do ensinamento de Jesus em Mateus 7. É a hipocrisia e a pretensão que estão sendo condenadas – ver Mateus 7:3 – 5!

• Romanos 2:3 – Mesma linha de raciocínio do verso anterior. Se você pratica o que você condena então...

• Romanos 14:3, 4, 5, 10, 13 e 22 – Já discutimos esses versículos quando estudamos a palavra κρίνο - kríno mais acima neste mesmo estudo.

• 1 Coríntios 2:2 – Paulo fala da decisão que tomou mediante raciocínio lógico que certamente envolveu avaliar, considerar, estimar etc. Tudo isto ajudou a produzir sua decisão.

• 1 Coríntios 4:5 – Paulo diz aos Coríntios que eles não deviam julgar nada antes do tempo, mas aguardar a vinda do Senhor que irá trazer todas as coisas, mesmo as ocultas, à plena luz. O contexto imediato tem a ver com a fidelidade que é requerida de todos os despenseiros de Deus – ver 1 Coríntios 4:1—2. Neste contexto Paulo diz que não lhe importa ser julgado pelos Coríntios ou por outro tribunal humano. Somente Deus pode julgar nossa fidelidade. Agora é óbvio, como veremos a seguir, que não podemos incluir nesta orientação de Paulo a desculpa de que todo e qualquer julgamento deve ser deixado para quando Jesus se manifestar. Até Jesus voltar nós teremos que lidar com falsos mestres, falso messias, homens que induzem ao erro com artimanhas e com astúcia; teremos também que lidar com aqueles que, mesmo entre nós, transgridem os mandamentos do Senhor. Só podermos fazer isto se a nossa capacidade de julgar estiver preservada.

• 1 Coríntios 5:3 – Este verso nos fala exatamente da necessidade que temos de julgar a todos em nosso meio que transgridem contra os mandamentos do Senhor. Paulo diz que já sentenciou o culpado de tamanha afronta.

• 1 Coríntios 5:12 – Paulo diz que quando deixamos de julgar os de dentro da nossa comunidade nós perdemos a capacidade de julgar os de fora – ver especialmente os versos 9 a 12. Paulo argumenta que como poderemos nós julgar os malfeitores se nós não julgamos sequer aqueles que transgridem entre nós? As palavras finais de Paulo são acachapantes: “Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor”.

• 1 Coríntios 6:1 – Os crentes tanto devem julgar que Paulo se surpreende que havendo questões entre irmãos a coisa não seja resolvida entre eles e sim que um irmão recorra contra outro diante de tribunais comandados por pessoas não regeneradas - injustos.

• 1 Coríntios 6:2 – Paulo diz que os santos irão julgar o mundo. Ele está se referindo aos próprios Coríntios e a todos nós. Ora se vamos julgar o mundo como não temos competência para julgar as coisas mínimas?

• 1 Coríntios 6:3 – Aqui Paulo usa mais um argumento acerca da responsabilidade que temos de julgar as coisas desta vida: nós vamos julgar os próprios anjos.

• 1 Coríntios 6:6 – Paulo expressa verdadeira indignação pelo fato dos crentes não assumirem suas responsabilidades no sentido de julgar as questões surgidas entre os irmãos e levarem as mesmas para serem julgadas por incrédulos nos tribunais humanos.

• 1 Coríntios 7:37 – Paulo fala da árdua decisão que, em virtude das circunstâncias, um pai precisa tomar com relação à sua filha virgem.

• 1 Coríntios 10:15 – Paulo insiste com os Coríntios a que fujam da idolatria. Para que isto aconteça Paulo reconhece que é necessário que os Coríntios usem a capacidade de julgar. Se eles forem incapazes de julgar - avaliar, considerar, pesar, discernir etc - serão incapazes de perceber as graves conseqüências da idolatria.

• 1 Coríntios 10:29 – Paulo defende a idéia de que nossa liberdade em Cristo não pode ser julgada pela consciência alheia. Note que no contexto ele está se referindo à nossa liberdade em Cristo. Não está se referindo a falsos ensinamentos nem a pecados cometidos contra os irmãos e contra Deus.

• 1 Coríntios 11:13 – Paulo exorta aos Coríntios a que julguem por eles mesmos!

• 1 Coríntios 11:31 – Paulo fala da necessidade que temos de julgar especialmente a nós mesmos.

• 1 Coríntios 11:32 – Quando nos julgamos a nós mesmos nós podemos ser disciplinados pelo Senhor.

• 2 Coríntios 2:1 – Paulo fala de sua própria deliberação de não se encontrar novamente com os Coríntios em tristeza.

• 2 Coríntios 5:14 – Paulo diz que podemos julgar - avaliar, perceber, entender, concluir - que Cristo morreu como nosso representante.

• Colossenses 2:16 – Os cristãos estão sujeitos a serem julgados por pessoas legalistas, mas não devem se submeter a este tipo de julgamento.

• Tito 3:12 – Paulo fala da sua decisão ou resolução de passar o inverno em Nicópolis.

• Tiago 4:11—12 – Tiago fala acerca do fato de que não devemos falar mal uns dos outros. Este é um dos aspectos negativos do ato de julgar no Novo Testamento. Quando falamos apenas mal de nosso próximo estamos fazendo um juízo temerário - arriscado, imprudente, perigoso - e que é totalmente condenável.

• Tiago 5:9 – Na mesma linha dos versos anteriores nos ensina que quando nos queixamos uns dos outros, especialmente por falta de paciência da nossa parte, estamos sujeitos ao julgamento de Deus.

A lista acima deixa bem claro que no Novo Testamento o ato de julgar vai muito além do nosso conceito moderno de passar sentença ou condenar simplesmente. Para os autores do Novo Testamento o que estava envolvido no uso da expressão grega κρίνο - kríno tinha tudo a ver com comparar, separar, fazer distinção, decidir, concluir, resolver, deliberar, discernir, avaliar, formar opinião etc. Ou seja, tinha tudo a ver com o uso das capacidades de pensamento e uso da razão visando nos permitir avaliar, criticar, discriminar e formar juízo.

Dentro desta perspectiva podemos afirmar, com certeza, que não era a intenção de Jesus ensinar que todo e qualquer tipo de julgamento deve ser evitado quando proferiu as palavras registradas em Mateus 7:1—6. À luz de como os autores do Novo Testamento entenderam e usaram a palavra grega κρίνο - kríno e baseados também no contexto de Mateus 7 podemos dizer, com grande certeza, que o que Jesus estava condenando era o julgamento superficial, desinformado, impulsivo, prematuro, partidário, apressado, impensado e abusivo. Este tipo de julgamento é proibido e completamente condenável. Jesus condena o julgamento pretensioso e hipócrita feito por uma pessoa que está cometendo os mesmos erros que está condenando. O leitor atento terá percebido que o autor citou Mateus 7:6 junto com os versículos que falam dos perigos do juízo temerário. Isto foi feito de propósito, pois como posso caracterizar alguém da maneira como descrita por Jesus se não exercitar minha capacidade de julgamento?

Neste momento gostaria de fazer uma pausa e abrir o espaço para que o médico e pastor, por mais de 30 anos, da Capela de Westminster em Londres na Inglaterra, o Dr. Martyn Lloyd-Jones, nos ensine acerca do que Jesus quis dizer em Mateus 7:1—6:

“Em Mateus 7 nós somos confrontados com uma declaração que, com freqüência, tem provocado intensa confusão. Deve-se admitir que está em pauta um assunto que facilmente pode ser mal compreendido quanto a dois aspectos opostos e extremos, e isso quase invariavelmente em casos verdadeiros. A pergunta que se faz necessária é a seguinte: Que quis dizer, precisamente, o Senhor Jesus, ao afirmar: “Não julgueis...”? Seria: “Não façam qualquer julgamento”? A melhor maneira de se dar resposta para esta indagação não consiste em folhear um dicionário. Meramente pesquisar sobre o significado do vocábulo “julgar” não nos pode satisfazer quanto a esse ponto. Essa é uma palavra que se reveste de muitas significações. Não se pode decidir a dúvida nesses moldes. Porém, é vitalmente importante que saibamos exatamente o que o Senhor Jesus quis dizer. Talvez nunca uma correta interpretação dessa injunção foi mais importante do que na época presente. Diferentes períodos da História da Igreja têm requerido diferentes ênfases e se me fosse perguntado qual é a necessidade hoje, a minha resposta seria que é a consideração criteriosa desta afirmação específica. Assim sucede porque a atmosfera inteira da vida moderna, especialmente nos círculos religioso, é de natureza tal que se tornou vital uma correta interpretação dessa asserção de Jesus. Estamos vivendo em uma época em que as definições não estão sendo levadas a sério, em uma época em que os homens têm aversão pelo raciocínio e odeiam a teologia, a doutrina e o dogma. Estamos vivendo em uma época caracterizada pela apreciação ao lazer e à transigência – “paga-se qualquer preço por uma vida sem conflitos”, conforme alguns dizem. Estamos em uma época de conciliações. Esse termo não é mais tão popular quanto já foi, no terreno da política internacional, mas a mentalidade que nele se deleita continua viva. Vivemos em uma época que não aprecia homens decididos, porquanto, segundo se costuma dizer, eles sempre causam dificuldades. Nossa época tem aversão por indivíduos que sabem no que acreditam, e que realmente acreditam em algo. Mas tais indivíduos são repelidos como pessoas difíceis, com as quais é “impossível a convivência”.

Tem havido épocas, dentro da História da Igreja, quando os homens foram elogiados por defenderem as suas idéias a todo custo. Mas isso já não acontece hoje em dia. Atualmente, homens assim são considerados difíceis, indivíduos que impõem aos outros a própria vontade, que não cooperam com seus companheiros e assim por diante. O tipo de homem que atualmente é elogiado é aquele que poderia ser descrito como “meio termo” ou “eqüidistante”, que jamais se coloca em qualquer extremo de uma posição. Pelo contrário, é um homem agradável a todos, que não cria dificuldades para ninguém, e nem é causador de problemas por causa de seus pontos de vista. Dizem-nos que a vida diária já é suficientemente difícil e complicada sem que precisemos assumir posição firme no tocante a qualquer doutrina em particular. Com certeza essa é a mentalidade de hoje, não constituindo exagero afirmarmos que essa é a mentalidade controladora. Em certo sentido, essa é uma atitude perfeitamente natural, porquanto já experimentamos inúmeras dificuldades, problemas e desastres. Por semelhante modo, é atitude bastante natural que as pessoas evitem os indivíduos dotados de pontos de vista firmes, que sabem o que estão defendendo, porque todos preferem viver de maneira descontraída e pacífica.

Em uma época como a nossa, reveste-se da máxima importância que sejamos capazes de interpretar corretamente essa declaração acerca do ato de julgar, porquanto há muitos que asseveram que as palavras “não julgueis” precisam ser compreendidas simples e literalmente como elas estão, como se indicasse que o crente verdadeiro jamais expressa uma opinião sobre outra pessoa. Esses homens afirmam que não se deve exercer juízo algum porquanto deveríamos ser suaves, indulgentes, e tolerantes, permitindo quase qualquer coisa em troca da paz e da concórdia e, especialmente, da unidade. Essa não é a hora certa para juízos, dizem eles; o de que precisamos agora é de unidade e companheirismo. Todos deveríamos ser um.

Levanta-se, pois, a pergunta: é possível esta interpretação? Em primeiro lugar, sugiro que esta interpretação é impossível. Todavia, se nos alicerçarmos sobre os próprios ensinamentos bíblicos veremos que tal interpretação não tem razão de ser. Consideremos o próprio contexto dessa afirmação, e certamente veremos que esta interpretação das palavras “não julgueis” é inteiramente descabida. Leia Mateus 7:6 – “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés, e, voltando-se vos dilacerem”. Como poderia eu pôr em prática essa recomendação do Senhor se me fosse vedado exercer juízo? Como eu poderia identificar o individuo do titulo descritivo “cão” se eu não pudesse fazer juízo nenhum a seu respeito? Em outras palavras, a injunção que se segue imediatamente após essa declaração sobre o “não julgar” de imediato me pede que exerça juízo e discriminação. Mas também poderíamos tomar um contexto mais remoto tal como Mateus 7:15 – “Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores”? Como poderíamos entender esta injunção? Como poderei “acautelar-me dos falsos profetas” se não puder pensar, se eu tiver tanto receio de fazer juízo critico que jamais possa fazer uma avaliação dos ensinamentos de alguém? Esses falsos profetas, além disso, se nos apresentam vestidos de em “peles de ovelhas”, o que equivale a dizer que são extremamente melífluos e empregam a terminologia cristã. Parecem pessoas inofensivas, honestas, e invariavelmente, mostram-se muito “gentis”. Entretanto, não nos devemos deixar enganar pelas suas atitudes estudadas, acautelemo-nos diante de gente dessa ordem. Nosso Senhor também diz: “Pelos seus frutos os conhecereis...” (Mateus 7:16). Porém, se eu não puder usar qualquer critério, e nem exercer minha capacidade de discriminação, como poderei testar a autenticidade desses frutos e determinar entre o que é certo e o que é errado? Por conseguinte, sem necessidade de elaborarmos o nosso argumento, afirmamos a interpretação não pode ser verdadeira quando sugere que as palavras de Jesus “não julgueis”, recomendam que sejamos pessoas caracterizadas por uma atitude frouxa e indulgente, diante de qualquer individuo que use o nome de “cristão”. Tal interpretação é inteiramente impossível.

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Temos nesse trecho bíblico o problema dos falsos profetas, para o qual o Senhor Jesus chamou a nossa atenção. Espera-se de nós que possamos detectá-los e evitá-los, porém, isso é impossível sem o conhecimento da doutrina, e sem o exercício desse conhecimento em juízo.

Esta interpretação do Dr. Lloyd-Jones é coerente com inúmeras outras consultadas pelo autor que incluem, mas não estão limitadas, às interpretações de:

• Albert Barnes – Presbiteriano, escreveu extensa obra, 14 volumes, chamada de “Notes” no Antigo e Novo Testamentos.

• Adam Clarke – Metodista contemporâneo de João Wesley. Escreveu comentário de toda a Bíblia.

• Arthur K. Robertson – Aliança Cristã e Missionária e pastor da Igreja na cidade de White Plains em New York.

• John Gill – Batista que escreveu um comentário da Bíblia inteira publicado em 1763.

• Robert H. Gundry – Reformado, professor emérito de Novo Testamento no Westmont College em Santa Bárbara, CA.

• William Hendriksen – Reformado, escreveu um massivo e contemporâneo comentário em todo o Novo Testamento. Devido à morte de Hendriksen, sua obra foi terminada pelo professor Simon Kistemaker.

• Matthew Henry – Não conformista (puritano), escreveu o primeiro comentário de toda a Bíblia.

• J. Newton Davis – Metodista, professor de Literatura e Exegese do Novo Testamento na Drew University em Madison em New Jersey.

• Robert Jamieson , A. R. Fausset e David Brown, - Reformados, escreveram, no século XIX, um comentário acadêmico de toda a Bíblia.

• A. T. Robertson – Batista, professor de Interpretação do Novo Testamento Southern Baptist Theologica Seminary em Louisville no Kentuky.

No Apêndice B o leitor poderá encontrar as citações originais como aparecem indicadas na notas de referência.

CONCLUSÃO

Creio que ficou amplamente comprovado que é errado dizer que Jesus ensinou que não se deve julgar em nenhuma hipótese e sob nenhum pretexto. Jesus nunca ensinou isso. O ensino de Jesus e de todos os outros escritores do Novo Testamento é consistente com a verdade de que não somente temos a permissão e o direito como estamos sobre a obrigação de avaliar – julgar - qualquer reivindicação humana à luz da verdade, pois como disse o apóstolo Paulo “nada podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade – 2 Coríntios 13:8”.

Que Deus abençoe a todos.

Alexandros Meimaridis 

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Desde já agradecemos a todos.


APÊNDICE A

A seguir o leitor irá encontrar as definições em português das expressões hebraicas שָׁפָּט – shapat /yD – din e מִשְׁפָּט – mishpat como apresentadas na concordância exaustiva de James Strong.

1. Strong # 08199 שָׁפָּט – shapat

Uma raiz primitiva; ver Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento # 2443.

1) Julgar, governar, vindicar, punir.
1a) No Qal - Qal é o paradigma verbal mais freqüentemente empregado. Expressa a ação "simples" ou "causal" da raiz na voz ativa.
1a1) Agir como legislador ou juiz ou governador (referindo-se a Deus, homem).
1a1a) Administrar, governar, julgar.
1a2) Decidir controvérsia (referindo-se a Deus, homem).
1a3) Executar juízo.
1a3a) Discriminando (referindo-se ao homem).
1a3b) Vindicando.
1a3c) Condenando e punindo.
1a3d) No advento teofânico para juízo final.
1b) Nifal – Expressa o Passivo Simples
1b1) entrar em controvérsia, pleitear, manter controvérsia
1b2) ser julgado
1c) Poel
1c1 juiz, oponente em juízo (particípio)

2. Strong # 04941 מִשְׁפָּט – mishpat

Procedente de Strong # 08199; ver Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento # 2443c.

1) Julgamento, justiça, ordenação.
1a) Julgamento.
1a1) Ato de decidir um caso.
1a2) Lugar, corte, assento do julgamento.
1a3) Processo, procedimento, litigação (diante de juízes).
1a4) Caso, causa (apresentada para julgamento).
1a5) Sentença, decisão (do julgamento).
1a6) Execução (do julgamento).
1a7) Tempo (do julgamento).
1b) Justiça, direito, retidão (atributos de Deus ou do homem).
1c) Ordenança.
1d) Decisão (no direito).
1e) Direito, privilégio, dever (legal).
1f) Próprio, adequado, medida, aptidão, costume, maneira, plano.

3. Strong # 01777 /yD – din

Uma raiz primitiva; ver Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento # 426.

1) Julgar, contender, pleitear.
1a) (Qal)
1a1) Agir como juiz, ministrar julgamento.
1a2) Pleitear uma causa.
1a3) Executar julgamento, retribuir, vingar.
1a4) Governar.
1a5) Contender, lutar.
1b) (Nifal) Estar em luta, em desavença.

A seguir o leitor irá encontrar as definições em português das expressões gregas κρίνο - kríno, ἀνακρίνο - anakríno e διακρίνω - diakríno como apresentadas na concordância exaustiva de James Strong.

1. Strong # 2919 κρίνο - kríno

Talvez uma palavra primitiva. Ver The Theological Dictionary of the New Testament.

1) Separar, colocar separadamente, selecionar, escolher.
2) Aprovar, estimar, preferir.
3) Ser de opinião, julgar, pensar.
4) Determinar, resolver, decretar.
5) Julgar.
5a) Pronunciar uma opinião relativa ao certo e errado.
5a1) Ser julgado, i.e., ser chamado \a julgamento para que o caso possa ser examinado e julgado.
5b) Julgar, sujeitar \a censura.
5b1) Daqueles que atuam como juízes ou árbitros em assuntos da vida comum, ou emitem julgamento sobre as obras e palavras de outros.
6) reinar, governar
6a) Presidir com o poder de emitir decisões judiciais, porque julgar era a prerrogativa dos reis e governadores.
7) Contender juntos, de guerreiros ou combatentes.
7a) Disputar.
7b) Num sentido forense.
7b1) Recorrer \a lei, processar judicialmente.

2. Strong # 350 ἀνακρίνο - anakríno

1) Examinar ou julgar.
1a) Investigar, examinar, verificar, analisar cuidadosamente, questionar.
1a1) Especificamente num sentido forense no qual um juiz conduz uma investigação.
1a2) Interrogar, examinar o acusado ou testemunha.
1b) Julgar de, estimar, determinar (a excelência ou defeitos de alguma pessoa ou coisa.

3. Strong #1252 διακρίνω - diakríno

1) Separar, fazer distinção, discriminar, preferir.
2) Aprender por meio da habilidade de ver diferenças, tentar, decidir.
2a) Determinar, julgar, decidir um disputa.
3) Fugir de alguém, desertar.
4) Separar-se em um espírito hostil, opor-se, lutar com disputa, contender.
5) Estar em divergência consigo mesmo, hesitar, duvidar.


APÊNDICE B

Citações literais dos autores mencionados acerca dos comentários referentes a Mateus 7:1—6.

• Albert Barnes - This command refers to rash, censorious, and unjust judgment.

• Adam Clarke - These exhortations are pointed against rash, harsh, and uncharitable judgments, the thinking evil, where no evil seems, and speaking of it accordingly.

• Arthur Robertson – A correct motive in making judgment is crucial to the servant of the King. It is necessary do discriminate, but to be hypercritical is wrong. That some form of judgment is necessary is made clear by Matthew 7:6.

• John Gil - This is not to be understood of any sort of judgment but of rash judgment, interpreting men's words and deeds to the worst sense, and censuring them in a very severe manner; even passing sentence on them, with respect to their eternal state and condition.

• Matthew Henry - We must not judge rashly, nor pass such a judgment upon our brother as has no ground, but is only the product of our own jealousy and ill nature. We must not make the worst of people, nor infer such invidious things from their words and actions as they will not bear. We must not judge uncharitably, unmercifully, nor with a spirit of revenge, and a desire to do mischief. We must not judge of a man's state by a single act, nor of what he is in himself by what he is to us, because in our own cause we are apt to be partial. Because we must not judge others, which is a great sin, it does not therefore follow that we must not reprove others, which is a great duty, and may be a means of saving a soul from death; however, it will be a means of saving our souls from sharing in their guilt.

• Robert H. Gundry – But what kind of judging by a professing disciple falsifies his profession and draws eternal punishment from God? It is judging a fellow disciple out of self-righteousness, i. e. in a way that shows failure to surpass de ostentatious righteousness of the scribes and Pharisees.

• William Hendriksen – Just what did the Lord mean when He said, “Judge not”? Did he mean that all manner of judging is absolutely and without any qualification forbidden, so that with respect to the neighbor we are not allowed to for and/or express any opinion whatever… In light of what Jesus himself says in this very paragraph (Matthew 7:6), where he implies that we must regard certain individuals as being dogs, and hogs and of John 7:24; cf. 1 Cor. 5:12; 6:1 – 5; Gal. 1:8,9; Phil. 3:2; I Thess. 2:14, 15; I Tim. 1:6,7; Titus 3:2, 10; I John 4:1; II John 10; III John 9, and a good many other passages that could be added, it is clear that no such wholesale condemnation of forming an opinion about a person and expressing it can have been intended.

• J. Newton Davis - No debe interpretarse estas palabras en el sentido de que debemos cerrar nuestros ojos a los defectos morales de nuestra época.

• Jamieson, Fausset and Brown - To “judge” here does not exactly mean to pronounce condemnatory judgment, nor does it refer to simple judging at all, whether favorable or the reverse. The context makes it clear that the thing here condemned is that disposition to look unfavorably on the character and actions of others, which leads invariably to the pronouncing of rash, unjust, and unlovely judgments upon them. No doubt it is the judgments so pronounced which are here spoken of; but what our Lord aims at is the spirit out of which they spring. Provided we eschew this unlovely spirit, we are not only warranted to sit in judgment upon a brother’s character and actions, but in the exercise of a necessary discrimination are often constrained to do so for our own guidance. It is the violation of the law of love involved in the exercise of a censorious disposition which alone is here condemned. And the argument against it - “that ye be not judged” - confirms this: “that your own character and actions be not pronounced upon with the like severity”; that is, at the great day.

• The People’s New Testament - What he designs to prohibit is rash, uncharitable judgments, a fault-finding spirit, a disposition to condemn without examination of charges.

• A. T. Robertson – The habit of censoriousness, sharp, unjust criticism. Our word critic is from this very word. It means to separate, distinguish, discriminate. That is necessary, but prejudice (prejudgment) is unfair, captious criticism.

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